Como a queda do dólar pode impactar o seu bolso
Cotação da moeda americana atingiu patamar mais baixo desde junho de 2020. Na terça (15), fechou em R$ 5,05
Em tendência de queda nas últimas semanas, o dólar atingiu patamar abaixo de R$ 5 nesta quarta-feira (16) pela primeira vez desde junho de 2020. Na cotação do dia, no entanto, a moeda americana fechou com alta de 0,32% chegando a R$ 5,05. Mas como esta tendência de desvalorização pode impactar o bolso dos consumidores?
Conforme o economista Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon), a taxa deve influenciar os preços das mercadorias importadas, como o petróleo e derivados, o trigo e outros produtos eletroeletrônicos.
Veja também
“Pode ajudar numa manutenção ou queda do preço do combustível mais à frente. Na semana passada, por exemplo, a Petrobras anunciou redução de quase 2% no preço da gasolina, o que já é reflexo da queda do câmbio”.
Com isso, é possível que além da gasolina, o pão carioquinha, por exemplo, reduza de preço, caso a tendência de queda se mantenha.
Reposição de lucros
No entanto, o economista Allison Martins alerta que a queda dos preços de produtos influenciados pelo dólar pode não acontecer, especialmente no atual cenário econômico. "As margens de lucro dos empresários foram fortemente afetadas com a pandemia e essa é a hora de tentar recompor os caixas”, detalha.
“Acho difícil uma queda de preço significativa, pode ser que tenhamos, na verdade, um crescimento mais comportado. Caso tenha elevação, será de uma forma mais conservadora”.
O economista Alex Araújo também avalia que outros fatores influenciam nos custos das mercadorias e podem anular os benefícios da queda do preço do dólar, como a forte valorização das commodities.
“Há uma inflação em produtos como minérios, proteínas animais e grãos, por conta da elevada demanda global, o que afeta principalmente alimentos e materiais de construção. Além disso, temos a disfunção entre oferta e demanda de industrializados, como veículos e eletrônicos”, afirma.
O que influencia a queda do dólar
A forte depreciação do real em relação a outras moedas estrangeiras foi observada até meados de março, quando o dólar atingiu R$ 5,79. “O movimento de valorização do dólar acompanhou a progressão da pandemia, sendo entendido até como uma das alternativas de investimento seguro em tempo de crises mais sérias”, pontua Araújo.
“À medida que a vacinação avança no mundo e a economia de muitos países retorna à normalidade, os recursos voltam a circular e os investidores se desfazem do dólar, fazendo com que seu preço caía”.
Com taxas de juros mais altas - conforme Coimbra, a Selic deve chegar a 6,25% ainda neste ano - e mais dólar entrando no País, a tendência é que haja essa queda. "Essa tendência de juros aumentados é grande, o que pode fazer com o que o patamar da taxa de câmbio caia”.
Tendência nos próximos meses
Ainda na quarta, o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou a terceira alta consecutiva da Selic de 3,5% ao ano para 4,25%.
Martins reforça essa perspectiva: “os ativos no Brasil estão muto baratos comparados com o resto do mundo. Para o médio longo prazo, acredito que continue caindo e é mais provável que fique abaixo de R$ 5”.
O economista ressalta ser preciso analisar outros fatores também, como a situação macroeconômica, que vem respondendo de uma forma que contribui com a queda.
No relatório Focus, do Banco Central (BC), as expectativas apontam que o câmbio do dólar deve terminar o ano de 2021 em R$ 5,18. O valor mínimo, projetado pelo mercado mais recente, foi de R$ 4,70 para encerrar o ano de 2021 e R$ 4,00 para 2022.