Combustíveis têm tendência de alta dos preços até o fim do ano, avalia Bruno Iughetti
Diálogo Econômico desta semana entrevista o consultor da área de petróleo e gás, que elogiou estratégia da Petrobras de privatizar ativos estratégicos, incluindo a Lubinor, no Ceará, para alavancar o mercado cearense
Com as economias pelo mundo em recuperação, as perspectivas para os preços dos combustíveis no Brasil deverão se manter em viés de alta. Segundo o consultor da área de petróleo o gás, Bruno Iughetti, o mercado nacional já conta com um bom nível de competitividade, mas ainda precisa evoluir em algumas questões de legislação.
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Em entrevista ao Diário do Nordeste, Iughetti elogiou o novo modelo de preços adotado pela Petrobras em 2017 e ressaltou a importância de a estatal focar em estratégias que possam potencializar áreas específicas da empresa, mantendo a política de venda de atividades no Ceará e no Brasil.
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Confira a entrevista completa:
Quais as perspectivas para o mercado de combustíveis no País considerando que temos o mundo se recuperando da pandemia, o que causa pressão no preço das commodities? Devemos esperar novas altas em breve para a gasolina e o diesel?
Com certeza, é a lei da oferta e da procura. A economia está se restabelecendo e, consequentemente, já se nota altas significativas no custo do petróleo cru e sem depender necessariamente da variação cambial.
Acredito que, até o final do ano, nós teremos ainda algumas altas de preço para essas commodities, como gasolina e diesel.
Considerando os altos preços dos combustíveis no Brasil, como o senhor avalia a atual dinâmica de preços da Petrobras? Ainda faz sentido para o mercado local?
A política de preços da Petrobras faz sentido porque é uma política empregada pelos Estados Unidos e a maioria dos países europeus.
O que há é a necessidade de realmente fazer valer os resultados de binômio, em que se pesa o preço do petróleo cru e, também, a variação cambial.
Na minha opinião, isso não está ocorrendo como deveria porque nós tivemos um aumento significativo do petróleo na semana passada e isso não foi levado em consideração pela Petrobras, o que coloca em risco a credibilidade do sistema.
Avaliando que o mundo está migrando para fontes de energia diferentes, como energia solar, hidrogênio verde e até os carros elétricos, como o senhor avalia a situação da indústria do petróleo no Brasil nas próximas décadas?
O Brasil é um país abençoado desse particular de combustíveis alternativos e naturais. Nós somos um dos maiores produtores de gás natural, que é uma fonte bem menos poluente do que o petróleo cru, do que a gasolina e o diesel.
Além disso, nós temos, também, esse efeito de encontrarmos alternativas de usar o etanol hidratado para uso dos veículos, e estamos com prenuncias de fabricação em escala de veículos elétricos.
Então, eu vejo agora o hidrogênio também, muito otimismo. E o País, o Brasil, pode ser um dos alavancadores mundiais do pelo uso desses combustíveis alternativos.
Mas a utilização do petróleo não vai se encerrar no curtíssimo prazo. O mundo ainda pelo menos até 2050 é extremamente dependente de petróleo. Então, eu acredito que ainda haverá espaço para a produção do petróleo, principalmente no projeto e no programa do pré-sal.
Como o senhor avalia também as disposições da Petrobras em privatizar ativos no Ceará e no resto do Brasil? Isso pode ajudar também a reduzir preços nos postos ao consumidor?
Veja bem, isso é uma coisa que não tem nada a ver com a outra. A venda de ativos faz parte de um programa da Petrobras que visa a concentração dos seus investimentos na exploração offshore de petróleo, ou seja, no pré-sal. E ela está se desfazendo de todos os ativos que não sejam a finalidade fim dela.
Nós estamos falando da venda do restante da participação da Petrobrás Distribuidora, no caso a venda remanescente de cerca de 37% e demais ativos, tipo as plantas de produção de biodiesel, que infelizmente não deram resultado esperado. A Petrobras está adotando uma política de seletividade de investimentos, e evidentemente optando por aqueles que são mais interessantes em termos de retorno sobre o investimento, que é como é tratado a exploração do pré-sal.
Eu concordo com esse posicionamento de privatizar alguns ativos da Petrobras, porque o fato da empresa estatal abrir mão de certos ativos, como ela própria define que não é parte da atividade fim dela, não significa que são ativos que deixarão de existir.
Existem outras empresas, principalmente na exploração dos campos de petróleo de baixa produção, que se interessam por esses termos de exploração de petróleo, e que devem assumir esses ativos para dar sequência à produção, a exemplo da Lubnor (Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste) também, que é outra empresa que está no radar da Petrobras para ser vendida.
E isso não significa que a Lubnor encerrará as atividades, pelo contrário. A empresa vencedora da licitação terá uma oportunidade de dinamizar ainda mais as suas operações. Então, eu vejo tudo isso com muito otimismo e benefício da política de petróleo no Brasil.
Há anos, no Estado, questiona-se um comportamento atípico do mercado cearense em que os postos estariam estabelecendo preços no mesmo patamar, algo que poderia prejudicar o preço final ao consumidor. O senhor concorda com essa visão? Como o senhor avalia o mercado de postos no Estado?
Eu não concordo com essa hipótese de cartelização. Eu acho que os postos trabalham de acordo com a margem que possa cobrir os seus custos. A variação de preços, realmente, de combustíveis e da gasolina é muito pequena em função justamente da volatilidade desses produtos. Então, eu não acredito que exista a cartelização.
Existe, sim, uma diferença, mesmo que seja pequena, para aqueles poços que operam com mais ou menos eficiência, ou seja, aqueles se dão ao luxo de redução de preços ou de igualá-los à maioria. Veja que esse efeito da pandemia se faz notar também nos postos, porque o consumo tem caído significativamente e com isso, obviamente, há uma consequência direta no preço dos produtos.
Portanto, eu não posso concordar com a hipótese de cartelização, isso não é prática que os postos adotam no Ceará, pelo contrário, o que existe é a competitividade sadia.
O País passou por uma crise por conta da dependência do modal rodoviário e foram criados mecanismos de incetivos aos caminhoneiros naquela época. O senhor concorda com esses incentivos? Acha que são importantes para se evitar futuras crises?
Veja bem, o que a gente nota é que a questão do preço do diesel, principalmente, é uma questão muito política que está sendo tratada de forma muito política, quando não se deveria.
O Governo já patrocinou mecanismos para redução de preço que foi a eliminação temporária do PIS e do Cofins, mas que são insignificantes dentro do preço cheio de combustíveis.
Acredito eu que o Governo deve buscar meios para que a gente possa, de certa maneira, minimizar os efeitos dessa manutenção elevada de preços.
Com relação aos caminhoneiros e ao transporte rodoviário, é bom que se frise que esse é o transporte campeão dentre dos modais de transporte brasileiro. Cerca de 60% do que é transportado no Brasil é transportado por meio de caminhões. Evidentemente isso produz algum efeito sobre o ICMS em relação ao diesel consumido pelas empresas de transportes.
Qual a avaliação do mercado de petróleo no Brasil? O País ainda precisa evoluir muito em legislação para se tornar competitivo internacionalmente? E como o Ceará se coloca nesse cenário?
Eu avalio que nós nos encontramos no caso Brasil, e por consequência o Ceará, eu nós estejamos num patamar muito bom em ter uma política de preços e de investimentos.
Obviamente que a regulamentação precisa ser aprimorada para nos deixar bastante competitivos, que, aliás, já somos hoje, com um certo grau de competitividade satisfatório. Não é o ideal ainda, haja vista que nós exportamos petróleo cru e o excedente de gasolina para o mercado americano e europeu.
Então, vejo que nós podemos melhorar ainda mais, principalmente as condições de regulamentação do setor, criando regras mais justas e que incentivem os novos investimentos nessa área.