Polo Automobilístico: esperança está com Elmano na China

Governador do Ceará tem agenda de reuniões com executivos de empresas chinesas do setor automobilístico. E pode trazer boas notícias de Pequim.

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 09:23)
Legenda: O Polo Automobilístico de Horizonte começará ocupando os galpões nos quais funcionou a antiga fábrica dos jipes Troller, da Ford
Foto: Thiago Gadelha
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Está na China o governador Elmano de Freitas. Ele cumpre, com o secretário de sua Casa Civil, Chagas Vieira, uma agenda de reuniões com dirigentes e executivos de empresas industriais do setor automobilístico chinês. Essas reuniões acontecem em Shangai, onde se realiza a maior feira mundial do setor -- a Auto Shangai.

O objetivo da viagem é atrair empresas da China para o futuro Polo Automobilístico de Horizonte – idealizado pela Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece) para ser um Polo Multimarcas.

Há uma grande expectativa no Palácio da Abolição e no município de Horizonte, cuja sede está localizada 52 quilômetros ao Sul desta Capital, em torno do que anunciará Elmano de Freitas no seu retorno da Ásia.

Fontes muito bem-informadas sobre os contatos do governador com os chineses apostam que ele “trará boas notícias” para o Polo Automobilístico de Horizonte. Antes de viajar para a China, na véspera da Semana Santana, Elmano de Freitas já havia sido informado do seu roteiro, dos seus contatos e de suas visitas. O Polo de Horizonte – se vingarem os entendimentos que se desenrolam com os chineses – abrigará, para começar, uma montadora de automóveis híbridos e elétricos. É a aposta.

Esta informação está sendo divulgada no mesmo instante em que, na Bahia, a famosíssima chinesa BYD – uma das gigantes da fabricação de carros elétricos – parece querer driblar o governo e o povo baianos. Segundo a edição deste mês de abril da revista Autodata, “enquanto promete – e até agora não cumpre – produção nacional e milhares de empregos em Camaçari (Bahia), a empresa (BYD) manobra para reduzir por três anos a tarifa de importação sobre partes de carros e picapes que vêm para serem apenas montados no País”!

Build Your Dreams (BYD) quer dizer, em português, Construa Seus Sonhos. Os baianos estão sonhando há quase dois anos com a fábrica chinesa, que consumirá – se e quando estiver pronta – algo do tamanho de R$ 5,5 bilhões.  O que foi prometido para dezembro do ano passado – o início das obras de construção da fábrica – permanece sendo uma promessa. Nada foi feito. A Autodata insinua: que quer mesmo a BYD é a redução da alíquota do Imposto de Importação incidente sobre as partes dos automóveis a serem importadas da China para montagem em Camaçari. Um negócio da China... para os chineses.

Ampliam-se as preocupações dos baianos à medida em que se aprofundam as divergências dos governos dos Estados Unidos e da China por causa das tarifas recíprocas. Washington segue de olho bem aberto as exportações de Pequim, que, de acordo com o próprio presidente Trump, está triangulando suas vendas para os EUA, utilizando o Vietnã e o Camboja como portos de passagem: as mercadorias chinesas estariam sendo importadas pelos cambojanos e vietnamitas e, em seguida, exportadas para os portos norte-americanos, livrando-se da tarifa de 145% imposta por Trump a tudo o que chega aos EUA vindos da China.

Quando o Polo Automobilístico de Horizonte, no Ceará, foi oficialmente lançado no dia 9 de agosto do ano passado, a ideia anunciada foi a de que ele ocupará a área antes ocupada pela Ford, absorverá cerca de R$ 400 milhões em investimento e criará 255 empregos diretos na primeira fase, como informou um release distribuído pelo governo cearense.

Pelo reduzido número de empregos, estima-se – levando-se em conta o que se passa com a BYD na baiana Camaçari – que a primeira indústria automobilística a ser anunciada para o Polo de Horizonte será uma montadora, que, provavelmente, requererá – com justa razão e apoiada na legislação – todo o cardápio de incentivos fiscais que o governo estadual garante às empresas que investem aqui. Tudo normal, porque tudo faz parte da guerra fiscal entre os estados que, enquanto não chega a Reforma Tributária, mantêm o esforço pela atração de investimentos, cada um a seu modo.

Esta coluna torce muito para que esta nova viagem do governador Elmano de Freitas à China produza os resultados esperados. Nesta altura do campeonato, o que o Ceará mais precisa é de novos investimentos, privados e públicos. Há só um problema: neste momento, falta mão de obra qualificada para a indústria e, também, para o agro. A que existe – para tarefas rudimentares – está fielmente atrelada ao programa Bolsa Família, que remunera o trabalhador e sua ociosidade na cidade e no campo.