Campeão em produção de camarão, cera de carnaúba e coco: o que explica o sucesso do agro no Ceará?
Estado avança também em produtos como mel de abelha e leite de vaca, ganhando destaque no cenário nacional
Enquanto alguns cultivos mínguam no Ceará, como a cana-de-açúcar, outros seguem valorizados e ganhando destaque. Camarão, cera de carnaúba e coco são algumas das produções da qual o Estado é líder nacional, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a 2023.
Além dos três itens, o Ceará ainda tem bons números nas produções de leite de vaca, mel de abelha e ovos de codorna, por exemplo. Os resultados agropecuários, inclusive, foram destaques no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado do segundo trimestre de 2024. Entre abril e junho, o crescimento foi de 32,5% na comparação com o mesmo período do ano anterior, mais do que qualquer outra atividade econômica.
Para os meses seguintes, a tendência é de crescimento contínuo nessas culturas, além de que novas podem se destacar, conforme projeções feitas pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Ceará. Na prática, o que explica esse sucesso da agropecuária cearense? Especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste tentam explicar os motivos.
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Aproveitamento do solo e localização geográfica justificam produção
Para o secretário-executivo do Agronegócio da SDE, Silvio Carlos Ribeiro, o Ceará já tem ótima posição geográfica no mapa mundial. Apesar de "não termos boas chuvas nem excelentes solos como no Sudeste e Sul" do País, a incidência solar e o melhor aproveitamento dos recursos hídricos são pontos de destaque para a agropecuária.
"Temos condições muito boas para produzir no setor agropecuário, seja na agricultura, na pecuária, na aquicultura. Primeiro, a gente tem uma localização muito boa no Atlântico, que tem uma condição de iluminação solar muito boa. Isso permite uma produtividade maior do que na maioria das regiões do Brasil para diversas atividades", ressalta.
"Segundo, quando crio um animal aqui, por exemplo, temos condições sanitárias melhor do que em regiões mais frias. Quando produzimos uma fruta aqui, ela tem teor de açúcar muito maior do que qualquer região do País", enumera o especialista.
Somente o camarão produzido no Ceará, mesmo com a concorrência do produto do Equador, é responsável por quase 60% de tudo o que é gerado no Brasil. No leite de vaca, a cidade de Morada Nova é a segunda maior produtora do Nordeste, e o Estado já ocupa o ranking dos dez maiores produtores nacionais.
Temos um Sol abundante e condições de clima favoráveis. No camarão, mais da metade do que é produzido no Brasil, vem do Ceará. Mel de abelha, leite, produção de frutas, além de boas condições sanitárias, em segundo. Além disso, a localização estratégica no Atlântico facilita a exportação para a Europa, Estados Unidos e possuímos infraestrutura portuária boa e moderna.
Já conforme João Mário de França, professor do programa de pós-graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), os últimos dois anos tiveram bons índices de chuva no território cearense, o que contribuiu, principalmente no caso do coco, para bons índices tanto no IBGE quanto no PIB.
"As chuvas desse ano na quadra invernosa tiveram um efeito positivo nas atividades agrícolas. O volume de água armazenado até junho representava 56% do total da capacidade do Estado. (…) Nas frutas, as contribuições mais importantes nessa expansão foram do coco-da-baía, banana, acerola, goiaba e mamão. A pecuária contribuiu também com seu crescimento (apesar de mais modesto) puxado por suínos e galináceo", expõe.
Horizonte apontando para crescimentos
De acordo com Sílvio Carlos, o Ceará tem potencial para aumentar a participação da agropecuária no PIB estadual, pois "produzimos pouco para o potencial que temos". Para ele, é preciso aumentar plantios irrigados e dar maior valor agregado às produções agrícolas, bem como desenvolver novas técnicas para a pecuária.
"A gente tem aproximadamente 80 mil hectares irrigados. Em potencial de irrigação, podemos triplicar esse número. A gente tem uma perspectiva de crescimento muito alta no agro cearense. O grande gargalo é o recurso hídrico, mas menos do que no passado. Hoje permite-se essa expansão. No futuro, com a transposição do São Francisco e opções de água subterrânea, vão permitir uma transferência de água além do que existe", declara.
O professor João Mário França frisa que a agropecuária, atualmente, fica atrás de comércio e serviços (76,7%) e da indústria (18,1%) na participação do PIB cearense. Apesar disso, o crescimento é importante, principalmente em culturas consolidadas e culturalmente atreladas ao Ceará, como a cera de carnaúba.
"O setor agropecuário teve uma expansão significativa no segundo trimestre. A contribuição do PIB do Estado, no entanto, ainda é relativamente modesta quando comparada as contribuições dos setores dos serviços (principalmente) e indústria, no entanto, seu peso na participação do PIB estadual vinha aumentando, passando dos 6% a partir de 2021", diz.
Essas situações evidenciam que o desafio na agropecuária, conforme Sílvio Carlos, é grande, mas pelo menos três passos podem ser adotados para destacar o Ceará no setor: aumentar a produtividade, abrir o mercado para novas culturas e também para investimentos externos.
Onde produzo que tem um valor agregado e se trago uma cultura com valor agregado maior, tenho aumento do valor bruto da produção. Culturas novas estão chegando e estamos estimulando. Temos falado muito do mirtilo, avocado hass (tipo de abacate), temos produzido cacau com banana, cafés especiais e de alto valor agregado, pitaya, maracujá. Hoje a cultura que tem maior valor de produção e com uma área bem pequena é o tomate, e a gente pode produzir mais e ter maior valor agregado.
"Essas culturas vão propiciar, em um futuro próximo, o aumento grande do valor bruto da produção. Temos ainda que atrair investidores ou incentivar os produtores. Temos que abrir mercados, fazer essa interlocução com outros países e aproveitar a logística que temos", completa.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, celebra o que chama de "união dos produtores rurais": "Está começando a acontecer um planejamento para quem vai produzir, e colabora muito com o desenvolvimento do agronegócio", e projeta quais culturas vão continuar se desenvolvendo.
"Tem alguns setores que vão se sair melhor. A carcinicultura tem crescido muito, a pecuária de leite vai continuar crescendo e os grãos vão melhorar. A expectativa para os próximos cinco anos é de que o algodão cresça, e o se o Governo permitir avançarmos nos perímetros irrigados, vamos avançar muito na fruticultura", vislumbra.