Brasil ainda corre risco de apagão e racionamento de energia? Entenda
A falta de chuvas no ano passado levou ao acionamento da bandeira escassez hídrica, que deve durar até abril. Para especialistas, mecanismo não deve ser reacionado
O País passou ano passado por uma crise hídrica, o que afetou a produção de energia elétrica e fez pesar a conta de luz. A falta de chuvas para movimentar as hidrelétricas levou à necessidade do acionamento das termelétricas, que têm um custo mais alto.
Para repassar a conta para o consumidor e evitar reajustes expressivos na conta de luz este ano, foi criada a bandeira escassez hídrica, que estabelece uma cobrança adicional a cada 100 kWh consumidos. A taxa tem previsão de sair de vigor a partir de abril deste ano.
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E, segundo especialistas consultados pelo Diário do Nordeste, a cobrança não deve ser renovada. Com um regime de chuvas acima da média até este momento do ano e reservatórios voltando ao nível normal, o país afasta o risco de ter apagão ou racionamento de energia no curto prazo.
Contudo, é necessário seguir investindo em fontes de energia renováveis para evitar novas crises no futuro.
Crise energética
Para o cientista chefe em energia da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico (Funcap) e professor do departamento de engenharia elétrica da UFC, Fernando Antunes, a crise energética que o país teve no ano passado já passou.
As chuvas deste ano ficaram, inclusive, acima do esperado, com enchentes em estados como Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Segundo ele, é necessário ainda esperar para ver o comportamento dos reservatórios em julho e agosto, períodos de seca.
“Não acredito que se possa estar discutindo problema de escassez porque tem chovido bastante, o São Francisco inclusive está vertendo. Não vejo possibilidade de racionamento, não tem muito sentido agora. Há uns dois ou três meses até teria, mas agora não”, diz.
O professor especialista da Fundação da Liberdade Econômica, Ricardo Caldas, defende que não ocorre no momento uma crise energética, mas sim uma transição de matriz.
Ele contextualiza que o maior problema no momento é o encarecimento do petróleo, combustível o qual o país ainda é muito dependente.
Eu via no ano passado um risco [de racionamento], esse ano não vejo esse risco porque os reservatórios estão em um bom nível no país inteiro. Não vejo possibilidade de falta da mercadoria, mas o que acontece é um encarecimento progressivo da rede do petróleo
O professor acentua que, caso o país chegue a precisar realizar um racionamento, a região Sudeste seria a primeira afetada. “Eles pressionam mais pelo consumo. Então se houver a possibilidade de um racionamento, teria que começar por lá”, explica.
Transição de matriz energética
Caldas explica que a solução para futuros problemas de fornecimento de energia está na transição da matriz energética para fontes renováveis. Esse processo, além de lento, envolve grandes investimentos.
“A solução seria substituir o petróleo, mas ninguém conseguiu fazer isso ainda e as soluções que apareceram não agradam todos ainda. Solar, eólica e hidrelétrica cada uma tem vantagens e desvantagens, mas a maior desvantagem é o custo”, ressalta.
Fernando Antunes aponta que o problema que o país passou no ano passado só se deu por não terem ocorrido investimentos em energias renováveis com antecedência adequada.
Segundo ele, se a aposta em fontes como eólica e solar tivesse ocorrido há 10 ou 15 anos, o país estaria em um contexto melhor.
Quem segurou nessa escassez hídrica que o país passou ou está terminando de passar foi o Nordeste com as eólicas. A produção de energia das eólicas e fotovoltaicas foi diferencial. Já temos mais de 10% da potência instalada em solar e eólica
O professor da UFC aposta no hidrogênio verde como uma forma de resguardar o abastecimento energético para crises futuras, pela possibilidade de armazenar energia.