Com crise energética e temor de apagão, cresce demanda por geradores no Ceará

O temor de apagão tem levado cearenses a buscar soluções para mantimento elétrico. Segundo o Sindienergia, não há riscos de falta de energia no estado

Escrito por Heloisa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
Redes de transmissão de energia
Legenda: A busca por geradores de energia cresceu em até 60% em lojas de Fortaleza
Foto: Agência Brasil

Lojas que vendem geradores de energia no Ceará têm registrado alta na busca pelo produto nos últimos meses, diante do aumento da conta de energia e do temor de apagão devido à crise hídrica.  

Segundo o diretor técnico da Atohm Geradores, Ederson Botelho, a busca por geradores cresceu 60% na loja no mês passado. Ele afirma, inclusive, que a empresa tem enfrentado dificuldades para atender toda a demanda devido à falta de insumos no mercado. 

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A busca pelo produto no Ceará segue a tendência de outros estados no Brasil. A Stemac, fabricante de geradores que atua em todo o país, registrou um aumento de 35% em demandas nos últimos 60 dias. 

O Brasil vive hoje a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A escassez de água afeta diretamente a produção de energia do país, já que 63,8% da matriz elétrica é composta por hidrelétricas. 

Com os reservatórios baixos, a conta de energia fica mais cara, com o estabelecimento de bandeiras tarifárias devido à necessidade de acionamento de usinas termelétricas. 

Corrida às lojas 

A procura maior para compra de geradores de energia começou nos últimos dois meses na Geratec, localizada no bairro Jóquei Clube. 

O sócio e diretor de operações da empresa, Bonifácio Vieira, conta que a busca pelos equipamentos cresceu com o início da pandemia, mas o temor de apagão alavancou as vendas nos últimos meses. 

“A gente tem percebido já faz pelo menos 60 dias que tem aumentado bastante essa procura. A compra pode ser fechada, mas dependendo da potência o cliente pode esperar mais ou menos para receber. Se for uma potência com maior disponibilidade, pode receber em até 45 dias. Se for potência acima de 500 kVA, é mais difícil. Tem cliente tendo que esperar até 3 meses, até mais”, conta. 

Segundo ele, os fabricantes não têm conseguido atender a demanda devido à falta de insumos, principalmente de motores movidos a diesel. Ele calcula que houve um aumento de 20% a 30% na busca por cotações, resultando em um crescimento de 10% das vendas nos últimos dois meses. 

Indústria e condomínios

A situação é parecida na Atohm Geradores, localizada no Cambeba. O diretor técnico da empresa, Ederson Botelho, conta que a demanda vem principalmente da indústria, mas que mesmo condomínios residenciais têm aumentado a procura. 

Quem quer comprar o equipamento está tendo que esperar por mais tempo. “A venda de gerador hoje está complicada porque estamos com falta de insumos. Equipamento que eu tinha no estoque e entregava com 5 ou 6 dias, hoje peço 120 a 160 dias para entrega”, relata. 

Segundo ele, para além do temor de apagão, os clientes têm relatado quedas de energia ocasionadas pela má qualidade do serviço da concessionária de energia. 

"Os dados que a gente tinha no nosso Estado era de no máximo uma parada por mês, e ainda assim era uma parada sinalizada. Hoje estamos, na nossa cidade e no nosso Estado, com no mínimo duas paradas por semana sem aviso. Estamos recebendo ligações diárias que o pessoal está procurando colocar gerador de energia por causa dessa queda", alega.

O Diário do Nordeste entrou em contato com a Enel para obter mais informações sobre as quedas de energia relatadas. A assessoria de imprensa informou não ter conhecimento de instabilidades frequentes no fornecimento de energia.

Risco de apagão? 

A demanda por geradores de energia neste momento é injustificada, segundo o diretor técnico do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia-CE), Daniel Queiroz. 

Ele pontua que, apesar da crise hídrica, não existe um perigo iminente de falta de produção devido à estrutura de backup do país. Queiroz desaconselha a compra de geradores neste momento para uso residencial. 

Para um cliente comercial ou industrial, se tiver equipamentos de precisão ou climatização, vale a pena o investimento para uma questão de preservação da atividade fina. O importante é que o consumidor de forma geral não precisa tomar essa ação. O custo de um gerador e de manutenção é altíssimo. Só é aconselhado para clientes que têm uma estrutura que não possa ser pausada de forma nenhuma
Daniel Queiroz
Diretor técnico do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia-CE)

O diretor técnico tranquiliza quanto à possibilidade de falta de energia, mas chama atenção para a tendência de aumento das tarifas elétricas. Ele recomenda, inclusive, que o consumidor busque meios de produzir ou economizar energia para ajudar na resolução da crise hídrica. 

“Se nada for feito por parte do próprio consumidor, esse momento vai se estender. Tem a possibilidade através do consumo consciente e buscar gerar sua própria energia através das fontes energéticas”, diz. 

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