Queda e oscilações de energia: cearenses relatam problemas que se arrastam por anos
Moradores apontam gargalos antigos na distribuição de energia e colecionam perdas
Queda de energia, falta de assistência e altos valores. Essas são algumas das reclamações de consumidores sobre o fornecimento de energia elétrica no Ceará.
Entre os meses de janeiro a maio deste ano, foram registradas 191 reclamações contra a Enel Distribuição Ceará pelo Procon Fortaleza, a maioria delas (123) é por cobrança indevida ou abusiva.
Oito anos de problemas
No loteamento Cidade Ecológica, no Bairro Edson Queiroz, em Fortaleza, moradores relatam problemas antigos e descaso. Há pelo menos oito anos, solicitam a troca da fiação no local que, segundo relata o consumidor Felipe Alcântara, está deteriorada.
“Tem uns 15 dias que uma equipe atendeu nossa solicitação e fez a troca dos equipamentos da minha rua, mas as outras ainda sofrem com o problema”, conta.
De acordo com Alcântara, que é empresário, durante este tempo as equipes da Enel que vão ao local “fazem emendas no fio, mas logo depois se rompe de novo. Sofremos com oscilações de energia e a falta também, principalmente quando chove”.
Por nota, a companhia informou que não identificou reclamações recentes sobre falta de energia ou condutor partido no local. Uma visita técnica a campo foi programada para inspecionar a rede de energia e adotar ações de melhoria caso identifique falhas.
Oscilações de energia
Há pelo menos três anos, desde quando Fábio Prazeres mudou-se para o bairro Grilo, em Caucaia, a situação é a mesma: a partir de 19h a energia da região começa a sofrer oscilações.
“Tenho vizinhos que já tiveram alguns aparelhos eletrodomésticos queimados por conta das quedas”, relata.
O supervisor de manutenção afirma que diversos moradores já entraram em contato com a Enel, chegando até a fazer reclamações na Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), mas nunca obtiveram um retorno.
A informação que eles recebem é de que a situação é ocasionada pelo fato de o bairro só contar com um transformador para o fornecimento do serviço.
“Mas a região tem crescido bastante, somente um transformador não tem mais dado conta da demanda”, explica.
Além do aumento do valor da conta de energia, Fábio diz que, com a perda de rendimento com as oscilações, o consumo acaba sendo ainda maior.
“À noite, quando vamos usar o micro-ondas, por exemplo, percebemos que há uma diminuição na potência e temos que deixá-lo ligado por mais tempo".
Um balanço divulgado em abril pela distribuidora apontou que os consumidores cearenses passaram, em média, 15 horas e 41 minutos sem energia elétrica nos últimos 12 meses até março, conforme o Índice Regulatório de Duração de Interrupção (DEC). Um aumento de 14,1% em relação ao balanço do primeiro trimestre de 2020.
Em nota, a Enel afirmou que não foram identificadas reclamações para a unidade do cliente. “A empresa ressalta que vai enviar uma equipe técnica ao local para inspecionar a rede da distribuidora”.
Mais de um mês à espera
Já Afonso Rocha Júnior, de 53 anos, aguarda o conserto do medidor de seu estabelecimento comercial. No dia 3 de maio, um ônibus bateu em um poste que ficava na frente da loja dele e ficou caído.
“Trocaram o poste e não religaram minha energia, ainda deixaram fios expostos. Meu medidor ficava nesse poste. Depois de cinco dias fizeram uma ligação direta. Desde então eu ligo solicitando o medidor, mas até agora nada”.
Conforme Afonso, já são quatro protocolos de solicitação junto à Enel. “Ficam de mandar equipe e não vêm. É capaz de dar algum problema e perder algum material, computador, etc”.
De acordo com a Enel, técnicos da distribuidora estiveram no local no dia do acidente para eliminar o risco, garantindo a segurança, e normalizar o fornecimento de energia para o cliente.
“Sobre a medição, a distribuidora informou ao cliente sobre a necessidade de regularizar o padrão de medição, de responsabilidade do cliente, para, em seguida, realizar vistoria e instalar o medidor. A companhia enviou no dia 14 de junho uma equipe técnica ao local e realizou a instalação do medidor”.
Conta elevada
Dona Regina Maria Lopes, de 68 anos, desde janeiro de 2020, solicita à concessionária uma reavaliação da conta de energia por, segunda ela, não ser condizente com o consumo das três pessoas que moram na residência.
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“Fui na loja física em janeiro e em fevereiro, mas com a pandemia passei a ligar. Me davam prazos de até 15 dias para uma equipe vir na minha casa, até hoje nunca veio. Fiquei só acumulando protocolos”, lamenta.
Em contato com a Ouvidoria da companhia, a aposentada recebeu a resposta de que estava tudo regular. “Tenho certeza que eu não consumo essa energia que estão cobrando. Eu passo o dia só em casa, não justifica”.
Segundo dona Regina, até 2020, a fatura de cobrança não passava de R$ 300. O valor, hoje, chega a quase R$ 600.
“Eu sei que a energia subiu, mas não tanto assim. Minha casa é simples, meus eletrodomésticos são bons, não uso tantas coisas assim. Aí o que faço? Pago a conta, pois não dá pra ficar sem energia”.
Procurada pela reportagem, a concessionária apontou que fez uma nova avaliação de consumo do cliente entre o período de dezembro de 2018 a maio de 2021 e não encontrou inconsistências no faturamento das contas.
“A distribuidora esclarece que houve um pequeno aumento na média de consumo na unidade a partir de março de 2020, consistente com o início da pandemia do novo coronavírus e com o período de lockdown, no qual houve maior uso de energia elétrica. A empresa também informa que, entre as faturas de julho de 2020 a janeiro de 2021, havia uma cota de parcelamento de contas anteriores”.
No entanto, conforme a aposentada, durante o parcelamento a fatura sempre ultrapassava o valor de R$ 700, por conta do acréscimo.
Além disso, afirma ter sido enviada uma equipe para verificação de medidor em novembro 2020, porém não foi identificada falha no aparelho de medição. “A companhia acrescenta ainda que o caso foi esclarecido com o cliente após verificação em campo”.
Bandeira vermelha
A preocupação aumenta com o acionamento da bandeira vermelha em patamar 2. A tarifa extra foi acionada a partir de 1º de junho pela Aneel e acrescenta R$ 0,06243 a mais para cada quilowatt-hora (kWh) consumido, por conta da preocupação com o baixo nível dos reservatórios hídricos.
Além disso, desde o dia 22 de abril as faturas de energia também foram impactadas com o reajuste anual da Enel Ceará. Em média, os consumidores tiveram um aumento de 8,95% nos valores mensais.
Canais de atendimento
A Enel Distribuição Ceará orienta que, para solicitação, dúvidas, consulta de prazos ou reclamações, os clientes podem entrar em contato com a empresa por meio dos canais digitais, no site, pelo app Enel Ceará, disponível para download em iOS ou Android, pelas redes sociais.
As solicitações também podem ser feitas por meio da assistente virtual Elena, no telefone (21) 9.9601-9608 e na Central de Atendimento 0800.285.0196.
Para os consumidores que encontram problemas como esse ou outros, a orientação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é procurar, inicialmente a própria distribuidora e, se não resolvido, a ouvidoria.
No entanto, caso ainda assim o problema não seja solucionado, recomenda-se procurar atendimento na Aneel pelos canais oficiais: aplicativo, site ou telefone 167 (de segunda a sábado, das 6h20 à meia-noite).