Avanço do PIB mostra ritmo forte de recuperação da economia do Ceará

Alta de 16,7% observada no PIB do 3º trimestre consolida ritmo veloz de recuperação da atividade econômica no Estado. Retomada forte deve se manter no próximo ano e gerar um crescimento de 3,5% em 2021, prevê Ipece

Escrito por Redação ,
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Legenda: Crescimento foi puxado pela indústria de transformação cearense
Foto: Natinho Rodrigues

A economia cearense, que experimentou uma queda livre em meio à pandemia do novo coronavírus no primeiro semestre, vem fortalecendo a retomada e desenhando a famosa recuperação em V (queda acentuada seguida de rápida recuperação). No terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado registrou uma alta de 16,7%, a maior observada pelo menos desde 2016, segundo estudo divulgado ontem (17) pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). Apesar de ainda prever retração de 4,18% no encerramento do ano, 2021 deve consolidar a recuperação com avanço de 3,7%.

O expressivo resultado registrado entre os meses de julho e setembro ocorre em relação ao trimestre imediatamente anterior, de abril a junho, período em que grande parte das atividades não essenciais ainda estavam fechadas por determinação do Governo do Estado como combate à disseminação da Covid-19. A variação positiva vem após um tombo de 13,4% em relação ao primeiro trimestre do ano.

O governador Camilo Santana comemorou o resultado pelas redes sociais. "Esses índices mostram que estamos no caminho certo. Mesmo com as dificuldades devido à pandemia, que provocou uma crise mundial, aos poucos o Ceará tem tido sua recuperação econômica. Nossa reabertura está sendo feita de forma gradual e responsável, sempre colocando a vida em primeiro lugar", escreveu Camilo..

O analista de políticas públicas do Ipece, Nicolino Trompieri, ressalta que o avanço do PIB cearense também foi maior que a média nacional, que apresentou crescimento de 7,7% no período. Ele aponta que o resultado demonstra uma velocidade maior na recuperação do Estado em relação ao alcançado pelo País.

Quando comparada a igual período do ano passado, a economia local ainda apresenta queda de 1,32% no terceiro trimestre. Embora negativo, Trompieri explica que não é um resultado ruim e que está dentro da normalidade. "Nós ainda estamos vivenciando a pandemia. Algumas atividades ainda não retornaram e outras estão operando com capacidade reduzida. Se a gente parar pra pensar que estamos nessas condições e que ainda assim tivemos um resultado próximo do ano passado, quando estava tudo em plena normalidade, é algo a se comemorar", destaca. Mesmo com a baixa, novamente o Ceará ainda teve melhor desempenho que o País, que apresentou queda de 3,9%.

Projeções

A retomada do ritmo de crescimento já observada no terceiro trimestre e esperada também para os últimos três meses do ano, no entanto, não será suficiente para fazer com que 2020 encerre com expansão da economia. A projeção do Ipece para o resultado do ano é de retração de 4,18%. O percentual vem sendo revisado desde do início da pandemia e atenuado pela tendência de recuperação que vem sendo observada. Em junho, era esperada uma queda de 4,92% no Estado.

"Nós já vínhamos visualizando esse cenário de recuperação, precificando essa tendência, como dizemos no jargão econômico. Tanto que na divulgação seguinte, revisamos essa projeção de queda para menos, por observar a reabertura consistente e a injeção de recursos com o auxílio emergencial", explica Witalo Paiva, analista de políticas públicas do Ipece. "A economia cearense está transitando em uma recuperação satisfatória e a força registrada no terceiro trimestre é um elemento novo, suficiente para revisarmos mais uma vez a projeção. Apesar de ainda ser número forte, no início da pandemia, nos piores cenários, as previsões eram muito mais catastróficas, com retrações de 9% a 10%", acrescenta o analista.

Ele também lembra que o último trimestre de 2019 foi o melhor do ano passado, o que eleva a base de comparação e dificulta a previsão de uma variação melhor para 2020.

Para 2021, o Ipece projeta crescimento de 3,7%, acima da média nacional de 3,5%, segundo o relatório Focus do Banco Central (BC) do último dia 11 de dezembro. Trompieri ressalta que o valor demonstra um período de recuperação rápida, embora comparado a uma base negativa.

"Devemos passar por uma retomada constante, com crescimento trimestre a trimestre. Esse resultado é muito baseado na premissa de que a vacina comece a circular. Com base na aplicação das vacinas, a pandemia vai aos poucos sumindo do mapa e permitindo que as atividades que ainda não se recuperaram retornem", destaca.

Trompieri também aponta que a crise deflagrada pelo coronavírus será diferente da de 2015 e 2016, que gerou um resultado negativo do PIB dois anos seguidos e apresentou uma recuperação lenta.

Ele ainda pondera que, nesse primeiro momento, a projeção tem como base o desempenho da economia no cenário nacional. "Em março, quando divulgarmos o fechamento de 2020, teremos condições de fazer estimativas mais consistentes", conclui.

Atividades

A alta da atividade econômica no terceiro trimestre foi puxada por um resultado histórico de 41,57% da indústria em relação ao trimestre imediatamente anterior. O setor de serviços também apresentou alta de 12,49% após retração de 12,03% entre abril e junho.

A agropecuária foi o único setor que registrou queda no trimestre, de 2%. A redução é explicada pelo forte aquecimento registrado no segundo trimestre com o consumo maior das famílias por alimentos em casa, gerando uma base de comparação elevada. "Tanto que, em relação ao terceiro trimestre de 2019, tivemos um crescimento de 6,67%, impulsionado pelo aumento da produção de itens como milho, tomate, melão, maracujá e de aves", explica a assessora técnica do Ipece Cristina Lima.

A indústria de transformação foi o principal propulsor, com avanço de 60,9% em relação ao segundo trimestre, e pela construção civil (34,4%). O cenário de baixa da taxa de juros e o foco no lar durante o isolamento social tem aquecido o mercado.

Já no setor de serviços, o comércio teve alta de 35,55% ante o segundo trimestre e de 6,71% ante o ano passado. O auxílio emergencial, revertido quase integralmente em consumo, tem sido o motivo do bom desempenho.

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