Ari de Sá: do empréstimo para manter a escola a um negócio de R$ 2,2 bi com ações na Bolsa dos EUA
"O meu grande sonho não era a escola e eu preciso reconhecer isso”, relata Oto de Sá Cavalcante. É o segundo episódio da série Por Dentro do Negócio.
Os olhos que muito já viram nesta vida passeiam pelos corredores de um império com aura de lar. No já tradicional prédio localizado entre as avenidas Washington Soares e Edilson Brasil Soares, Oto de Sá Cavalcante ocupa uma espaçosa sala preenchida de fotos da família e dos amigos de caminhada, mas é a biblioteca seu cômodo preferido.
A série 'Por Dentro do Negócio' traz histórias de empreendedorismo de empresas que atuam no Ceará, dos percalços ao sucesso, para inspirar você no sonho de abrir o próprio negócio.
Nada surpreendente para alguém que comanda um dos mais proeminentes negócios do ramo educacional no País: o Colégio Ari de Sá Cavalcante, atualmente com 8,1 mil alunos matriculados nas cinco sedes distribuídas em Fortaleza, e que empregam cerca de mil funcionários diretamente. O inusitado, entretanto, está em como tudo começou.
“Logo que eu entrei na faculdade de Engenharia, comecei a lecionar e, com a morte do papai, me envolvi mais com a escola. No começo, foi mais uma questão de atender a uma solicitação de meu pai e também para atender a mamãe, mas na verdade o meu grande sonho não era a escola e eu preciso reconhecer isso”, lembra.
A escola hoje leva o nome de seu pai, o educador Ari de Sá Cavalcante. Com 17 anos de história, o pujante negócio nasceu de uma divisão no Colégio Farias Brito, administrado por Ari de Sá até 1967, ano de sua morte. Com o falecimento, a esposa, Hildete, e os cinco filhos, com destaque para Oto de Sá Cavalcante, à época com 21 anos, e Talles de Sá Cavalcante, ficaram à frente do negócio.
Em dezembro de 2000, após o falecimento da matriarca Hildete de Sá Cavalcante, os dois irmãos decidiram pela cisão, evento divisor de águas na trajetória do Estado em termos de educação privada, mas ainda assim tratado com leveza nas palavras de Oto.
Para ele, assim como um casamento que chega ao fim sem litígio, a sociedade dos irmãos findou sem maior desgaste. “A segunda geração já estava surgindo. Talvez ficasse muita gente. O relacionamento humano é muito bom, mas é muito complicado. Eu mesmo tenho cinco filhos e acho que não tem lugar para todos eles aqui”, reconhece.
Ele acrescenta ainda que os negócios familiares exigem muita disciplina para que a empresa não seja penalizada.
“Apesar de ser algo difícil, resolvemos tudo administrativamente. Não houve nada de Justiça. É como, mal-comparando, um casamento que acaba sem a necessidade de um litígio. Os cônjuges se entendem. Podem não estar muito felizes, mas têm entendimento para que possa haver a separação. Tem um lado doloroso, interesse empresarial de um lado e a família de outro, mas eu acho que apesar dos pesares foi muito bom. Desenvolvi uma vocação adormecida”, reflete o diretor-presidente do Colégio Ari de Sá.
Arco Educação
A escola foi a primeira etapa para um meganegócio que hoje integra seleto grupo de “startups unicórnios” do País (avaliadas em mais de US$ 1 bilhão): a Arco Educação, primeira empresa cearense a abrir capital na bolsa norte-americana voltada para players de tecnologia Nasdaq, passo que foi dado no ano passado.
A empresa hoje é administrada por Ari Neto, filho de Oto de Sá Cavalcante. Embora a empreitada educacional tenha ganhado gigantescas proporções, o diretor-presidente da escola deixa bem claro que sua praia é dedicar-se ao Colégio Ari de Sá.
É o valor de mercado estimado da Arco Educação. Fundado em 2007, o negócio emprega cerca de 1,3 mil pessoas diretamente. O sistema de ensino produz conteúdos como apostilas que estão presentes em 1,4 mil escolas em todo o Brasil.
Percalços financeiros
O caminho que levou Oto a orgulhar-se de um negócio educacional com a maior aprovação do Estado nos cursos universitários de Medicina e às constantes posições de destaque em olimpíadas Brasil afora contou com inúmeros percalços.
Antes mesmo da cisão, ele lembra como a família lidou com o quase despejo do imóvel no qual funcionava o Colégio Farias Brito, na Praça do Carmo, e de como o evento o fortaleceu para a tomada de decisões importantes mais à frente.
“O proprietário queria nos vender o imóvel, mas por um valor que estava muito longe da nossa possibilidade. Para a nossa surpresa, eles entraram na Justiça por não convir a locação, mesmo com o aluguel rigorosamente em dia. A ação evoluiu e foi decretado o despejo. Decisão judicial não se descumpre”, afirma Oto. A saída seria comprar o imóvel. Mas com quais recursos?
Uma conversa com o então presidente do antigo Banco Industrial e Comercial (BIC), Humberto Bezerra, pôs fim à angústia da família Sá Cavalcante. Por meio de um empréstimo, a compra do imóvel foi concretizada.
“Eu precisava pagar uma parte à vista e outra em 12 meses. Pedi para começar a pagar um ano depois e ele respondeu imediatamente”, diz. “Ele nos salvou do despejo, sem um estudo maior”, lembra, acrescentando que a família chegou a atrasar algumas prestações do BIC e ao dono do imóvel. “Eu sempre avisava quando ia precisar atrasar”, diz Oto de Sá Cavalcante.
Trabalhar por um sonho
Ao olhar para trás, para o que construiu e aperfeiçoou, Oto de Sá Cavalcante reforça que é justamente nas dificuldades que são descobertas as vocações e, como todo bom educador, mantém-se firme na máxima de que trabalhar por um sonho sempre vale a pena. A oportunidade de fazer diferente a cada dia o move em busca do aprimoramento da atividade.
“Essa é atividade a educacional. É realmente interessantíssima, fascinante. Muito prazerosa. Eu acho que a pessoa que trabalha só por ganhar dinheiro não é feliz. Você tem que trabalhar por uma causa, pelo que acredita, por um sonho. Todo os dias, vir para o trabalho pensando em coisas boas, em grandes ideias. [O Colégio Ari de Sá Cavalcante] é uma empresa, não deixa de ser, mas uma empresa especialíssima”, arremata Oto de Sá Cavalcante.