Após impasse com teles, Elmano de Freitas confirma usina de dessalinização na Praia do Futuro
Empresas de tecnologia e Cagece discutem proximidade de cabos submarinos dos dutos de captação de água do mar
O governador Elmano de Freitas (PT) confirmou a construção da usina de dessalinização da água do mar na Praia do Futuro, em Fortaleza, a ser instalada próxima ao hub de cabos submarinos de fibra óptica. Nesta semana, o setor de telecomunicações se posicionou contra o equipamento na região devido à proximidade de cabos submarinos.
“A dessalinização da água do mar, vamos daqui a pouco iniciar o investimento com parceria com a iniciativa privada”, resumiu Elmano.
Veja também
A declaração foi dada nesta sexta-feira (29) durante encontro de empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) com a presença de diversas autoridades. Além do governador, estiveram presentes, dentre outros políticos, o vice-presidente do Brasil e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.
Em coletiva após o fim do evento, Elmano de Freitas defendeu a instalação da usina seguindo critérios científicos, e ressaltou a importância da planta de dessalinização para aliviar os efeitos da seca no semiárido que afetam o abastecimento de água da Grande Fortaleza.
Penso que o impasse deve ser resolvido do ponto de vista técnico. Temos a localização da usina, fizemos vários estudos técnicos, há uma regulamentação internacional entre a distância mínima que deve haver entre a usina e os cabos. Estamos muito acima do que é previsto de regulamentação internacional, e passamos mais de um ano fazendo pesquisas. Todos os pesquisadores que saíram do 'acho' para a convicção científica de distanciamento apontam que onde a usina está colocada não há risco nenhum para os cabos. Precisamos agora acelerar os investimentos.
Nos últimos anos, tanto o setor de abastecimento de água quanto o de telecomunicações vêm travando embates acerca da instalação da planta de dessalinização na Praia do Futuro. A reclamação é acerca do local onde será construído a usina.
As empresas de telefonia alegam que o equipamento da Cagece fica muito próximo dos cabos submarinos de fibra óptica, enquanto a companhia retruca o segmento de telecomunicações com a afirmação de que ambas a estrutura dessalinizadora não vai interferir na transferência de dados.
ENTENDA O CASO
A confirmação de Elmano de Freitas vai de encontro à solicitação do mercado de telecomunicações. Na Praia do Futuro, desde o ano 2000, estão instalados cabos submarinos de fibra óptica. A partir da metade da década de 2010, houve um salto no número dessas estruturas.
Atualmente, 16 cabos submarinos instalados no litoral de Fortaleza fizeram com que a capital se transformasse no segundo maior hub tecnológico de transferência de dados no mundo, atrás apenas da cidade de Shima, no Japão, conforme dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Através desses cabos, Fortaleza está interconectada com cidades das Américas Central, do Norte e do Sul, bem como países da África e da Europa. A Anatel considera que mais de 90% de toda a internet do Brasil e da porção sul do continente passa pela capital cearense pelos equipamentos submarinos.
Já a planta de dessalinização trata-se de um projeto antigo da Cagece para servir como alternativa ao abastecimento de água na Região Metropolitana da capital (RMF). O projeto ganhou força no fim da década de 2010, e desde então vem sendo remodelado.
Segundo dados da companhia, serão investidos mais de R$ 520 milhões. As obras devem ser iniciadas ainda no primeiro trimestre de 2024, e as operações da usina devem começar em 2026. Em capacidade instalada, o equipamento poderá produzir 1 m³/s, aumentando em 12% a oferta de água e beneficiando 720 mil pessoas na capital.
O objetivo é de que a planta funcione como um “plano B” para o fornecimento para Fortaleza e demais cidades da RMF. O acionamento da usina aconteceria apenas quando o aporte das chuvas nos reservatórios do Estado fosse insuficiente para suprir a demanda por água potável dos municípios.
BRASIL PODE FICAR SEM INTERNET?
Os conflitos entre as teles e a Cagece ficam pela localização, ambas na Praia do Futuro. Segundo as empresas de telefonia, os dutos de captação de água do mar pela planta da companhia ficam muito próximos dos cabos submarinos, o que pode causar interferência no sinal pela trepidação.
Críticos da usina reclamam que a perturbação nos cabos submarinos pode interferir no sinal de telefonia e internet em todo o Brasil, podendo causar um apagão no setor, uma vez que quase todos os dados que chegam ao País passam por Fortaleza através dessas estruturas.
Já a Cagece defende a usina e rechaça qualquer risco de interferência. No início da semana, o presidente da companhia, Neuri Freitas, chamou de “medo abstrato” a reclamação das empresas de telecomunicações. Segundo o gestor, os dutos de captação de água do mar estão a pelo menos 500 metros de distância dos cabos submarinos, garantindo a segurança da transferência dos dados.
Anteriormente, a captação seria feita a cerca de 50 metros de distância dos cabos de telefonia, mas após pressão da Anatel, a Cagece mudou o planejamento. O custo adicional, de acordo com Neuri Freitas, foi de R$ 40 milhões a mais do que o previsto para a instalação da usina.
TRANSNORDESTINA E ENERGIA LIMPA
Outro ponto destacado pelo governador foi a necessidade da conclusão da Ferrovia Transnordestina no trecho que vai do interior cearense até o Porto do Pecém. Para Elmano de Freitas, o setor agropecuário e o polo calçadista no Sertão Central serão os principais beneficiados com a obra que, segundo Geraldo Alckmin, deve ficar pronta, no máximo, até 2025.
“Precisamos levar o desenvolvimento para o interior, e a Transnordestina nos permite primeiro trazer grãos da região produtora de soja e de milho que pode ajudar a nossa cadeia do leite, produção de ovos e frango para ter milho e soja mais baratos para o nosso produtor agropecuário. Também nos permite pensar em portos secos no sertão para que as várias fábricas de calçados que vão se instalando no interior do Ceará possam trazer com o frete mais barato para o porto e exportar para o mundo, de preferência com energia limpa”, pontuou o governador cearense.
Além disso, Elmano também solicitou ao vice-presidente da República maior celeridade na regulamentação das eólicas offshore (turbinas instaladas em alto-mar) e nas leis que colocam em vigor o hidrogênio verde, e defendeu a inclusão de pessoas de baixa renda nas políticas de energia limpa.
“Colocamos o desafio de buscar inovar, e a água utilizada, pelo menos grande parte dela, para a produção de hidrogênio verde não será a água reservada para o consumo humano, queremos utilizar a água de reúso de esgoto da Região Metropolitana de Fortaleza, que queremos garantir 100% de esgotamento sanitário. O processo já iniciou e queremos que essa água seja tratada para a produção de hidrogênio verde”, frisou.