Análise: Gestão Biden pode favorecer comércio exterior no Ceará

Perspectiva de maior investimento em geração de energias renováveis com a administração democrata nos Estados Unidos deve estimular exportação de pás eólicas. Siderurgia também pode se beneficiar

Escrito por Redação ,
Legenda: Placas de aço e pás eólicas são os principais produtos exportados pelo Ceará aos Estados Unidos

A confirmação da vitória de Joe Biden na corrida à presidência dos Estados Unidos, principal parceiro comercial do Ceará, traz perspectivas positivas para o comércio exterior do Estado. Entre elas, o foco da gestão democrata em política ambiental e energia limpa deve favorecer a cadeia produtiva do setor no Ceará, em especial nas exportações.

Responsáveis pela aquisição de 34,6% das exportações cearenses neste ano, os Estados Unidos compram do Ceará principalmente ferro fundido e aço (notadamente as placas produzidas pela Companhia Siderúrgica do Pecém - CSP), máquinas, aparelhos e materiais elétricos, que incluem as pás eólicas e outros equipamentos de geração de energia, e calçados, de acordo com dados do Ministério da Economia.

O economista e consultor internacional Alcântara Macedo avalia que a intensificação dos investimentos no setor de energias renováveis pela gestão democrata nos Estados Unidos poderá repercutir diretamente na indústria cearense de equipamentos voltados para energia eólica.

"O Biden está propondo investir no meio ambiente, em energia limpa, na Amazônia, o que é ótimo desde que a gente não negocie a nossa soberania. Para o Ceará, que exporta pás eólicas para o mercado americano, pode haver um crescimento dessas exportações", diz Macedo.

A avaliação é endossada pelo CEO da JM Aduaneira, Augusto Fernandes, que desde 1996 acompanha o setor eólico. "Das nossas exportações de pás eólicas, 90% já vão para os Estados Unidos. Como a filosofia de Biden é mais plural, mais sustentável, com certeza isso tende a aumentar. O mundo como um todo caminha para essa questão da sustentabilidade", explica Fernandes.

Ele pontua, porém, que esse avanço vai depender de benefícios oferecidos pelos Estados Unidos aos importadores. "Sabemos que há uma demanda reprimida por conta da pandemia e uma grande mudança de filosofia vindo pela frente, mas esse crescimento não é algo que vem de forma automática, a toque de caixa", detalha.

Alcântara Macedo destaca ainda que, em geral, o partido republicano de Trump é mais exigente que o democrata para as importações de aço, o que também favorece o Ceará. "Acredito que não teremos mudanças significativas na economia. O governo brasileiro terá de se adaptar. Nós negociamos com americanos, com russos, com chineses. O interesse nosso é o povo. Então, o Biden não será ruim para o Brasil".

Relação com a China

Outra oportunidade para os negócios cearenses com a nova gestão diz respeito à perspectiva de menos conflitos entre os Estados Unidos e a China, avalia o economista Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE). A escalada da guerra comercial entre os dois países nos últimos anos, com a imposição de tarifas sobre os produtos chineses pelo governo americano, tem contribuído para desacelerar o crescimento global, o que prejudica os mercados emergentes.

"A recuperação mais efetiva das relações comerciais entre Estados Unidos e China gera uma perspectiva positiva para os produtos de exportação do Ceará no médio e longo prazos, principalmente nos segmentos relacionados com a produção de aço, ferro, como também de calçados e alimentos", aponta.

Juntos, Estados Unidos e China são destino de mais da metade das exportações cearenses. "Na medida em que se passa a ter uma nova dinâmica, um novo pensamento das relações de comércio, isso pode ser um fator bastante interessante para o crescimento das nossas exportações para esses dois mercados", avalia Coimbra.

Acordo comercial

A mudança da gestão republicana para a democrata também não deve afetar o recém-firmado acordo bilateral entre Estados Unidos e Brasil. Com medidas voltadas para facilitar o comércio entre os dois países com a redução da burocracia e regulações, o acordo fechado em outubro deverá beneficiar diretamente o Ceará e potencializar as vendas ao mercado americano.

"Acredito que o próximo presidente dos Estados Unidos será fundamental para a manutenção dos acordos bilaterais entre os países. Foram anos de negociação", destaca Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios do Ceará (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Negociado desde 2011, o entendimento foi considerado pelos dois governos como o primeiro passo para um futuro acordo de livre comércio entre os países.

"Preferimos acreditar que essa agenda comercial entre os dois países não tem como retroagir. Historicamente, Brasil e Estados Unidos têm uma relação comercial intensa e acreditamos que a área comercial seja vista como algo suprapartidário, independentemente de quem ocupe a Casa Branca", aponta a gerente.

De janeiro a outubro de 2020, as vendas dos exportadores cearenses aos Estados Unidos somaram US$ 548,9 milhões, de acordo com dados do Ministério da Economia. Já o Ceará importou US$ 612,7 milhões em produtos americanos, o equivalente a 15,6% das compras externas do Estado no ano. Com isso, o Ceará acumula um déficit na balança comercial com o país de US$ 63,7 milhões em 2020.

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