Análise: como o início da vacinação deve impactar setores da economia cearense

Expectativa é que setores como o do turismo e eventos retornem à normalidade em 2022

Escrito por Redação ,
Legenda: Para 2021, as projeções ainda são de dificuldades para os setores de serviços e comércio
Foto: Agência Brasil

Apesar do otimismo gerado pelo início da vacinação contra o Covid-19, economistas e representantes dos setores da economia cearense avaliam que ainda é cedo para projetar os possíveis impactos econômicos da medida. A expectativa é de que o ano de 2021 ainda seja desafiador, sobretudo para os setores de bares e restaurantes, turismo e eventos. E que o retorno dessas atividades, em capacidade plena, ocorra apenas em 2022.

Veja a expectativa de economistas e representantes de setores

  • Regis Medeiros
    Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Hotéis Ceará (Abih-CE)

O início da vacinação é positivo e estimulante. Nós sabemos que a solução definitiva é ter toda a população vacinada, mas a partir do momento em que você começa a vacinar os grupos prioritários, além do sentimento positivo das pessoas ficando menos preocupadas, nós vamos quebrando os elos de contágio.

Veja também

A gente sabe que isso demanda tempo, mas cria uma sensação de que há uma luz no fim do túnel, de que estamos caminhando para uma solução. Acho que os eventos corporativos de menor porte já podem ser retomados. Já tem condição de começar a retomar esse tipo de evento, que é importante para uma cidade como Fortaleza.

Acredito que esse primeiro semestre ainda será muito sofrido. Estou otimista para que o segundo semestre já tenha uma retomada um pouco melhor. Temos uma demanda reprimida muito grande. Tivemos o ano de 2020 perdido, existe uma vontade das pessoas de viajar e de sair de casa. E essas pessoas vão focar muito no Brasil, também por conta do dólar alto e das proibições de viagens. Acredito que teremos uma volta ao normal em 2022. E que possamos ter o Réveillon de 2021 para 2022 e o Carnaval de 2022.

  • Enid Câmara
    Presidente da Associação Brasileira de Empresas de Eventos no Ceará (Abeoc-CE)

Legenda: Segundo a presidente do Sindieventos, projeção de novas liberações a cada 14 dias foi apresentada pelo governador Camilo Santana
Foto: Shutterstock

O nosso setor, tanto aqui no Ceará como no Brasil, só vai funcionar plenamente quando a população estiver vacinada. Temos plena convicção disso. O nosso setor trabalha muito com o turista nacional, e internacional e muitas multinacionais já determinaram que ninguém viaja sem a vacina.

O início da vacinação nos dá ânimo, mas a gente espera que o Brasil tenha uma quantidade de vacina suficiente para que tenhamos os efeitos esperados, porque o que há até agora é muito pouco.

O importante, agora, é começar a vacinação. Esperamos que seja feito um plano de continuidade para que em até dois meses a gente possa ter a esperança de voltar a funcionar no segundo semestre. Neste primeiro semestre, a gente espera que o governo do Ceará possa determinar alguma ajuda para o setor sobreviver até que seja possível voltar às atividades. Esperamos, pelo menos, que a gente possa trabalhar com o limite de 400 pessoas, como estava sendo feito até dezembro do ano passado, fazendo pequenos eventos, porque hoje estamos sem faturar.

  • Taiene Righetto
    Presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Ceará

Para o setor de bares e restaurantes, de alimentação fora do lar, com certeza a notícia de vacinação é recebida com muita alegria, com muita esperança. Dá um certo alívio não só para nós como para toda a sociedade. Mas, na nossa opinião, os impactos econômicos não vão ser sentidos tão rapidamente.

Para o setor de alimentação fora do lar, a gente acredita que vá colher os frutos em 2022. Nossa maior preocupação agora é o curto prazo, porque não tem mais a suspensão dos contratos de trabalho. Apesar de a gente estar proibido de funcionar com a demanda total, estamos com 50% da capacidade, os impostos estão sendo cobrados integralmente. E, infelizmente, o poder público não está fazendo nada pelo setor nesse sentido. Por enquanto, o que a gente tem do poder público são apenas restrições. 

A nossa expectativa é de tentar sobreviver e, no ano que vem, com o efeito mais efetivo dessa imunização, a gente espera poder voltar à nossa normalidade e todos vão poder operar na nossa normalidade e reconstruir esse setor que está em frangalhos. Para este ano a dificuldade ainda será enorme e a mortalidade do setor vai ser grande. E a gente vai ter que lutar muito para que o nosso setor seja normalizado.

  • Freitas Cordeiro
    Presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL-CE)

Não resta dúvida de que o início da vacinação é muito positivo, mas é muito limitado. E não acredito que o governo irá flexibilizar só pelo início da vacinação.

Neste primeiro momento nós não vamos vacinar nem 1% da população, e essa vacina tem um índice de efetividade muito baixo, de apenas 50,4%. Está longe da efetividade das vacinas que outros países estão tomando, com mais de 90% de efetividade.

O comércio não é vetor de infecção e estamos avançando devagar. No Ceará, os índices de infecção caíram. O governo está mantendo a economia ativa. Para o comércio cearense, não vejo nenhum motivo para mudar o que estamos fazendo. Está dando certo, mas não podemos relaxar. Temos que mostrar para os nossos associados que o momento ainda é de muito risco. E estamos trabalhando para sair dessa crise.

  • Lauro Chaves
    Economista e professor da Uece

A recuperação da economia depende totalmente da imunização da população. E, nesta fase inicial de vacinação, precisamos garantir a imunização dos profissionais da área de saúde, para que o combate e o tratamento da doença seja mais efetivo.

Mas a economia só vai voltar a funcionar integralmente quando a imunização for geral e, para isso, precisamos de uma quantidade de vacina que não está disponível hoje.

Acredito que ao longo de 2021 e de 2022 teremos toda a população vacinada, mas a velocidade como isso vai ocorrer não dá para prever. De todo modo, o início da vacinação muda a expectativa para retomada.

  • Ricardo Coimbra
    Presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE)

A gente só vai ter recuperação efetiva das atividades econômicas a partir do momento em que tivermos um percentual significativo de pessoas imunizadas. Então esse processo de início da vacinação, ele gera um cenário positivo para frente, mas isso vai depender muito da quantidade de imunizantes que o governo do Estado do Ceará vai receber ao longo dos próximos meses.

A quantidade de doses é que vai dar esse direcionamento mais efetivo para o retorno das atividades econômicas. O início da vacinação é extremamente importante porque gera uma perspectiva de médio e longo prazo. E, quem sabe, daqui a 180 dias a gente já tenha um número significativo de pessoas imunizadas e um quadro bem menor de infectados.

O estado do Ceará tem uma economia muito forte nos segmentos do comércio e de serviços. E há uma parcela que está tendo uma dificuldade muito grande na recuperação, que são os segmentos de entretenimento e turismo. Então, na medida em que for avançando a imunização é possível que haja uma recuperação ao longo de 2021. Principalmente, a partir do terceiro trimestre. Se a gente tiver 30% ou 40% da população imunizada até o meio do ano, é provável que no final do segundo semestre esses setores se fortaleçam.

 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados