Análise: Por que o decreto de fim de ano veio para ficar

Piora no quadro da pandemia faz com que medidas formuladas para o fim de 2020 se mantenham

Legenda: "Pagode do Sigilo", um dos ícones do desrespeito à pandemia na Capital. E, apesar do apelido, de sigiloso não tem nada.

Inicialmente criado para evitar a proliferação dos casos de Covid nas datas festivas, diante da piora do quadro sanitário no Ceará, o decreto de fim de ano veio para ficar.

Este conjunto de determinações mais rígidas, elaborado pelo Governo do Estado, foi fundido com o outro decreto que paralelamente ditava regras mais gerais. Agora há um só documento.

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Uma particularidade do último anúncio é que o Comitê, desta vez, optou por prorrogar as medidas de isolamento por um prazo mais alargado. De forma geral, elas valerão pelo menos até o dia 31 de janeiro, mas os pontos que especificam o cancelamento do Carnaval já atingem meados de fevereiro.

Os decretos anteriores, majoritariamente, vinham sendo renovados a cada semana, enquanto o atual já impõe um horizonte maior, o que evidencia a crescente preocupação com os indicadores de saúde.

Por que regras de fim de ano foram mantidas

  • Afrouxar as regras e voltar ao patamar de decretos anteriores passaria a mensagem errada, principalmente diante do festival de cenas de desrespeito que ocorre mesmo com normas mais rígidas vigentes. Parte da população cearense parece se considerar pertencente à linhagem dos semideuses, intransponíveis e inquebráveis, insistindo em desprezar inteiramente os perigos de uma doença que já matou pelo menos 200 mil pessoas no País.
     
  • O quadro da Covid no Ceará apresentou evidente piora nos últimos meses, mas não chega a ser crítico quanto o de outros estados, o que faz com que o rigor deste decreto se posicione níveis acima dos predecessores, mas ainda a uma distância calculada do botão vermelho do lockdown, este estrangeirismo que se tornou uma das palavras mais indigestas desde 2020, um ano que, aliás, parece não ter acabado.
     
  • O Estado parece inclinado a evitar um novo lockdown. O próprio secretário Dr. Cabeto descartou esta possibilidade ontem (8), em entrevista. A medida seria lancinante para a sustentabilidade dos negócios e para a saúde financeira da população, sobretudo numa atmosfera econômica rarefeita, que já não conta com o fôlego propiciado pelo auxílio emergencial. Portanto, o molde do decreto de fim de ano deve permanecer por um bom tempo, a não ser que os números da saúde mudem radicalmente.
     
  • Parte dos jovens, principalmente de bairros nobres, passou a solenemente ignorar a pandemia. Segundo estudo da Secretaria de Saúde de Fortaleza, a segunda onda na Capital foi gerada a partir da transmissão por este público. Sem a colaboração desta parcela da população, não fará sentido abrandar as regras de isolamento. Percebe-se um esforço fiscalizatório crescente no Estado, mas há que se fazer mais para coibir focos de contaminação.