A construção de um hotel sete estrelas na praia da Barra Velha, em Cascavel (cerca de 60 km distante de Fortaleza), não saiu do campo das ideias. O projeto surgiu em 2016, com a especulação de que empresários libaneses planejavam esse investimento no Ceará.
A então secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado (SDE), Nicolle Barbosa, chegou a afirmar sobre a possibilidade de um termo de cooperação entre o Governo e a General Mediterranean Holding (GMH). Todavia, os milhares de empregos e os negócios prometidos para a região nunca aconteceram.
O Diário do Nordeste tentou contato com a empresa citada, por e-mail e por telefone, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. Questionado sobre o status do projeto na gestão atual, o Governo do Estado não respondeu até o momento.
Já o município de Cascavel afirmou não haver, em órgãos da prefeitura e nos cartórios locais, “nenhum registro sobre o empreendimento”. A prefeitura afirmou, ainda, se tratar de “um puro estelionato eleitoreiro” da gestão anterior.
“Não existe nenhum resquício. Não foi comprado terreno. A prefeitura, da época da prefeita Ivonete, não tem nada, não tem projeto. Foi apenas uma cortina de fumaça”, comunicou a assessoria de imprensa.
Ivonete Pereira (PDT) foi prefeita do município de 2013 a 2019, quando teve o segundo mandato cassado por abuso de poder político. O Diário do Nordeste não conseguiu localizá-la para ouvir o seu posicionamento sobre o caso.
O PDT também foi procurado, mas informou não falar "sobre projetos de prefeitos e de prefeituras". Segundo a sigla, isso "não compete ao partido, mas à gestão municipal".
Disputa pelo terreno do Hotel
Após quase um ano de especulação acerca do empreendimento, o projeto teria paralisado em razão de uma disputa judicial pelo terreno onde supostamente o hotel seria instalado.
O advogado Jackes Araújo, representante da empresa portuguesa de investimentos imobiliários Mãe dos Rios, que reivindicou, naquele período, cerca de 30 hectares da área, informou que os clientes não chegaram a ingressar com nenhuma medida porque acreditaram se tratar de um projeto “plantado com cunho absolutamente eleitoreiro".
“Observou-se que tudo não passava de um embuste, tanto que, até esta data, a desapropriação não foi consumada. Se tivesse sido, teríamos contestado prontamente”, informou.
Como seria esse hotel?
O hotel, batizado de "Le Royal", seria o segundo maior do mundo (o primeiro fica em Dubai, nos Emirados Árabes).
Conforme notícias da época, seriam construída uma marina para iates e embarcações de pequeno porte, além de centro de beleza e estética, de esportes, de jogos, spa com piscinas, discoteca, parque aquático e sete restaurantes.
O investimento divulgado era de R$ 400 milhões, gerando 1.500 empregos diretos e outros 1.000 indiretos quando o hotel estivesse em funcionamento. Havia, ainda, uma promessa de construir 1.500 casas para os funcionários e escola para os filhos deles nas proximidades do hotel.
O CEO da GMH naquela época era Ghassan Saad. Em entrevista, ele chegou a fizer que o hotel teria uma estrutura capaz de transformar a cidade e impulsionar empresas locais. "Vamos dar prioridade as empresas do Ceará", garantiu, em julho 2016.