Após o reajuste anunciado nesta quinta-feira (10) pela Petrobras, o preço do litro da gasolina deve chegar à máxima de R$ 9 nos postos do Ceará. Os consumidores sentirão o aumento em até uma semana, conforme previsão de Bruno Iughetti, consultor na área de Petróleo e Gás.
Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no último dia 5 de março, o custo médio da gasolina era de R$ 6,54, nos postos cearenses. Já o valor máximo observado foi de R$ 7,23.
Iughetti pondera, entretanto, que a população já se depara com a gasolina de até R$ 8 nas bombas.
“O reajuste será aplicado só amanhã nas refinarias, mas o consumidor sentirá no prazo de até uma semana em razão dos estoques. Contudo, nada impede que o mercado reaja quase imediatamente a partir desta sexta-feira”, avalia.
Conforme a estatal, a gasolina terá alta será de quase 19%. Veja como ficará o preço médio de venda da Petrobras nas refinarias, a partir de amanhã:
- Gasolina: de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro, aumento 18,77%;
- Diesel: de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro, alta de 24,9%;
- GLP: de R$ 3,86 para R$ 4,48 por kg, equivalente a R$ 58,21 por 13kg, aumento 16,06%.
Impactos da guerra
Além do reajuste, os custos logísticos, de distribuição e impostos incidirão sobre o preço final do produto. Iughetti lembra que a alta já era esperada devido aos impactos negativos da guerra entre Rússia e Ucrânia.
O conflito no leste europeu fez com que o preço do barril do petróleo do tipo Brent — referência global — disparasse. Isso tem efeito direto sobre o valor do combustível, além da inflação brasileira.
“Esse impacto de quase 19% se deve ao fato de que a Petrobras deixou de fazer as elevações em pequenas doses. Por isso, não conseguiu mais segurar e repassou um reajuste exagerado”, avalia.
O especialista prevê novos aumentos no médio prazo, a depender dos próximos acontecimentos desta crise geopolítica.
Cenário incerto
O assessor de economia do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos), Antônio José Costa, pondera que o cenário ainda é incerto.
Para ele, a tendência é que o dólar volte a "derreter" e alivie o preço dos combustíveis.
Sobre a chegada do aumento nas bombas, ele pondera ser necessário considerar o volume armazenado por cada lojista, podendo chegar no período máximo de 10 dias.
“O revendedor é um mero repassador. Na medida em que os estoques vão acabando, ele repassa. Aqueles que possuem estoque elevado conseguem aguentar até uma semana, mas quem não tem precisa repassar no mesmo dia”, explica.
Desafios para conter as elevações
A presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon), Silvana Parente, lembra que o custo dos combustíveis já pressionava a inflação antes da guerra da Rússia contra a Ucrânia estourar, com uma defasagem de 30% e 40% nos valores da gasolina e do diesel, respectivamente, após quase dois meses sem acréscimos.
“Então, a decisão da Petrobras de elevar o preço já era esperada. A grande questão é como conter essa escalada daqui para frente. O governo está numa encruzilhada porque a questão da guerra exacerbou esse problema”, avalia.
Silvana lembra haver discussões para redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). “Mas isso tem repercussão nas contas dos estados e depende de decisão do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz)”, observa.
A segunda medida estudada, acrescenta, é utilizar os dividendos recebidos pelo lucro da própria Petrobras para frear os aumentos.
"Uma questão estrutural com medidas emergenciais e que requer uma discussão maior, envolvendo a reforma tributária, discussão da matriz energética para estimular a produção de energia limpa, como o álcool, etanol, biodiesel e outras renováveis”, avalia.