60% dos demitidos pela Guararapes não devem conseguir rápida recolocação, diz setor têxtil

Mão de obra especializada deve ser absorvida pelas demais empresas do segmento

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@svm.com.br
Legenda: Cerca de 2 mil funcionários da Guararapes foram demitidos em janeiro
Foto: Fabiane de Paula

Cerca de 1,2 mil dos 2 mil funcionários da Guararapes Confecções demitidos nesta terça-feria (10) em função do encerramento das atividades da empresa no Ceará não devem conseguir recolocação de forma rápida. O número representa 60% do contingente afetado.

A expectativa é do presidente do Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas no estado do Ceará (SindConfecções CE), Daniel Gomes. Segundo ele, os outros 40% com expectativa de serem absorvidos logo são, principalmente, os profissionais de costura aptas a atuar com máquinas especiais.

Os demais, Gomes admite que devem demorar um pouco mais a conseguirem uma recolocação, especialmente de atividades mais simples, como limpeza.

"O Sindicato vai buscar saber as empresas que precisam de mão de obra para que os funcionários demitidos possam ser absorvidos. Eles também foram contemplados com máquinas, então torcemos para que o restante empreenda, passe a produzir para marcas parceiras", afirma.

O presidente da instituição ainda lamenta o encerramento das operações e pontua a estratégia da companhia.

É uma perda pro setor. Era uma empresa muito grande, com muitos colaboradores que perderam o emprego. Foi uma estratégia da empresa, em terceirizar essa produção e ficar só com as lojas. Eles sempre tiveram vocação aqui e produziam bem, mas estão preferindo fechar parcerias"
Daniel Gomes
Presidente do SindConfecções CE

Procurado, o secretário do Desenvolvimento Econômico do Estado, Salmito Filho, limitou a se manifestar sobre o assunto pelo Twitter. Em publicação, o gestor afirmou que é "Muito triste quando uma empresa fecha porque com ela fecham oportunidades sociais e econômicas para a nossa população".

Salmito ainda disse que o Governo estadual tem compromisso em "apoiar as empresas e atrair ainda mais empresas com o melhor ambiente de negócio possível".

O secretário não detalhou medidas concretas que serão tomadas para minimizar o impacto do fechamento da Guararapes.

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Incentivos fiscais

A Guararapes no Ceará é beneficiada desde 1998 com o Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI), por meio do Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Industrial (Provin).

Empresas incentivadas pelo Provin têm diferimento de até 75% do valor do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), com retorno do principal de até 25%.

A Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) informou que foi comunicada pela Guararapes do fechamento na segunda-feira (9) e que haverá um processo de apuração das pendências e obrigações que a empresa possa ter com o Estado.

Legenda: Funcionários estavam de férias coletivas e, ao retornarem para as atividades, foram comunicados do fechamento.
Foto: Fabiane de Paula

Ações em alta

Empresa com capital aberto ainda na década de 1970, as ações da Guararapes Confecções (GUAR3) abriram com queda de 2,18% em relação ao fechamento do dia anterior. Às 10h15, o ativo da companhia era cotado a R$ 5,82, valor que foi o mínimo do pregão.

Às 11h35, as ações saíram do vermelho e assim permaneceram durante o restante do dia. Às 16h34, o ativo registrava alta de 2,86%, a R$ 6,12.

Detalhamento

A Guararapes, em resposta a pedido de entrevista da reportagem para detalhar o processo de fechamento, pontuou que a nota divulgada "já abrange os motivos da decisão".

Também procurada, a Federação da Indústria do Estado do Ceará (Fiec), por meio da assessoria, informou que, até esta publicação, não se manifestaria sobre o assunto.

Legenda: As fábricas da Guararapes em Fortaleza somavam 9.800 m² de área construída.
Foto: Thiago Gadelha

Entenda o caso

O Grupo Guararapes possuía três fábricas na Capital cearense, localizadas no bairro Antônio Bezerra, e apenas uma ainda permanecia em funcionamento. As outras duas haviam sido fechadas em junho e em fevereiro do ano passado, totalizando, nos últimos 12 meses, cerca de 6 mil demissões, conforme funcionários da gestão. As fábricas de Fortaleza somavam 9.800 m² de área construída.

Desde dezembro, o Diário do Nordeste buscava o Grupo Guararapes de maneira contínua para cobrar um posicionamento oficial sobre o encerramento das atividades em Fortaleza. A nota foi enviada nesta terça, confirmando a informação de que "irá centralizar sua produção fabril em Natal, no Rio Grande do Norte. A decisão faz parte do planejamento estratégico da companhia com foco em otimizar a operação fabril para intensificar eficiência, competitividade e diversificação de produtos".

Veja nota do Grupo Guararapes na íntegra:

O Grupo Guararapes informa que irá centralizar sua produção fabril em Natal, no Rio Grande do Norte. A decisão faz parte do planejamento estratégico da companhia com foco em otimizar a operação fabril para intensificar eficiência, competitividade e diversificação de produtos. O modelo de negócio integrado do grupo permanece inalterado, preservando a cadeia de fornecimento nacional.

Vale frisar que a Guararapes preza, primordialmente, pelo cuidado e olhar humano, assim todos aqueles que foram afetados por essa decisão já estão recebendo a assistência devida juntamente com um pacote extra para auxiliar nesse período. 

A todos foi oferecido a extensão do plano de saúde pelo dobro do aviso prévio e o valor de meio piso salarial. As máquinas de costura industrial foram doadas às costureiras e aos demais foi fornecido um adicional de mais um salário. 

A Guararapes tem uma relação de longa data com o Ceará e seguirá atuando no estado por meio de suas lojas.

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