Só a Transnordestina viabilizará a pecuária, diz consultor

Para Luiz Roberto Barcelos, a ferrovia trará os grãos do Matopiba para os criadores cearenses, que hoje pagam caro pelo milho e a soja que trazem do Centro Oeste

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 05:23)
Legenda: As águas do S. Francisco já deveriam estar sendo transferidas permanentemente para o Ceará, mas a perspectiva nesse sentido é boa
Foto: Divulgação

Em que estágio se encontra a agropecuária cearense? Esta foi a pergunta que a coluna fez ao empresário Luiz Roberto Barcelos – que foi sócio fundador e diretor da Agrícola Famosa e agora empreende no interior de Goiás, onde planta e colhe soja em cerca de 2 mil hectares, mas dispondo ainda de tempo para prestar consultoria a grandes empresas do Ceará e de outros estados.

Na sua resposta, ele logo explicou que, obrigatoriamente, se torna necessária uma comparação com o que o setor era 30 anos atrás e o que ele é hoje.

“Houve um avanço extraordinário, a começar pela qualificação dos produtores, cujas fazendas operam na ponta tecnológica e eles mesmos estão antenados e atualizados com as intricadas questões da produtividade, ou seja, de como produzir mais com menos área e com menos água. Alguns deles já produzem com alto valor agregado, e este é um ponto muito positivo”, disse Barcelos.

Mas ele acrescentou outra verdade:

“Se, porém, a agropecuária do Ceará for comparada com a dos grandes estados produtores, como os do Centro-Oeste, aí a conclusão é de que estamos muito atrasados e temos muito a melhorar. Contudo, se ela for inserida no contexto da região Nordeste, podemos afirmar que está indo, está melhorando”.

Conhecendo o Brasil inteiro, principalmente a sua agricultura, e tendo testemunhado o desenvolvimento do agro do Ceará nas últimas três décadas, Luiz Roberto Barcelos – como se fosse um experimentado esculápio – emitiu um diagnóstico com palavras nuas e cruas:

“Não acredito que o Ceará possa desenvolver uma agricultura de sequeiro (dependente da água da chuva) como se faz, por exemplo, na Bahia, no Maranhão e no Piauí. Na geografia cearense, a agricultura só irá para a frente com irrigação, mas para isto torna-se obrigatória a segurança hídrica, algo de que o produtor do Ceará ainda não tem.

“Tudo parece estar pronto ou em vias de ficar de ficar pronto, como o Projeto São Francisco com o Ramal do Salgado, o Eixão das Águas e o Cinturão das Águas, mas todo esse sofisticado e caro complexo de recursos hídricos precisa estar 100% em operação.

“A perspectiva é muito boa, pois, afinal, estão aí as providências para a duplicação dos sifões do Eixão das Águas, do conjunto de bombas da Estação de Bombeamento de Salgueiro. Por enquanto, temos a boa perspectiva que só se tornará realidade quando as águas do rio São Francisco estiverem sendo, efetiva e permanentemente, transferidas para o Castanhão. Não devemos esquecer de que a irrigação precisa de energia elétrica, que é um gargalo que ainda persiste aqui.”

A coluna indagou: qual é, então, sua receita para quem já investe no agro do Ceará e, também, para quem pensa em investir nele? Eis a resposta de Luiz Roberto Barcelos:

“Com oferta hídrica garantida, será um tiro certo o investimento em frutas, hortaliças e flores, que são produtos de alto valor agregado, e eu faço uma aposta firme nelas. O solo e o clima do Ceará são propícios para a cultura do melão e da melancia, cujos mercados interno e externo expandem-se em alta velocidade”.

E a pecuária? Que futuro ela tem no Ceará? Barcelos dispõe de uma resposta pronta. E franca:

“A pecuária cearense, com as poucas exceções, ainda não me anima, primeiro porque os produtos que alimentam os rebanhos – milho, soja, sorgo – custam muito caro, pois vêm de fora. E aqui eu quero abordar a questão da logística de transporte: enquanto não ficar concluída a Ferrovia Transnordestina, a pecuária seguirá enfrentando esse percalço.

“Temos dois bons portos – o Pecém e o Mucuripe – mas precisamos da Transnordestina para que possamos trazer lá do Matopiba (Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia) os grãos que, aí sim, viabilizarão a atividade pecuária do Ceará, abrindo perspectiva para investimentos na melhoria genética dos rebanhos leiteiro e de corte e até – quem sabe – na implantação de um frigorífico, que é outro sonho antigo dos agropecuaristas cearenses.”

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