Maya Massafera fala sobre crise de disforia de gênero em Cannes; entenda o que é

Disforia pode prejudicar saúde mental e a convivência com outras pessoas

Escrito por Isabella Rifane* ,
Influenciadora Maya Massafera
Legenda: Influenciadora revelou que crise a impediu de comparecer a tapete vermelho do evento
Foto: Reprodução/Instagram

Em desabafo compartilhado nas redes sociais na noite dessa quarta-feira (22), a influenciadora Maya Massafera revelou sofrer episódios de disforia de gênero. Uma crise, inclusive, a teria impedido de comparecer a um tapete vermelho no Festival de Cinema de Cannes

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Nos stories de seu perfil no Instagram, Maya contou ter iniciado o processo de transição de gênero há cerca de um ano, de forma privada. “Todo mundo tem coisas boas e ruins, eu, por exemplo, tenho um lado ruim de ter ‘perdido’ 40 anos em um corpo que não me pertencia. E tenho ‘um lado bom’ de ter feito minha transição longe de tudo e de todos”.

Ao longo do processo, a influenciadora tem lidado com episódios de disforia, em que sente vontade de se afastar de outras pessoas.

“Às vezes, do nada ou por algum motivo, tenho uma disforia muito grande. Isso começou quando eu comecei minha transição. Os médicos me falaram que é normal muitas meninas trans sentirem isso nos primeiros anos de transição. Às vezes, a disforia é tanta, que eu realmente prefiro ficar sozinha e não ser vista por ninguém”, desabafou ela.

Ainda na publicação, Maya revelou ter sofrido uma crise durante participação no Festival de Cannes, após se arrumar para um dos tapetes vermelhos do evento. Mesmo pronta, a influenciadora desistiu de ir ao local por temer o julgamento da sociedade. 

“Essa minha viagem para Cannes está maravilhosa, porém, teve dia que eu não saí do quarto por [causa] da disforia. Teve dia em que fiz maquiagem, tirei as fotos e simplesmente não fui no tapete vermelho porque fiquei com muito medo do julgamento”, Maya contou. 

Apesar das crises, a influenciadora deixou claro que está bem e feliz e pediu que os seguidores sejam mais compreensivos consigo mesmos: “Não se cobrem tanto e não acreditem e se comparem com as pessoas no Instagram, pois só ‘vemos’ a parte boa que a pessoa quer mostrar”.

“Estou dividindo com vocês porque não quero ficar postando apenas roupas e joias, quero e vou ser uma pessoa real e influenciar vocês de maneira positiva [...] Eu amo vocês e prometo que Maya vai ser uma influência positiva”, finalizou. 

O QUE É DISFORIA DE GÊNERO?

Doutora em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (Unifor), a psicóloga Marilia Barreira** conversou com o Diário do Nordeste e descreveu a disforia de gênero como um sentimento de tristeza, angústia ou ansiedade causado pela incongruência de gênero, quando uma pessoa não se identifica com o gênero atribuído a ela no nascimento.

“Vou dar um exemplo: homens trans quando menstruam. Aquela menstruação, muitas vezes, vem acompanhada de uma tristeza, de uma ansiedade ou de uma angústia muito profunda em virtude daquela menstruação ser uma lembrança de que aquele corpo é um corpo feminino, mesmo tendo uma identidade de gênero masculina”, ilustrou a especialista.

IMPACTOS DA DISFORIA

Ainda segundo Marília, a frequência e o grau dos episódios de disforia varia de acordo com cada pessoa. Em alguns casos, eles acontecem de forma constante, impactando a saúde mental e o cotidiano dessas pessoas 

“Ela é uma lembrança contínua dessa incongruência, [então] faz com que muitas pessoas tenham dificuldade no sentido da socialização, no sentido de não conseguir vestir ou ter receio de vestir determinado tipo de roupa [...] Às vezes, faz com que a pessoa não consiga ter contatos íntimos numa relação amorosa”, afirmou a psicóloga.

Os episódios podem afetar até mesmo pessoas que já tenham passado pela transição, mas que ainda não tenham se acostumado com o novo corpo, fazendo com que elas sofram com certa distorção de imagem. 

“A gente viu essa semana a Maya Massafera falando que teve uma crise de disforia, mesmo ela tendo passado por todas as transformações que passou. A questão é que, às vezes, leva um tempo para se perceber nesse novo corpo [...] Pode acontecer dessa pessoa ter uma dificuldade de lidar com esse novo corpo, de ver esse novo corpo como seu corpo”, explicou Marília.

Ainda segundo a psicóloga, a tendência é que os episódios diminuam conforme a pessoa avança no processo de transição e acostuma com o novo corpo.

TERAPIA COMO ALIADA

Uma alternativa para diminuir os impactos da disforia é a terapia. Especialista no acompanhamento psicológico de pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, Marília afirmou que a assistência terapêutica ajuda as pessoas que sofrem com a disforia a ressignificarem as experiências em relação ao próprio corpo, diminuindo o impacto dos episódios.

“A terapia vai ajudar essa pessoa a ressignificar algumas das suas vivências, tanto vivências com corpo como vivências sociais. Inclusive, [também ajuda] a entender quais são as possibilidades que essa pessoa tem, independente do corpo, de socialização e inserção em espaço sociais, assim como também de tentar desenvolver uma relação legal com esse corpo”, afirmou a psicóloga.

*Estagiária sob supervisão do editor Felipe Mesquita.

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