Ventos mais fortes? Entenda por que nessa época o Ceará tem rajadas de até 60km/h

Os primeiros dias deste mês dão mostras que este período poderá ser intenso.

Escrito por André Costa , andre.costa@svm.com.br
Legenda: Esses ventos fortes podem ativar a "movimentação de grandes galhos e árvores pequenas"
Foto: José Leomar/Arquivo

Após o longo período de chuvas, iniciado ainda em dezembro do ano passado e que se estendeu - surpreendentemente - até o início deste mês, o cearense tem presenciado agora outro fenômeno climático: os fortes ventos.

As rajadas, que podem ultrapassar a marca dos 60 km/h, anunciam a chegada da chamada "temporada dos ventos", cujo início no Ceará se estabelece em agosto, seguindo até meados de outubro.

Os primeiros dias deste mês dão mostras que este período poderá ser intenso. Tem sido comum comentários como o do entregador Anderson Holanda: "tenho que fechar a janela do meu quarto para dormir, caso contrário, o vento derruba até os quadros".

Ele conta que, ainda durante seu expediente de trabalho, que se estende até 1h da madrugada, "jé é perceptível que os ventos estão bem mais fortes". "Tem hora que moto balança", brinca. 

Veja também

"Moro no segundo andar, em cima da casa dos meus pais. Gosto de dormir com a janela aberta para refrescar o quarto, mas agora não está tendo como. Tem dia que o vento bate forte, já derrubou até porta-retrato", brinca. Mas, então, o que explica tão fortes ventos nesta época do ano?

Ao Diário do Nordeste, o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), David Ferran, explica que "os ventos são mais intensos em relação aos outros meses devido à aproximação da Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS)".

"Quando esse sistema está próximo ao Brasil, os ventos alísios de sudeste ficam mais intensos. Além disso, eles podem ‘passar’ mais paralelos à costa do Ceará, ficando com isso, mais intensos", acrescenta David.

Quais regiões tendem a receber as mais intensas rajadas?

A especialista podnera que, devido ao sistema vir do Atlântico Sul, as regiões litorâneas estão mais proprícias a receberem os mais fortes ventos. Outras localidades que também tendem a ter rajadas maiores, são as "regiões altas", isto é, a Serra.  

Os ventos podem atingir quais velocidades?

A percepção do cearense de que os ventos estão mais fortes neste início se comprova em números. Conforme levantamento realizado pela Funceme, a pedido do Diário do Nordeste, agosto tem a maior média dos ventos dentre todos os meses do ano.

Veja também

Em agosto, a média das rajadas é de 31,5 km/hora. Setembro vem logo atrás, com média de 31,1km/hora. No lado oposto, estão os meses de abril e março, com respectivamente 14,8 km/h e 16,3 km/h. Estes são os períodos os quais os ventos são mais brandos. 

  • Janeiro: 22,2 km/h
  • Fevereiro: 18,5 km/h
  • Março: 16,3 km/h
  • Abril: 14,8 km/h
  • Maio: 19,6 km/h
  • Junho: 24,4 km/h
  • Julho: 28,1 km/h
  • Agosto: 31,5 km/h
  • Setembro: 31,1 km/h
  • Outubro: 29,6 km/h
  • Novembro: 27,4 km/h
  • Dezembro: 24,8 km/h

Para além dessa média, as rajadas podem atingir intensidade maiores. Vinícius Oliveira, meteorologista da Funceme, destaca que os ventos podem atingir pico de até 63 km/h. Estes, no entanto, são repentinos e de curta duração.

Os ventos podem apresentar risco à integridade física?

Diante dessas rajadas tão intensas, há algum risco às pessoas ou a estruturas físicas? No que se refere às estruturas, David Ferran diz que depende do local.

"Cada caso deve ser avaliado por um especialista". Esses ventos, no entanto, podem ativar a "movimentação de grandes galhos e árvores pequenas".

Deste modo, eventos naturais como estes podem apresentar algum tipo de risco, por isso, recomenda-se que, durante as fortes rajadas, as pessoas busquem abrigo seguro. 

A boa quadra chuvosa pode potencializar os fortes ventos?

Ao contrário do que imagina o senso comum, muita chuva não significa, necessariamente, fortes ventos. O  meteorologista da Funceme, David Ferran, aponta que, "normalmente, existe uma relação inversa, em que anos que chove muito, há tendência de ventar menos (vento médio), principalmente no primeiro semestre".

Quando se observar apenas o segundo semestre do ano, a especialista explica que não há relação significativa entre ambos os fenômenos. 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.