Vacina bivalente: tire dúvidas sobre o imunizante atualizado que será aplicado contra Covid em 2023
Doses vêm com possibilidade de combater diferentes subvariantes, mas não deve atender a toda população
A vacina bivalente, que é uma atualização do imunizante contra a Covid-19 mais efetivo contra a Ômicron original e novas subvariantes, deve escrever um novo capítulo da luta contra o coronavírus após 3 anos, em 2023. Por outro lado, parte dos cearenses estão atrasados nessa história e permanecem com o esquema vacinal incompleto.
O Ministério da Saúde recebeu 4,4 milhões de vacinas bivalentes, fabricadas pela Pfizer, até esta segunda-feira (12). As doses só serão distribuídas aos estados após análise do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS).
Mas quem deve receber esse novo imunizante? O cronograma e as orientações para aplicação “serão formalizados em nota técnica nos próximos dias”, como informou o Ministério da Saúde ao Diário do Nordeste.
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O Brasil deve receber 36,3 milhões dessas doses atualizadas até fevereiro de 2023, conforme o cronograma divulgado pela Pfizer. Isso inclui dois tipos de vacinas bivalentes que protegem contra as novas formas mais transmissíveis do coronavírus.
Esses imunizantes, usados em países como Estados Unidos, foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em pessoas acima de 12 anos.
“Já temos vacinas com novos vírus, que possuem as variantes BA.4 e BA.5, que, embora sejam diferentes das novas variantes, em especial a BQ.1, tem mais semelhanças do que as vacinas que ainda utilizamos no Brasil”, analisa a médica epidemiologista Lígia Kerr.
Ainda assim, existe um comportamento perigoso entre os cearenses de não completar o esquema vacinal. Nesta terça-feira (13), apenas 2,1 milhões de pessoas receberam a D4 no Ceará, enquanto o número ideal deveria ser mais do que o dobro.
Isso porque, há 4 meses, 4,9 milhões de pessoas receberam a D3 e estão aptas a completar o esquema vacinal. Estão fora dessa lista as pessoas menores de 18 anos, que recebem apenas 3 doses do imunizante.
“A vacina é muito importante, principalmente, para a proteção dos casos graves, mas ocorreu um certo relaxamento no completar das doses vacinais”, resume a infectologista Melissa Medeiros.
O que é a vacina bivalente?
A vacina bivalente usa a forma do coronavírus Ômicron original e uma subvariante na sua composição. No caso dos imunizantes que serão recebidos no Brasil, uma fórmula é feita com a subvariante BA.1 e a outra com a combinação BA.4/BA.5.
Isso é importante, porque as vacinas disponíveis até o momento foram fabricadas com o coronavírus original identificado em Wuhan, na China, no início da pandemia. Com tantas mutações no vírus desde então, há o que os cientistas chamam de escape vacinal.
Quando um paciente é infectado pelas subvariantes, há uma chance da infecção “furar” a proteção oferecida. Isso é motivo de preocupação, principalmente, para os pacientes idosos e com problemas no sistema imunológico.
As novas fórmulas, no entanto, "podem aumentar a proteção contra esses vírus que estão vindo com uma variação muito importante na composição de DNA", como analisa Melissa Medeiros.
Até agora a gente se vacinou com vacinas produzidas a partir de uma cepa original dos primeiros coronavírus que rodaram pelo mundo. A gente percebeu que foram surgindo novas ondas causadas por variantes
Além da novidade, existe uma perspectiva de produção de uma vacina trivalente, que deve ser feita com o vírus original e as variantes Delta e Ômicron. Essa pode ser uma nova roupagem da Coronavac.
A Anvisa e o Instituto Butantan se reuniram para apresentar informações sobre isso na última sexta-feira (9). Os dados ainda são preliminares.
Quem deve receber a vacina bivalente?
Ainda não há uma definição do Ministério da Saúde sobre o público prioritário para receber os imunizantes atualizados. Como, pelo menos inicialmente, não haverá doses suficientes para toda a população, os especialistas apontam a necessidade de começar pelos idosos.
"A gente deve começar com as pessoas mais idosas, porque a partir de 60 anos têm o envelhecimento do sistema imunológico. Pessoas com imunidade baixa também precisam tomar essa vacina com prioridade", explica a infectologista.
Quem possui fragilidades no sistema de defesa do organismo, como pacientes com doenças autoimunes, também devem estar primeiro na fila para as vacinas atualizadas, como acrescenta Melissa.
"Isso é importante, principalmente, para as pessoas mais susceptíveis, porque a gente aprendeu que as pessoas com imunidade mais baixa terão dificuldade de manter essa resposta imunológica sempre pronta para combater as novas variantes que vão surgindo", frisa.
Vacina contra Covid e o risco de miocardite
O risco da vacina contra a Covid gerar miocardite, que é a inflamação do músculo do coração, ou pericardite, que atinge o tecido que envolve o coração, causa dúvidas na população, mas não há motivo para medo.
"Efeitos colaterais têm em vários tipos de vacinas, vimos que miocardite e pericardite aconteceram em pacientes bem mais jovens, principalmente, adolescentes. É um efeito colateral muito raro, como pode acontecer com qualquer medicação", contextualiza Melissa.
O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos registrou apenas 11 casos de miocardite entre as mais de 8 milhões de doses da vacina da Pfizer aplicadas em crianças com idades entre 5 e 11 anos, como divulgou a Fiocruz, em março.
Os casos de miocardite e pericardite são muito mais frequentes entre casos que tiveram a doença do que entre os vacinados. Desta forma, como nossos riscos são muito, mas muito menores do que se tivermos a doença, o melhor é nos protegermos e nos vacinarmos
Os casos apresentados no relatório tiveram boa recuperação. E o risco de desenvolver essas doenças, inclusive, está mais relacionado à infecção pelo coronavírus do que em resposta à vacinação, como analisa Lígia Kerr.
“Quando optamos por usar uma vacina, na população, significa que a proteção dela supera, em muito, seus possíveis efeitos colaterais. Assim acontece com a vacina contra a Covid-19.”
As vacinas disponíveis ainda são efetivas?
Os imunizantes já conhecidos pela população permanecem eficazes contra a Covid-19, como apontam especialistas e o Ministério da Saúde. Isso porque são capazes de gerar uma proteção contra as formas graves e mortes.
"O mais importante, que temos visto nos estudos, é que manter a imunidade alta - e a imunidade celular é mais importante no combate aos vírus - para conseguir combater essas variantes a tempo", analisa Melissa Medeiros.
Ela contextualiza que hoje há uma imunidade híbrida em que os anticorpos são gerados tanto por novas doses da vacina quanto pela infecção natural do coronavírus. Isso fica registrado nas células que defendem o corpo no caso de novas transmissões.
Por isso, é determinante cumprir com o esquema vacinal, recebendo todas as doses conforme a faixa-etária, como acrescenta Lígia Kerr. “Mesmo com novas variantes, ficamos mais protegidos contra internações e óbitos. Temos que vacinar aqueles que ainda não tomaram suas doses, bem como as crianças”
Essa atitude evita também sequelas que a doença pode causar em pacientes desprotegidos. “Cada reinfecção aumenta a chance de ser internado, ir a óbito ou ter sequelas, como Covid-19 longa”, conclui Lígia.