Aluno do CE cria robô semeador para ajudar agricultura da própria cidade e é premiado nacionalmente
A criação do protótipo ocorreu em 2020, ano em que Ud Madeiro entrou na rede pública estadual, na Escola de Ensino Profissional Edson Queiroz.
Sob o sol de 30ºC, agricultores executam as atividades na zona rural de Pindoretama de forma braçal. Trabalho árduo na cidade localizada na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). A realidade de aspectos desgastantes e de pouca inserção de tecnologia é observada de perto, desde a infância, pelo estudante Ud Madeiro Pereira, morador do município. Foi ela que o despertou para uma criação de efeito inicialmente local, mas que hoje é reconhecida nacionalmente: um robô semeador.
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O protótipo foi concebido em 2020, ano em que Ud entrou na rede pública estadual, na Escola de Ensino Profissional Edson Queiroz, na cidade vizinha, Cascavel. “No Ceará, em muitas cidades, a melhor escola que tem no ensino médio é da rede pública”, defende.
Hoje, com 18 anos, ele está concluíndo esta etapa de ensino. Os potenciais criativos do estudante se acentuam no trajeto rumo à formação superior. A meta é ingressar na Universidade de São Paulo (USP) para cursar engenharia mecatrônica ou engenharia elétrica com ênfase em controle e automação.
Esta matéria integra a série “Terra de Sabidos”, publicada pelo Diário do Nordeste com patrocínio da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, cujo foco é contar histórias de estudantes da rede pública estadual do Ceará e da rede municipal de Fortaleza, que, via educação, tiveram as trajetórias alteradas, conquistado oportunidades e reconhecimentos local, estadual e nacional.
Do Ensino Fundamental na rede particular ao Ensino Médio realizado na escola pública, Ud guarda consigo inquietações e potenciais.
A mistura dessas duas dimensões resulta em ideias executáveis e, posteriormente, se materializam em dispositivos reais. Uma equação criativa que parte de demandas sociais reais e as conecta à criação de tecnologia como solução.
Qual a finalidade do robô?
No caso do robô semeador, também chamado de Vespertílio, o intuito é melhorar as condições de produção de alimentos por meio da automatização de processos na agricultura familiar, de modo a melhorar essa atividade. Isso com uma tecnologia de baixo custo e fácil manuseio, gerando efeito tanto na experiência dos trabalhadores quanto nos resultados.
“Eu tive a ideia de criar o robô e eu não tinha experiência na área metalúrgica e ele ficou muito desalinhado e não conseguia andar direito e fiz a partir de peças usadas em motos que já são alinhadas industrialmente. Eu mesmo desenhei e desenvolvi”.
O protótipo de robô, que segundo UD, ainda é uma criação bastante elementar. É feito, dentre outros, de uma estrutura de sustentação com quadros elásticos de moto, cubos para eixos, coroas para a movimentação, cano de PVC, tampo de madeira e garrafa PET.
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“O robô, basicamente, na primeira versão, tem uma peça que vem rasgando um solo, em seguida tem um sistema eletrônico que vem soltando a semente. Depois vem uma peça de arrasto cobrindo essa semente tampada. Isso torna o plantio mais preciso e rápido”.
A criação, ressalta ele, é fruto do gosto por “enveredar por problemas sociais. No mundo, 800 milhões de pessoas têm problemas relacionados à alimentação. E é nesse sentido que surgem as ideias para solucionar. Vejo que a forma como é feito (o plantio) é a mesma de milênios. A mecanização agrária pode melhorar consideravelmente a agricultura familiar”, completa.
Ud é filho do artista plástico, Antonio Jader Pereira dos Santos, conhecido como Dim Brinquedim, e da professora Angela Madeiro. Na família, incentivos à criatividade, relata ele, não faltam.
Esse estímulo à experimentação resultou, em pleno ensino médio, no robô que, especifica Ud, pode ser enquadrado no que chama de MVP, o Mínimo Produto Viável, que é uma versão bem simplificada de uma solução com funcionalidades básicas. “É a sinalização de que a ideia pode ser real. O projeto é a prova de conceito”, acrescenta ele.
Reconhecimentos
A criação de Ud já foi reconhecida diversas vezes, dentre elas uma medalha na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) em 2020, e o 1º lugar no Prêmio “Respostas para o Amanhã”, no mesmo ano. Este último é um programa global da Samsung, no qual alunos e professores da rede pública do Brasil são desafiados a desenvolverem soluções científicas ou tecnológicas para problemas locais.
Os reconhecimentos resultaram na conquista de uma bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), instituição de incentivo à pesquisa ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. A atividade se desenvolveu por dois anos - em 2020 e 2021.
O robô, por ser um protótipo, carece de investimento para ser aprimorado. Tal limite impõe desgaste e frustrações ao estudante. Já foram muitas as tentativas de financiamento para o projeto cuja estimativa é de 50 mil reais para produção de um modelo piloto mais robusto.
“Uma das coisas que me dá prazer é desenvolver tecnologia”, reforça. Ud não represa a criatividade embora saiba que materializá-la é desafiante. Enquanto aguarda, Ud encara uma maratona de estudos para tentar ingressar no ensino superior. Tem novos planos de conhecimento. A expectativa é que, em 2023, esse saber acumulado deságue na universidade.