Aluna 'ouro' em Olimpíada Nacional presidiu grêmio estudantil e criava playlist para estudar no CE

Na competição escolar que reúne anualmente estudantes do Brasil inteiro, Maria Isabel Silvestre Santos, da rede municipal, se destacou

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@svm.com.br
Aluna do CE é ouro em olimpíada nacional
Legenda: Maria Isabel Silvestre Santos, moradora do grande Mucuripe em Fortaleza, foi medalhista de ouro em 2022, na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA).
Foto: Fabiane de Paula

Cursar Enfermagem, Química, Administração, Direito ou Psicologia. A lista é vasta, tais quais são as aspirações, curiosidades e inquietações da adolescente Maria Isabel Silvestre Santos, moradora do grande Mucuripe em Fortaleza. Ela, estudante do 9º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública municipal, com 15 anos, elabora “planos de futuro” e vivencia na educação processos para concretizá-los.  

No percurso, além dos sonhos e do gosto por leituras de áreas e temas diversos, Isabel acumula alguns reconhecimentos: foi medalhista de prata em 2020; e de ouro em 2022, na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). Na competição escolar que reúne anualmente estudantes do Brasil inteiro, Isabel evidenciou a relevância do saber.   

Esta matéria integra a série “Terra de Sabidos, publicada pelo Diário do Nordeste com patrocínio da Assembleia Legislativa do Ceará e cujo foco é contar histórias de estudantes da rede pública estadual do Ceará  e da rede municipal de Fortaleza, que, via educação, tiveram as trajetórias alteradas, conquistado oportunidades, e reconhecimentos local, estadual e nacional.  

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Na trajetória juvenil, ela, uma das centenas de adolescentes residentes do bairro Vicente Pinzón - no grande Mucuripe - área de Ìndice de Desenvolvimento Humano (IDH) "muito baixo", segundo dados utilizados pela Prefeitura de Fortaleza, enfatiza a escola como espaço de encontro e respeito.

Ela destaca sem constrangimento que: “deseja muito para si”, em paralelo, esse anseio se estende “aos outros”. 

Os outros em questão são moradores do mesmo bairro, dividem a mesma sala de aula, cantina, laboratórios, estruturas, a escola; compartilham a mesma faixa etária, o contexto social, as limitações, os anseios e as agitações características da idade. 

Estudar na escola pública

Isabel ingressou na Escola Municipal Maria Felicio Lopes, também conhecida como Centro Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC) Maria Felício Lopes, localizada no Cais do Porto, aos 12 anos, para cursar o 6º ano do fundamental.

Até a metade do 5º, o percurso tinha sido na rede particular. Limitações financeiras dos pais, explica, a fizeram trocar de instituição.

Em 2022, no 9º ano, das 13h às 17h, Isabel estava na escola, que funciona em uma estrutura provisória, pois o prédio original da unidade foi derrubado, neste ano, para uma grande reforma. Isabel preparou-se para deixar o CAIC ao final do letivo. 

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Em 2023, ingressará em uma outra rede de ensino - ou a pública estadual; na qual já apontou as escolas da área que deseja ingressar; ou na federal, pois tentou vaga no IFCE - e apostará nos novos conhecimentos e experiências. 

Maria Isabel aluna da rede pública
Legenda: Na competição escolar que reúne anualmente estudantes do Brasil inteiro, Isabel deu evidência aos saberes do Ceará.
Foto: Fabiane de Paula

“Estudei em escola particular até a metade do 5º ano. Meus pais não tinham mais condições de pagar. Terminei o 5º ano em uma escola pública perto da minha casa. Minha mãe procurou novamente vagas em outras escolas públicas e só tinha vaga no CAIC. Só que ele era 'mal falado'. Meus pais ficaram com receio e quando eu vim e eu achei a realidade diferente”
Maria Isabel
Estudante da rede pública

Do estereótipo ao contato real, Isabel mudou a percepção. Conta que após o convívio conseguiu estabelecer boas relações e entendeu que os colegas de sala, muitas vezes, “têm bastante dificuldades”. E dessa convivência, explica ela, despontou a vontade de mudança. 

“Eu criava grupos online antes das provas. Gostava de sentar com eles em volta para explicar os assuntos. Isso porque eu acho que consigo falar mais na linguagem deles. Acho que os meus colegas não são tão instigados e precisam de pessoas que os coloquem pra frente. Os alunos são tão humildes. Eu gosto de fazer eles irem para frente. Tem um aluno na minha sala, por exemplo, que é excelente. Mas eles passam por muitas dificuldades”.
Maria Isabel
Estudante da rede pública

O apreço pela escola, acredita, vem da infância. “Desde pequena eu gosto da escola. Minha mãe dizia que quando ela ia deixar meu irmão, ele gritava para não entrar. E eu, não olhava nem para trás. Eu ia logo. Sempre gostei. E meus pais sempre me dão apoio”.

Para ela, destaca: “a escola é o primeiro lugar em que você tem convivência com a sociedade. É onde a gente aprende. O grêmio estudantil é a primeira política. As disciplinas te ajudam a conviver bem com as outras pessoas, a ter respeito. Educação da escola é uma das coisas mais importantes na vida. As que não tiveram têm muita dificuldade”. 

Reconhecimento

Na Escola, ela já foi presidente do grêmio estudantil e hoje compõe o Conselho Escolar representando os estudantes. No acervo de reconhecimentos, além dos relatos dos colegas, Isabel guarda ainda medalhas e certificados ganhos na OBA, Olimpíada organizada pela Sociedade Astronômica Brasileira (SAB). 

Maria Isabel
Legenda: Do estereótipo ao contato real, Isabel mudou a percepção sobre a escola pública.
Foto: Fabiane de Paula

A competição envolve conhecimento em Ciências, Física e Geografia, e é um evento aberto aos alunos de todas as séries do Ensino Fundamental (1º ao 9º ano) e do Ensino Médio (1º ao 3º ano). 

“Quem me inscreveu (na OBA) foi meu professor de ciências. Ele disse que estava vendo meu desempenho na matéria e resolveu me inscrever. A OBA é uma Olimpíada de uma fase só. Procurei o edital, porque eu nunca tinha visto nada daquilo, então, eu resolvi fazer playlists no youtube com vídeo-aulas e foi isso que me ajudou bastante”. 
Maria Isabel
Estudante da rede pública

E completa: “Eu não sabia nem se eu ia gostar da Olimpíada, mas assistindo às aulas, eu comecei a me interessar pelos assuntos, principalmente na parte de astronáutica”. A prova presencial foi aplicada em 2021, uma semana depois o exame atestou o bom desempenho: veio a medalha de ouro. 

No embalo das competições escolares que testam o conhecimento de alunos no país inteiro, Isabel, em 2022, também participou da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Inscrita por outro professor (o de Matemática), que a estimulou, agora, a estudante aguarda o resultado.