Onde estão e qual a diferença entre os 17 espigões da orla de Fortaleza
Enquanto equipamentos de bairros nobres são bastante frequentados, os da periferia sofrem com falta de manutenção e investimentos em melhoria.
Dois espigões do litoral de Fortaleza estão em processo de concessão à iniciativa privada para a instalação de equipamentos de lazer. No entanto, a cidade conta com pelo menos 17 estruturas do tipo, da Barra do Ceará ao Titanzinho, e algumas recebem usos diferentes da finalidade original.
Espigões (ou molhes) têm como objetivo proteger o litoral do processo erosivo porque retêm sedimentos que são transportados pelo movimento das ondas e correntes marítimas.
Porém, com o tempo, os espigões construídos na Avenida Beira-Mar foram se tornando espaços de lazer pela ocupação de banhistas e visitantes, recebendo caminhadas e pedaladas ou servindo como pontos de encontro. Recebendo iluminação pública, são frequentados até à noite.
O vencedor da licitação em curso deverá cuidar da instalação, gestão, operação e manutenção de empreendimentos de entretenimento no local. Anteriormente, a Prefeitura havia cogitado até mesmo uma roda gigante no equipamento da Rua João Cordeiro, mas o projeto foi encerrado.
Segundo a gestão municipal, as novas propostas devem buscar o respeito a esses bens públicos, melhorando aspectos de acessibilidade e estrutura e trazendo soluções inovadoras, pois os considera “áreas subutilizadas”.
A Prefeitura espera que a concessão possa fortalecer um “potencial socioeconômico que hoje não é explorado”, incentivando seu uso efetivo por moradores e turistas e, por consequência, gerando “um retorno financeiro e cultural” para a cidade.
Estruturas sem utilização
No entanto, esse mesmo apelo turístico não se reproduz em outros 11 espigões localizados na periferia de Fortaleza, entre o Pirambu e a Barra do Ceará. Fábio Lessa, presidente do Instituto Cai Cai Balão e morador do Pirambu, reforça que eles “não têm nada a ver” com os da área nobre da Capital.
“Aqui, eles são somente de pedra, utilizados basicamente por pescadores e sofrem com a falta de manutenção. Quando a maré enche, tem um na Rua Santa Rosa que é inclusive coberto por completo, o que pode ser consequência do aterro feito no litoral leste”, explica.
O único com trato diferencial na área, aponta Lessa, é o que abriga o Mirante Rosa dos Ventos, no bairro Cristo Redentor. Ele teve sua urbanização inaugurada em 2011, ganhando calçamento, cobertura e acessibilidade.
Para o líder comunitário, os demais também poderiam passar por reformas e receber itens básicos como calçada e corrimão, permitindo seu uso como espaço de caminhadas e passeios, “facilitando o lazer da comunidade”.
Exclusão de espaços
Angerlânia Barros, historiadora cearense e doutoranda em História e Espaços pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), avalia que, embora a orla fortalezense seja banhada pelo mesmo mar, há pouco planejamento urbanístico para bairros periféricos.
“A Capital não vai vender a periferia; ela vende o Centro, os bairros elitizados, a Beira-Mar, os espigões do Meireles. E é interessante também entender a própria dinâmica da cidade, internamente: a periferia visita o centro, mas o centro não visita a periferia”, percebe.
Para ela, a maior presença de turistas e de agentes de segurança favorece a priorização de bairros elitizados, ao passo que o abandono e disputas entre organizações criminosas afastam frequentadores de áreas como a Vila do Mar, tornando-a de uso exclusivo de moradores próximos.
“Além disso, a exclusão começa também na própria condição do indivíduo. Os bairros populares são onde moram os trabalhadores, que saem cedo e voltam tarde para casa, então por que vou fazer um equipamento turístico onde essas pessoas não têm como usufruir? Quem tem esse tempo é a elite”, analisa.
História dos espigões na cidade
A instalação deles em Fortaleza ganhou força a partir da década de 1940, com a construção do molhe do Titan no Porto do Mucuripe. Hoje, ele se estende por quase 2 km, de acordo com a Secretaria de Portos do Governo Federal.
Vizinho a ele, foi construído o molhe do Titanzinho, em 1963, ajudando a proteger a área do Porto. Porém, com os processos erosivos corroendo a Praia de Iracema, ela recebeu o espigão da Rua João Cordeiro, em 1969. Porém, ele não foi suficiente para resolver o problema.
Para conter o avanço do mar, o poder público construiu mais 11 molhes de proteção na década de 1970 e início dos anos 1980, da praia do Pirambu à Barra do Ceará, de acordo com estudo do Laboratório de Gestão Integrada da Zona Costeira (LAGIZC), da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
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Segundo os pesquisadores, as estruturas construídas são “bastante eficientes” em proteger o litoral contra o ataque das ondas. Duas décadas depois, em 2000, foi entregue o espigão da Avenida Rui Barbosa, para proteger o recém-criado Aterro da Praia de Iracema.
Já em 2011, mais um foi implantado no Poço da Draga, desta vez para prevenir a erosão no novo Aterrinho (hoje conhecido como Praia dos Crush). O mais recente é o espigão do Náutico (na Av. Desembargador Moreira), concluído em 2016, novamente para evitar a perda de sedimentos do Aterro.