O que diz o 1º relatório preliminar do ONS sobre falha em linha do Ceará que causou apagão nacional

Sem queimadas ou tempestades no dia do apagão, hipótese de curto-circuito foi descartada

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Relatório final sobre o problema no fornecimento só deve ser divulgado em 45 dias úteis
Foto: Freepik

O apagão nacional do dia 15 de agosto segue com causas indefinidas, mas as primeiras pistas da ocorrência começaram a ser divulgadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Em informe preliminar publicado na noite desta quinta-feira (17), a entidade descreve falhas que teriam iniciado no Ceará e gerado uma reação em cadeia para 25 Estados e Distrito Federal.

Segundo o documento, a perturbação na rede teve início às 8h30, com a abertura - ou seja, parada na operação - da linha de transmissão 500 kV (kilovolts) Quixadá–Fortaleza, “provocada por atuação incorreta do seu sistema” de proteção. No entanto, o corpo técnico descarta a incidência de curto-circuito no sistema elétrico. 

Não houve registro de queimadas ou tempo severo no momento da perturbação, fatores que poderiam comprometer a operação. O Operador confirma que, “isoladamente, um evento dessa natureza não é suficiente para ocasionar” o apagão.

Após a abertura da linha, se observaram oscilações de tensão e frequência com propagação para outros equipamentos, atingindo os sistemas das regiões Norte e Nordeste. 

Causa do apagão

Transcorridos 600 milissegundos, foram acionadas proteções automáticas que provocaram o corte controlado de linhas que compõem as interligações e separaram o sistema nacional (SIN) em três áreas elétricas.

Como consequência, ocorreu a interrupção de aproximadamente 19.000 megawatts de carga do SIN, o que correspondia a cerca de 27% da carga total do sistema.

Com o problema no Nordeste, o ONS precisou pôr em ação o esquema regional de alívio de carga (Erac), método que desconectou momentaneamente o sistema do Norte e o Nordeste das outras regiões para que o problema não afetasse o resto da rede.

“As indicações iniciais são de que a atuação dessas proteções foi correta”, afirma o texto. As cargas do SIN foram 100% recompostas às 14h49min.

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Relatório final em 45 dias

Desde terça (15), o ONS informa que o sistema está sendo operado em “condições mais conservadoras” para garantir a continuidade do atendimento “após a ocorrência de perturbações de grande porte”, até que sejam identificadas e solucionadas as causas das perturbações.

A avaliação detalhada da ocorrência, da causa-raiz, a sequência de eventos, o desempenho das proteções e as recomendações e providências constarão no Relatório de Análise e Perturbação (RAP), que deve ser finalizado em até 45 dias úteis.

Antes disso, estão programadas reuniões de apuração e consolidação das informações para os dias 25 de agosto e 1º de setembro, com a participação do Ministério de Minas e Energia (MME), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e dos agentes de geração, transmissão e distribuição envolvidos.

Sem energia

Ainda na noite da última terça, em coletiva de imprensa, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, declarou que "uma sobrecarga no sistema do Ceará ocasionou o desligamento". Em algumas cidades, pessoas ficaram mais de 6 horas sem acesso à eletricidade.

"O que se sabe é que para que haja um evento dessa magnitude, há de se haver uma redundância de fatos relevantes. E um desses fatos já está detectado pelo ONS e aconteceu mais precisamente no norte do Nordeste, mais precisamente no Ceará", comentou o ministro. 

Ainda em coletiva, o ministro comentou sobre a hipótese inicial de um evento na Subestação Xingu, que fica próxima a Belo Monte, no Pará, devido à magnitude do sistema. Entretanto, apurações mais detalhadas do ONS detectaram o problema em território cearense. 

 

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