‘Muitas vezes que radicalizei fiquei sem nada’, diz Lula no CE sobre greve de universidades federais
Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste à Verdinha, presidente falou sobre cenário atual do ensino superior
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou, durante entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste e à Verdinha, na manhã desta quinta-feira (20), logo que desembarcou na Base Aérea de Fortaleza, sobre o atual cenário do ensino superior brasileiro, imerso em greves de servidores e professores.
Questionado pela jornalista Jéssica Welma, editora de Política do Diário do Nordeste e Verdinha, sobre “por que está tão difícil chegar a um desfecho” da greve, o presidente reconheceu o direito de “todo e qualquer movimento fazer greve e reivindicar”, mas lamentou a indisposição dos profissionais em chegar a um acordo.
Quando nasci no movimento sindical, eu era muito radical. Dizia ‘80% ou nada’, ‘100% ou nada’. Mas aprendi que entre 100% e 0% tem muita coisa. Tem 40, 50, 60%. E muitas vezes que radicalizei eu fiquei sem nada.
“O que as pessoas não podem esquecer é o que já foi feito. Oferecemos, em média, entre 28% e 43% de reposição. Fizemos benefícios que sequer acreditavam que fôssemos fazer. Demos 9% antecipados no ano passado. Fico triste porque ninguém agradeceu os 9% e fazem greve por 4,5% que não demos neste ano”, citou Lula.
O presidente atribuiu, ainda, a impossibilidade de avançar mais nas negociações ao pouco tempo de mandato. “Se não demos, porque não podemos dar, não significa que nos próximos anos não possamos dar mais do que os 4,5% que pedem. Eles (trabalhadores) só têm que entender que estamos apenas há 1 ano e 6 meses no governo”, ponderou o mandatário.
“Foram quase 8 anos de estagnação nesse país. Vamos colocar as coisas no lugar. Na reunião com reitores, eu e Camilo que falamos da greve. É importante analisar o que vocês têm na mão”, complementou Lula, em fala direcionada aos servidores e docentes.
‘Estão prejudicando os alunos’
Durante a entrevista, Lula destacou a admiração pela educação do Ceará, justificando nos bons resultados do Estado a escolha de Camilo Santana (PT) para o Ministério da Educação (MEC).
“Chamei o Camilo porque todos os indicadores, seja de iniciativa privada ou do IBGE, provaram que o Ceará tinha conseguido fazer a melhor educação no ensino fundamental. Aqui a educação funcionou, deu resultado. E é isso que queremos: que a educação do Brasil seja ainda melhor que a do Ceará”, projetou o presidente.
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Ainda sobre a greve nas universidades e institutos federais, Lula reforçou que para ambos, Camilo e ele, “não falta diálogo”.
“Vocês (professores e servidores) não estão prejudicando o Lula, estão prejudicando os alunos, que estão perdendo bons dias e boas horas de aula. Espero que tenham compreensão de que no meu governo não falta diálogo”, frisou.
Greve em federais
A greve de Técnico-Administrativos em Educação (TAE) de instituições federais já se prolonga desde 15 de março, e um mês depois foi iniciado o movimento pelos docentes do ensino superior. Todas as categorias reivindicam reestruturação das carreiras junto com recomposição salarial.
No Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE), os professores e outros servidores paralisaram as atividades desde o dia 11 de abril. Em assembleia nessa quarta-feira (19), os trabalhadores do instituto realizaram assembleia e aceitaram as propostas do Governo Federal, o que pode encerrar a greve. O posicionamento será informado ao Comando Nacional de Greve em uma plenária que ocorre entre esta sexta-feira (21) e sábado (22).
A greve só será encerrada após a assinatura de um termo de acordo contendo todos os itens das propostas, entre o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação (Sinasefe) e o governo federal.
No último dia 14, durante lançamento de editais para a construção de mais 38 escolas de Ensino Médio em Tempo Integral no Ceará, o ministro Camilo Santana opinou “que é o momento de a gente encerrar essa greve”.