Maioria das crianças que morreram de Covid em 2022 nasceu durante a pandemia

De janeiro a abril, 38 vidas de pequenos cearenses foram abreviadas pelo coronavírus, 28 delas de até 2 anos

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Profissional de saúde carrega criança nos braços
Legenda: Crianças de 0 a 2 anos concentram 74% das mortes infantis por Covid em 2022
Foto: Fabiane de Paula

A face perversa da pandemia continua se expondo todos os dias no Ceará, com ou sem máscara. De janeiro a abril, pelo menos 38 crianças de até 11 anos morreram de Covid aqui – 28 delas, uma maioria absoluta, tinham até 2 anos de idade.

Para se ter ideia, é como se o coronavírus levasse embora pelo menos 1 bebê em cada semana de 2022 até aqui. Os dados são do Integra SUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), e abrangem os registros até abril.

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Em relação aos casos, o cenário muda: dos mais de 14 mil confirmados em crianças até abril, só 29% foram entre os bebês. A maior parte (59%) atingiu pessoas de 5 a 11 anos, faixa etária já vacinada; e os outros 12% correspondem aos pequenos de 3 e 4 anos de idade.

O médico Robério Leite, infectologista pediátrico, destaca que o número de óbitos por Covid é ainda mais expressivo entre menores de 1 ano de idade. Isso acontece porque “essas crianças têm um sistema imunológico imaturo, um trato respiratório mais vulnerável”.

É provável, ainda, segundo Robério, que “boa parte dessas crianças que evoluíram a óbito tenha alguma condição associada, como cardiopatias, por exemplo”. É essa faixa etária a mais exposta a complicações e mortes por vírus respiratórios.

Isolamento social e imunidade

Crianças que nasceram na pandemia amargaram, desde o início, os efeitos nocivos do isolamento social, necessário para proteção contra a Covid. As consequências, então, foram múltiplas – de biológicas a comportamentais.

“Teoricamente, as crianças durante a pandemia, no período de maior isolamento, podem ter tido um treinamento menor do seu sistema imunológico, colocando elas em risco de complicações. Mas isso é teoria, não dá pra afirmar”, explica Robério Leite.

No isolamento, muitas crianças deixaram de ser vacinadas para outras doenças, como pneumococo, uma das bactérias que mais agravam os quadros respiratórios.
Robério Leite
Infectologista

O infectologista frisa que quando um vírus como o da Covid inflama o tecido respiratório, ele quebra a barreira natural de proteção, propiciando a ação de bactérias “oportunistas” e perigosas. 

A epidemiologista Lígia Kerr alertou, em entrevista ao Sistema Verdes Mares, que “a Covid não acabou e está pegando as crianças, que são mais vulneráveis”. Outros vírus respiratórios, como influenza e o vírus sincicial, se somam ao cenário de risco para meninos e meninas.

Lígia ilustrou que a sociedade “está brincando com fogo” ao expor as crianças, principalmente as menores de 5 anos de idade, para as quais não há vacina aprovada contra a Covid.

O que fazer para proteger os bebês?

Foto: Rodrigo Carvalho

O uso de máscaras por pais, responsáveis e familiares que tenham contato com os pequenos é reforçado por Robério Leite como estratégia indispensável e importante para blindá-los. Além disso, o médico enfatiza a necessidade de vaciná-los.

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“É fundamental que as crianças estejam com o calendário vacinal em dia para as doenças que já têm proteção. Caso adquiram Covid, já estarão preparadas para essas demais infecções. Porque, se contraírem ambas, o quadro pode agravar”, avalia.

O Ceará não alcança a meta de imunização geral desde 2018. Em 2021, mesmo com constantes campanhas da Sesa e das secretarias municipais de saúde, o Ceará teve o pior índice de cobertura vacinal infantil em 27 anos. Nenhuma das 7 vacinas aplicadas em bebês atingiu a meta de proteção, no ano passado.

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