Maioria das crianças que morreram de Covid em 2022 nasceu durante a pandemia
De janeiro a abril, 38 vidas de pequenos cearenses foram abreviadas pelo coronavírus, 28 delas de até 2 anos
A face perversa da pandemia continua se expondo todos os dias no Ceará, com ou sem máscara. De janeiro a abril, pelo menos 38 crianças de até 11 anos morreram de Covid aqui – 28 delas, uma maioria absoluta, tinham até 2 anos de idade.
Para se ter ideia, é como se o coronavírus levasse embora pelo menos 1 bebê em cada semana de 2022 até aqui. Os dados são do Integra SUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), e abrangem os registros até abril.
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Em relação aos casos, o cenário muda: dos mais de 14 mil confirmados em crianças até abril, só 29% foram entre os bebês. A maior parte (59%) atingiu pessoas de 5 a 11 anos, faixa etária já vacinada; e os outros 12% correspondem aos pequenos de 3 e 4 anos de idade.
O médico Robério Leite, infectologista pediátrico, destaca que o número de óbitos por Covid é ainda mais expressivo entre menores de 1 ano de idade. Isso acontece porque “essas crianças têm um sistema imunológico imaturo, um trato respiratório mais vulnerável”.
É provável, ainda, segundo Robério, que “boa parte dessas crianças que evoluíram a óbito tenha alguma condição associada, como cardiopatias, por exemplo”. É essa faixa etária a mais exposta a complicações e mortes por vírus respiratórios.
Isolamento social e imunidade
Crianças que nasceram na pandemia amargaram, desde o início, os efeitos nocivos do isolamento social, necessário para proteção contra a Covid. As consequências, então, foram múltiplas – de biológicas a comportamentais.
“Teoricamente, as crianças durante a pandemia, no período de maior isolamento, podem ter tido um treinamento menor do seu sistema imunológico, colocando elas em risco de complicações. Mas isso é teoria, não dá pra afirmar”, explica Robério Leite.
No isolamento, muitas crianças deixaram de ser vacinadas para outras doenças, como pneumococo, uma das bactérias que mais agravam os quadros respiratórios.
O infectologista frisa que quando um vírus como o da Covid inflama o tecido respiratório, ele quebra a barreira natural de proteção, propiciando a ação de bactérias “oportunistas” e perigosas.
A epidemiologista Lígia Kerr alertou, em entrevista ao Sistema Verdes Mares, que “a Covid não acabou e está pegando as crianças, que são mais vulneráveis”. Outros vírus respiratórios, como influenza e o vírus sincicial, se somam ao cenário de risco para meninos e meninas.
Lígia ilustrou que a sociedade “está brincando com fogo” ao expor as crianças, principalmente as menores de 5 anos de idade, para as quais não há vacina aprovada contra a Covid.
O que fazer para proteger os bebês?
O uso de máscaras por pais, responsáveis e familiares que tenham contato com os pequenos é reforçado por Robério Leite como estratégia indispensável e importante para blindá-los. Além disso, o médico enfatiza a necessidade de vaciná-los.
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“É fundamental que as crianças estejam com o calendário vacinal em dia para as doenças que já têm proteção. Caso adquiram Covid, já estarão preparadas para essas demais infecções. Porque, se contraírem ambas, o quadro pode agravar”, avalia.
O Ceará não alcança a meta de imunização geral desde 2018. Em 2021, mesmo com constantes campanhas da Sesa e das secretarias municipais de saúde, o Ceará teve o pior índice de cobertura vacinal infantil em 27 anos. Nenhuma das 7 vacinas aplicadas em bebês atingiu a meta de proteção, no ano passado.