Entenda por que não se vacinar causa danos sociais e econômicos coletivos; teste seus conhecimentos

Além do prejuízo individual, quem deixa de se vacinar põe em risco a saúde do outro, a rede assistencial e a economia; quiz testa seus conhecimentos sobre vacinas

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Vacina
Legenda: Sarampo é exemplo de doenças que voltaram a circular no Brasil devido à baixa cobertura vacinal
Foto: Governo do Estado de SP

Agulha fina, poucos mililitros e uma picada no braço. O preço da imunidade contra uma doença é baixo, mas muitos não estão dispostos a pagar. A pandemia de Covid-19 evidenciou um comportamento que tem preocupado cientistas e profissionais da saúde do Ceará: a repulsa à vacinação.

A dona de casa Marlene Freitas, 55, está entre os que “não tomam de jeito nenhum” o imunizante contra a Covid. “Não tenho coragem. Acho que quem tomar vai ser atingido”, opina, pensamento compartilhado pelo promotor de vendas Roberto Martins, 37.

“Não vou tomar, tenho medo. Porque não sei qual é o efeito colateral que vai dar. Fizeram uma vacina com 8 meses. Que vacina é essa?”, questiona, afirmando, porém, que “por fé em Deus, não tem medo dessa doença”.

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Os danos da recusa por ser imunizado, porém, vão além do prejuízo individual: impactam a saúde do outro, a rede assistencial pública, o trabalho da ciência e até a economia de um estado inteiro, como pontua Jocileide Sales Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) no Ceará.

A saúde é um bem social. E, para tê-la, você precisa ter um ambiente favorável, bem estar pessoal e mental. Assim, você produz mais no trabalho, colabora mais com o crescimento do todo. É preciso existir essa noção.

Além disso, há os impactos psicológicos e sociais do adoecimento por agentes imunopreveníveis. “Pessoas que ficaram com sequelas da poliomielite, por exemplo, têm prejuízos múltiplos: são dependentes e têm menos aceitação no mercado. Há tanto o risco emocional como para a renda”, avalia.

A médica ressalta que “a vacina tem um custo mínimo em relação ao que se gasta cuidando de doenças” como o sarampo, que voltou devido às baixas coberturas da vacina tríplice viral. “Em Fortaleza, onde nascem pelo menos 30 mil crianças por mês, 7 mil não são vacinadas. Em 3 anos, são 21 mil sem proteção”, lamenta.

Cobertura vacinal em baixa

Esse grupo forma os “bolsões de pessoas suscetíveis”, como define Vanessa Soldatelli, coordenadora de imunizações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). “Estamos vendo tudo o que um vírus pode ocasionar. Há doenças que podem deixar sequelas permanentes e até matar. O impacto é grande”, pontua.

Em Fortaleza, a título de exemplo, três vacinas importantes tiveram coberturas consideradas baixas, em 2020: BCG, contra tuberculose; hepatite B em bebês de até 30 dias; e o reforço da pneumocócica, contra pneumonia, meningite, otite etc.

No nível estadual, as duas primeiras são as que mais preocupam, principalmente porque devem ser aplicadas no primeiro mês de vida.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as vacinas em geral evitam, todos os anos, de 2 a 3 milhões de mortes por doenças imunopreveníveis. “Da mesma forma que as pessoas estão ansiosas para receber a imunização contra a Covid, não podem esquecer das outras vacinas de rotina, como a da influenza”, alerta Vanessa.

A gestora explica ainda que o processo de erradicação de uma doença "é trabalho de formiguinha".

Aumento da expectativa de vida

Em defesa da vacinação, o médico Ramon Rawache, que atua na rede pública e integra o Coletivo Rebento, relembra que “de 1980 pra cá, o Brasil teve um ganho de 30 anos de expectativa de vida. É extremamente temerário e até criminoso uma pessoa fazer campanha e política contra isso”, opina.

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O profissional de saúde afirma que os danos do avanço do pensamento antivacina são “incalculáveis”. “Se tem um surto de doença imunoprevenível, a ausência das pessoas no trabalho aumenta, podem ficar sequeladas e ter que receber auxílios. Fora o impacto na vida, que dinheiro algum consegue pagar”, sentencia Ramon.

Sem vacina, não se volta à vida normal, com comércio, escolas, turismo e eventos abertos. Se o Brasil não tivesse recusado 11 propostas de vacinas, teríamos imunizado boa parte da população.

Para Edson Teixeira, imunologista e professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), é necessária uma união concreta entre comunicação e ciência, no sentido de levar informações corretas e conscientizar a população sobre a importância de se vacinar.

“Precisamos demonstrar as variadas evidências sobre o uso de vacina no Brasil e no mundo, controlando doenças gravíssimas, que demandam leitos de UTI e custos gerais. A vacina melhorou o mundo em todos os aspectos, desde econômicos aos sociais e de saúde”, considera.

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A presidente da SBIm no Ceará também reforça que “quando as pessoas não têm informação correta, acham que as doenças já desapareceram e não retornam, ou criam ilusões de que a vacina vai criar situações adversas”.

Mitos e fatos sobre vacinação

Vacina pode matar? Se a doença está erradicada, não é mais preciso imunização contra ela? Melhor pegar gripe do que se vacinar contra ela? Teste os conhecimentos sobre as informações verdadeiras e as falsas relacionadas aos imunizantes.

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