Mãe surda tem parto cesárea acompanhado por intérprete de libras no Interior do Ceará; veja vídeo
Inédito para o município, o caso emocionou a equipe presente no procedimento
A dona de casa Amanda Sarah, de 22 anos, recebeu uma ajuda especial durante o nascimento do terceiro filho, Noah Enzo. A jovem surda, que já é mãe de outras duas crianças, foi auxiliada pela primeira vez por uma intérprete de Libras durante o parto. O caso, registrado nos últimos dias de 2023 em São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), também foi inédito para o município.
O parto aconteceu em 28 de dezembro do ano passado, quando a digitadora e intérprete de Língua Brasileira de Sinais, Dayane Dias, entrou na sala de cirurgia, junto ao companheiro de Amanda Sarah, que também é surdo, para intermediar o primeiro parto cesárea da vida da mãe de terceira viagem. A servidora já acompanhava a gestação desde a fase do pré-natal.
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"A gente foi unindo forças com o pessoal do posto [de saúde], o pessoal do hospital, e, aos poucos, foi trabalhando a ideia de que no dia do parto necessitaria de um intérprete no hospital, para mostrar como ia ser, porque era a primeira vez que ela ia ter um parto cesárea. [Para] dizer para o médico as dores, o que ela tava sentindo", explica Dayane Dias.
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Natural de Brasília, Amanda Sarah detalha que se mudou para o Ceará em busca de realizar o sonho de conhecer a praia. Chegou a residir em Fortaleza, mas está há cinco meses morando em São Gonçalo do Amarante. Ao Diário do Nordeste, ela conta que a presença da profissional no momento do parto facilitou a experiência, já que conseguiu entender todas as informações e, principalmente, ser compreendida pela equipe que atuou no parto. O momento emocionou todos os presentes, segundo a intérprete.
Para Dayane Dias, a experiência foi ainda mais especial devido a um fator pessoal. Mãe de um jovem de 27 anos que também é surdo, os dois enfrentaram diversas dificuldades ao longo da vida para ter acesso à saúde devido à ausência de profissionais da área que fossem fluentes em Libras ou oferecessem intérpretes.
Devido ao meu próprio filho [que é surdo], acabei também me comovendo, no sentido de me colocar no lugar deles [Amanda e o marido]. Se fosse meu filho, como eu queria que ele fosse acolhido, como eu queria que ele fosse amparado. Então, para mim, foi uma experiência no sentido de se colocar no lugar do outro."
Após o nascimento de Noah Enzo, Dayane Dias conta que a relação entre ela e os pais do bebê se aprofundou. Ela continuará acompanhando Amanda Sarah nas consultas médicas até quando for necessário.
"Já participei de partos de amigos, mas não de pessoa surda. E com a Amanda, foi muito bom. Foi como reviver o meu [parto] e lembrar quanta dificuldade a gente [Dayane e o filho] passou."
Em nota, a Prefeitura de São Gonçalo do Amarante, por meio da Secretaria de Saúde, diz que o Município reafirma o compromisso em oferecer serviços de saúde inclusivos e adaptados às necessidades individuais. "Contamos com profissionais habilitados em Língua Brasileira de Sinais (Libras), assegurando um atendimento mais específico e eficiente para casos que demandam essa competência".
"Em 2024, ampliaremos nossos esforços com mais formações, visando profissionalizar todos os colaboradores da saúde com as expertises necessárias em acessibilidade. O objetivo é promover um ambiente cada vez mais inclusivo e qualificado para atender às particularidades de cada indivíduo", detalha a Administração.