Fortaleza planeja atender pacientes por telemedicina e criar escola de saúde pública

Ações integram estratégias para desafogar a rede de atendimento, como adiantou o secretário da Saúde ao Diário do Nordeste

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Legenda: Em Fortaleza, a ideia é ofertar consultas online para desafogar filas de especialidades como psiquiatria e cardiologia
Foto: Freepik

Uma das áreas mais importantes para a população, a saúde de Fortaleza amarga deficiências históricas. Para tentar sanar algumas delas, a prefeitura planeja medidas de curto, médio e longo prazos – entre elas a oferta de consultas online, via aplicativo.

As informações foram dadas pelo secretário municipal da Saúde, Galeno Taumaturgo, em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste. Na ocasião, o gestor reconheceu os problemas mais graves que atingem os serviços e revelou que ações têm sido feitas e pensadas para resolvê-los.

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Nos últimos meses, o aumento expressivo dos casos gripais e de Covid entre crianças extrapolou a capacidade de atendimento das unidades, gerando um efeito cascata de superlotações de postos de saúde a hospitais – e suscitando uma crise na saúde.

Diante disso, o Ministério Público do Estado (MPCE) reuniu Prefeitura de Fortaleza e Governo do Estado, solicitando providências. Cada ente se comprometeu, então, a criar um plano de contingência para manejo do cenário.

Legenda: Posto de saúde Irmã Hercília, no bairro São João do Tauape
Foto: Fabiane de Paula

Na rede municipal, o acréscimo de 21 pediatras aos postos de saúde e a abertura de 17 novos leitos clínicos e traumatológicos no Frotinha da Parangaba, em abril, estão entre as ações já feitas, a curto prazo, segundo o secretário da Saúde.

A médio prazo, o objetivo é trabalhar problemas estruturais – como a falta de médicos nos postos de saúde. Para isso, Taumaturgo afirma que a prefeitura planeja criar a Escola de Saúde Pública de Fortaleza, a exemplo do equipamento estadual.

Não há, contudo, um prazo para a construção ser concretizada.

“É uma ideia que está começando a virar realidade, que vai contribuir para a formação do profissional. Fortaleza já está no momento de ter esse equipamento. O médico que é especializado em saúde da família é diferente, é um cuidador com visão muito ampla”, frisa.

Precisamos ter esses profissionais, senão vamos ficar sempre nessa precariedade. Porque o que caracteriza o profissional da atenção primária é o vínculo: se ele não fica no posto de saúde, não constrói isso.
Galeno Taumaturgo
Secretário da Saúde de Fortaleza

O titular da SMS observa que, hoje, a rotatividade de profissionais prejudica o atendimento. “O médico termina a faculdade e vai pra atenção primária enquanto não entra na residência. Quando isso vai melhorar? Quando houver o maior número de médicos de família por formação.”

Consultas por telemedicina

Outra medida que está sendo desenvolvida pela gestão, como pontua Taumaturgo, é a oferta de consultas online, por meio do aplicativo Mais Saúde Fortaleza. A prática já é comum na rede privada, e deve chegar como alternativa na rede municipal.

“A ideia é desafogar filas de psiquiatria, dermatologia, cardiologia. Estamos definindo as áreas. Às vezes o paciente está na fila, mas quer ir ao médico pra tirar uma dúvida. Por telemedicina, a queixa pode ser resolvida”, exemplifica o secretário.

“Vamos começar com projetos pilotos, as perspectivas são muito boas”, complementa.

Investir em tecnologia na área da saúde, segundo o gestor, é tão inevitável quanto necessário para democratizar o acesso aos serviços. Nesse sentido, ele adiantou outro recurso que deve chegar, “em breve”, à população que precisa buscar remédios nos postos de saúde.

“Temos previsão de ampliação de farmácias-polo, para fazer com que as pessoas tenham mais facilidade de acesso. Hoje, se você usa um medicamento, consegue consultar por aplicativo se tem ou não em estoque. A prefeitura está aperfeiçoando esse recurso pra que o usuário consiga saber quanto tem e em qual posto de saúde, e não corra o risco de chegar à unidade e não ter.”

Também voltadas a atendimento direto de pacientes em Fortaleza, o secretário destacou ainda duas ações:

  • Consultórios de Rua, unidades móveis para atendimento de pessoas em situação de vulnerabilidade;
  • Reabertura do Frotinha de Messejana, prevista para o final de julho.

Recursos insuficientes

Legenda: IJF, hospital de urgência e emergência, é referência estadual para atendimento traumatológico, de envenenamentos e queimaduras
Foto: Divulgação

Em reportagem publicada nessa sexta-feira (5), o Diário do Nordeste detalhou falas do secretário Galeno Taumaturgo sobre a insuficiência de recursos financeiros para Fortaleza bancar a estrutura que possui. A "reestruturação" disso também é planejada pela gestão.

“Saúde são vasos comunicantes: se tenho uma rede hospitalar grande e preciso fortalecer atenção primária, chega um momento que tenho que priorizar, porque o recurso não dá. Há defasagem de recursos, sem dúvidas”, pontua, citando como exemplo o Instituto Dr. José Frota (IJF).

O IJF consome uma enorme quantidade de recursos da prefeitura, e atende toda a população do Estado. Isso precisa ser revisto. É uma demanda que o prefeito banca, como deve ser, mas precisa de ajuda. 85% do hospital é mantido pela prefeitura. Se tem ajuda no IJF, poderei atuar mais no restante da rede.

O gestor destaca que é preciso “rever pactuações” com Estado e União, mas que, no momento, “a prioridade máxima é a atenção primária”.

“Temos procurado ter um diálogo com a Secretaria da Saúde do Estado, porque não interessa à população posição A ou B. Interessa a ela o atendimento. Temos que nos unir, somar esforços, equipes de atendimento médico, vagas de hospital. A união é fundamental.”

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