De dengue a hepatites, esgoto no mar pode causar mais de 10 doenças; saiba quais

Frequentadores desses locais ficam mais suscetíveis às doenças tanto pelo contato direto como pela ingestão de água contaminada

Escrito por Redação ,
Legenda: Só na última sexta, foram drenados 80 mil litros de água da Praia dos Crush por meio de um caminhão de sucção.
Foto: Kid Júnior

O lançamento de esgotos nas praias é um problema que afeta não só o ecossistema marinho, mas a própria saúde humana de banhistas e frequentadores. Em Fortaleza, essa questão ganhou atenção na última semana pelo despejo irregular de um material malcheiroso na Praia de Iracema, nas últimas semanas.

Especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste afirmam que o esgoto a céu aberto nas praias favorece o desenvolvimento de vírus, bactérias e parasitas na água e na areia. A população que comparece a esses locais fica mais suscetível a doenças tanto pelo contato como pela ingestão de água contaminada.

O médico clínico geral e professor universitário Bruno Cavalcante explica que micoses e problemas do trato gastrointestinal são as ocorrências mais comuns. Ele lista diversas enfermidades que podem se desenvolver a partir do contato:

  1. Disenteria
  2. Cólera
  3. Hepatite A
  4. Hepatite E
  5. Febre tifoide e paratifoide
  6. Amebíase
  7. Giardíase
  8. Leptospirose
  9. Conjuntivite
  10. Intoxicações por metais pesados
  11. Micoses e alergias cutâneas
  12. Dengue
  13. Chikungunya
  14. Zika

Hepatite A e cólera, por exemplo, foram doenças que já causaram surtos no Ceará. O médico lembra que a água parada dos esgotos pode se tornar atrativa para o mosquito Aedes aegypti, transmissor de arboviroses bem conhecidas na Capital.

Por serem sensíveis, os olhos também podem ter conjuntivites virais ou bacterianas ou alterações locais “pelo próprio material sujo, que pode causar lesão direta à córnea”. Por fim, intoxicações por chumbo ou mercúrio também podem acometer os banhistas.

As pessoas precisam checar a água do mar onde vão entrar e se há indicativos de poluição porque podem ter coinfecções, infecções conjuntas. Se o trecho estiver impróprio, evite tomar banho naquele local.
Bruno Cavalcante
Clínico geral

Caso a pessoa tome banho por acidente, sem saber que a água estava contaminada, o ideal é sair do mar o quanto antes e, de preferência, tomar banho com água e sabonete para tirar qualquer metal pesado ou impurezas. “Mas não dá pra tirar 100% do risco porque pode haver porta de entrada, como uma lesão de pele, ou porque você acabou engolindo água do mar”, alerta Bruno Cavalcante.

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Grupos de risco

Em entrevista ao Sistema Verdes Mares no primeiro semestre deste ano, Lisandra Damasceno, infectologista do Hospital São José e presidente da Sociedade Cearense de Infectologia (SCI), também chamou atenção para doenças de veiculação hídrica relacionadas à balneabilidade das praias.

Ela destacou que muitas dessas patologias levam a náuseas, vômitos, cólicas abdominais e diarreias, que algumas vezes podem vir com sangue ou muco. Segundo a especialista, normalmente, os problemas de saúde aparecem entre 48h e 72h depois do banho de mar.

“As pessoas devem procurar uma unidade básica de saúde ou de pronto atendimento para que sejam rapidamente diagnosticadas. Os sintomas de alerta são desidratação, nas crianças e idosos, principalmente, e presença de muco e sangue nas fezes”, recomenda.

Atenção à cor da água

O último boletim de balneabilidade da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), do dia 1º de novembro, descreve que o trecho da Praia dos Crush, onde o problema ocorre, tem os valores de Coliformes Termotolerantes dentro dos critérios estabelecidos.

No entanto, foi considerado impróprio “em função da presença de resíduos ou despejos, sólidos ou líquidos, inclusive esgotos sanitários, óleo, graxas e outras substâncias, capazes de oferecer riscos à saúde ou tornar desagradável a recreação”.

O órgão estadual recomenda evitar nadar ou praticar outros esportes náuticos em locais com manchas de coloração vermelha, marrom ou azul-esverdeada. “Também é recomendável evitar o consumo de frutos do mar desses locais”, complementa.

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