Cripta de Igreja com mais de 80 anos terá obras de arte restauradas em Fortaleza; veja imagens
Murais retratam os momentos finais da vida de Jesus Cristo e ficaram trancadas por cinco décadas
Pintados há mais de 80 anos e perdendo os traços originais com o tempo, murais religiosos retratando cenas de Jesus Cristo estão se deteriorando em uma cripta na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, no Benfica. Porém, um projeto entre a paróquia e um curso de Artes planeja o restauro completo das obras.
Os murais a óleo, antes distribuídos em quatro paredes, foram assinados pelo pintor cearense Gerson Faria (1889-1943) no fim da década de 1930. Entre os episódios bíblicos contados nas imagens, guardadas debaixo do altar do templo, estão:
- a Santa Ceia
- Jesus rezando no Horto das Oliveiras
- o beijo da traição de Judas
- a descida do corpo de Jesus após a crucificação
Segundo o pároco Sílvio Mitozo, na década de 1940, a cripta funcionava como espaço de reflexão e penitência, principalmente no período da Semana Santa. Por isso, era chamada de “Horto da Agonia”, e as pinturas ajudavam a relembrar os últimos momentos de Cristo.
“Era um momento muito forte de devoção”, conta.
O tempo, contudo, não foi generoso. A cripta foi fechada em meados dos anos 1970, após uma reforma no altar. Uma nova parede foi instalada dentro do local, e um dos murais foi quase totalmente pintado por cal amarela. Assim, parte da obra de Gerson Faria se perdeu.
Foi só ao assumir a Paróquia, em 2019, que o padre Sílvio reabriu a cripta e encontrou nela um depósito. Ou seja, por 50 anos, não houve iniciativa frutífera para recuperá-la.
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Contudo, na última semana, o sacerdote conseguiu estabelecer uma parceria com uma instituição de formação pública para jovens estudantes. Professores e alunos devem se envolver no resgate das imagens, a partir do mês de dezembro. Os trabalhos devem ser gratuitos, adianta o padre.
As atividades de restauro dependem primeiro de uma reforma para facilitar o acesso à cripta. Um paroquiano engenheiro se voluntariou para desenhar o projeto, e a Igreja vai financiar apenas a execução.
“A ideia é que se torne um ambiente acessível e voltar àquele momento de oração, além de manter a memória do Gerson Faria. Essa é a maior obra dele, em questão de tamanho”, ressalta o padre Sílvio.
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Quem foi Gerson Faria?
Fortalezense, Gerson Faria foi pintor autodidata. Foi agraciado com uma bolsa de estudos no Rio de Janeiro, mas desistiu. Ele se destacava nos desenhos de paisagens e cenários, como atestado na cripta da Igreja.
Na década de 1920, foi professor de pintura de Guilherme Clidenor Capibaribe, o "Barrica" (1908-1993). Já em 1934, foi um dos fundadores do primeiro ateliê de pintura de Fortaleza, ao lado de Otacílio de Azevedo, Clóvis Costa e Pretextato Bezerra.
Em 1940, foi eternizado em um retrato pelo pintor Raimundo Cela. Faleceu três anos depois, também na Capital cearense.
A Igreja dos Remédios
Antes de ser sede de Paróquia e igreja, o templo localizado à Avenida da Universidade foi uma capela que demorou 32 anos para ser edificada. Ela primeiro foi idealizada pelo comerciante português João Antônio do Amaral, desejoso de homenagear a padroeira de sua terra natal: a ilha de São Miguel, no arquipélago dos Açores.
Porém, João faleceu antes de concretizar o sonho. Sua esposa, Maria Correia do Amaral, foi quem encampou a promessa. Ela conseguiu terreno e a autorização do bispo de Fortaleza. Assim, a pedra fundamental foi assentada em 1878.
Dependendo de recursos e doações dos devotos, a obra se arrastou por anos e só foi finalizada em 1910. A festa de inauguração teria reunido mais de 2 mil pessoas.
Em 1934, a capela foi elevada a Paróquia, sendo confiada aos padres lazaristas que chegaram ao Benfica sete anos antes. Nas décadas seguintes, o templo foi ampliado e reformado em várias ocasiões. Além da padroeira que a batiza, a Paróquia também homenageia Santa Liduína, intercessora dos enfermos.