Corpo de motorista de Guiné-Bissau que morreu em Fortaleza será enviado à terra natal nesta semana

A família usou o dinheiro de "vaquinha virtual" e ainda um cartão de crédito para arcar com os custos do traslado, após diversas dificuldades

Escrito por Matheus Facundo , matheus.facundo@svm.com.br
milton sanca, homem de guiné-bissau que morreu em Fortaleza
Legenda: Milton morreu após sofrer um AVC, em abril
Foto: Arquivo pessoal

O corpo do motorista Milton Sanca, homem natural de Guiné-Bissau que morreu aos 39 anos em Fortaleza no fim de abril, será finalmente enviado ao país natal nesta semana. Segundo Adilson Victor Oliveira, irmão, o traslado começa nesta quinta-feira (26). 

A viagem, que será feita também por Adilson, deve terminar no sábado (28), quando já será realizado o velório de Milton na casa da família. O sepultamento será no domingo (29). 

Em entrevista ao Diário do Nordeste, o irmão do guineense comemorou o fato de poder levar o corpo de irmão para perto de todos os parentes, mas contou que a jornada não foi fácil. Ele havia iniciado uma arrecadação de dinheiro para os custos do traslado, estimados em R$ 40 mil. A ação arrecadou R$ 34 mil. 

Porém, conforme ele, esse montante aumentou consideravelmente por conta do preço das passagens, além dos custos funerários e com documentos. Só de passagem para o corpo de Milton foram R$ 18 mil, e mais R$ 16 mil para Adilson poder viajar. Parte do valor total das despesas foi no cartão de crédito. 

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Dever cumprido com a etnia e a família 

Adilson Oliveira vai ter de ficar pelo menos três meses em Guiné-Bissau após levar o corpo do irmão. Ele mora em Fortaleza desde 2016 e é doutorando em História pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

A extensão da estadia se dará pela necessidade do cumprimento de uma série de rituais étnicos necessários após o falecimento de um integrante da comunidade. 

"O corpo é sepultado, mas o espírito dele ainda tem de passar por vários processos espirituais até se desprender deste plano", explica Adilson. 

O irmão de Milton conta ainda da sensação de "dever cumprido" de levá-lo "de volta para casa": "Ele vai conseguir voltar pra casa para descansar. Ainda vou arcar com uma dívida de mais R$ 8 mil, mas foi muito importante". 

Relembre o caso

O motorista Milton Sanca, de 39 anos, morreu em Fortaleza após passar mal e sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), no fim de abril. Ele veio ao Brasil em 2019, com a intenção de dar uma vida melhor para a esposa e os quatro filhos, que ficaram em Guiné-Bissau. 

Segundo com o irmão do motorista, Adilson, Milton faleceu no dia 25 de abril, no Hospital Geral de Fortaleza (HGF). Ele acordou com uma forte dor de cabeça e teve piora no quadro à noite, quando foi constatada uma hemorragia, durante consulta em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). 

Racismo

A campanha para arrecadar o dinheiro ainda se tornou mais difícil pois a família foi alvo de mensagens racistas. Pegaram um dos contatos disponíveis no panfleto de divulgação da "vaquinha" e enviaram mensagens preconceituosas.

“Vocês não são bem-vindos aqui, roubando nossos empregos e vagas de estudo, e dando HIV às nossas mulheres”, dizia uma dos textos.

“Estamos aqui, trabalhamos, estudamos, contribuímos. Não assaltamos ninguém, pelo contrário, todos os dias sofremos racismo, preconceitos”, desabafou Adilson. Ele ainda compartilhou o desejo de ser tratado com respeito e pediu pela punição dos infratores.

Em nota, a Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) disse que "o caso de injúria racial relatado por parentes de um homem natural de Guiné-Bissau, que faleceu em Fortaleza, foi registrado e segue em investigação. Detalhes do trabalho policial serão divulgados em momento oportuno para não comprometer as investigações em andamento".

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