Família de motorista de Guiné-Bissau denuncia recebimento de mensagens racistas

Após abrir campanha de arrecadação de dinheiro para transportar o corpo da vítima, familiares sofrem racismo em redes sociais

Escrito por Redação ,
homem de guiné bissau que morreu após avc em fortaleza
Legenda: Milton veio para Fortaleza em 2019, para estudar, só que acabou focando no trabalho após a pandemia
Foto: Reprodução

Após o motorista Milton Sanca falecer em decorrência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), a família dele foi alvo de racismo nas redes sociais. Segundo relato do irmão, Adilson Victor Oliveira, natural de Guiné-Bissau, país da África Ocidental, o caso aconteceu em meio à campanha de arrecadação de dinheiro para arcar com os custos do enterro. 

“Pegaram o contato no panfleto da campanha que enviamos para as doações e escreveram todas aquelas palavras contra meu irmão, contra nós enquanto africanos e contra nossa presença aqui no Brasil”, detalhou Adilson. 

As mensagens não chegaram eu seu contato privado, mas no de Carlos Zacarias Joaquim Júnior, que também está recebendo doações para possibilitar o translado do corpo de Milton do Brasil para a Guiné-Bissau.

“Nos sentimos violentados. Pois ninguém merece ser injuriado por questões raciais, sexuais ou regionais. Nós somos africanos com orgulho”. 
Adilson Victor Oliveira
Irmão do motorista

“Estamos aqui, trabalhamos, estudamos, contribuímos. Não assaltamos ninguém, pelo contrário,  todos os dias sofremos racismo, preconceitos”, desabafou. Adilson ainda compartilhou o desejo de ser tratado com respeito e pediu pela punição dos infratores. 

Mensagens racistas 

Após a morte de Milton, a família organizou uma campanha para arrecadar dinheiro para o translado do corpo dele. Em meio ao recebimento de outras perguntas e questionamentos sobre formas de ajudar, parentes da vítima receberam mensagens racistas. 

“Vocês não são bem-vindos aqui, roubando nossos empregos e vagas de estudo, e dando HIV às nossas mulheres”, dizia uma dos textos. 

O autor anônimo dessa mesma mensagem ainda escreveu: “que bom que aquele macaco morreu. Há muitos de vocês infestando nosso país e nossa cidade. Saiam daqui!”. Já outro texto pedia para que eles retornassem à Africa. 

Em nota, a Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) disse que "o caso de injúria racial relatado por parentes de um homem natural de Guiné-Bissau, que faleceu em Fortaleza, foi registrado e segue em investigação. Detalhes do trabalho policial serão divulgados em momento oportuno para não comprometer as investigações em andamento".

Entenda o caso

O motorista Milton Sanca, de 39 anos, morreu em Fortaleza após passar mal e sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), no fim de abril. Ele veio para o Brasil em 2019, com a intenção de dar uma vida melhor para a esposa e os quatro filhos, que ficaram em Guiné-Bissau. 

Segundo com o irmão do motorista, Adilson Victor Oliveira, Milton faleceu no dia 25 de abril, no Hospital Geral de Fortaleza (HGF). Ele acordou com uma forte dor de cabeça e teve piora no quadro à noite, quando foi constatada uma hemorragia, durante consulta em uma Unidade de Pronto de Atendimento (UPA). 

O corpo já foi liberado pelo hospital, mas a família não tem condições de arcar com os custos da funária e da companhia aérea que faz o translado. Conforme Adilson Victor, tudo fica em torno de R$ 40 mil. Até o momento, eles arrecadaram R$ 10 mil em doações por transferência bancária. 

Milton morava com um colega no bairro Antônio Bezerra. Segundo o irmão, ele veio para a Capital cearense há cerca de três anos, com a intenção de estudar. Com o começo da pandemia, ele se viu obrigado a somente trabalhar como motorista de uma empresa para se sustentar e enviar dinheiro para Guiné.

Veja também

Como contribuir com a campanha?

Dados bancários:

  • Adilson Victor Oliveira 
  • Pix: 709.626.701-89
  • Banco Bradesco 
  • Agência: 5449 
  • Conta: 0011198- 8
     
  • Carlos Zacarias Joaquim Júnior
  • Banco : Nu pagamentos S.A
  • Agência: 0001
  • Conta: 86370605-5
  • Banco: 0260

 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados