Cidade do Ceará registra primeiros nascimentos ‘oficiais’ fora de domicílios após abertura de maternidade
Até julho deste ano, município da Região Metropolitana de Fortaleza não tinha centro de parto e crianças nasciam em casa ou em cidade vizinha
Em outubro deste ano, a dona de casa Graziele Gomes viu um ciclo da própria família ser quebrado. Ela, pacatubense por registro, nasceu há 23 anos no município vizinho, Maracanaú – mas teve a oportunidade de parir o primogênito, Davi, na própria cidade-casa.
Graziele conta que, antes do filho, toda a família precisou nascer em outro município, já que Pacatuba não tinha maternidade. “É muito importante toda cidade ter. Dependendo da localidade e pra quem não tem transporte, nessa hora de desespero, é muita dor (ter que ir a outra cidade)”, pondera.
Em julho deste ano, porém, a cidade da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) inaugurou o Centro de Parto Normal de Pacatuba, onde cerca de 50 bebês já vieram à luz, como contabiliza a enfermeira obstetra e coordenadora do equipamento, Andréa de Oliveira.
“Antes, quando os bebês nasciam na cidade, era por acidente, porque não deu tempo de chegar (à maternidade). Muitos anos atrás, era predominante a presença das parteiras comunitárias: os bebês nasciam no domicílio. Mas é uma prática que foi se extinguindo”, recobra a profissional de saúde.
Foi pelas mãos de parteiras, aliás, que Francisca Juliana, 34, e a “família toda” vieram ao mundo. “Nasci em Pacatuba, meus irmãos também. Eu mesma nasci em casa, porque não tinha maternidade”, lembra.
Ver o pequeno João Pedro vir ao mundo, há 4 meses, em solo pacatubano e na segurança de um hospital foi, então, um presente que 2024 trouxe a ela. “Foi muito importante ter tido meu filho aqui, sem ter que ser transferida pra outro canto. Foi prazeroso que ele tenha nascido na minha própria cidade”, reflete.
Desde 2017, a Lei Federal nº 13.484 permite que o registro de nascimento de uma criança seja feito na cidade onde a mãe mora, e não onde o parto ocorreu. Em 2024, dos 719 partos de residentes de Pacatuba, só 76 ocorreram na própria cidade, de acordo com o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do Ceará.
Andréa, enfermeira obstetra, explica que, antes da abertura da maternidade municipal, as famílias precisavam “ir por conta própria” ao hospital em cidade vizinha. “Agora, quando elas não têm o perfil de o bebê nascer aqui, a gente providencia o transporte. Mas o nosso propósito é que os bebês voltem a nascer na sua própria cidade”, frisa.
“Fizemos um trabalho de captação. No começo teve muita resistência, mas todas as pacientes que tiveram bebês com a gente saíram muito felizes, muito gratas. Tivemos, ao todo, 50 partos, entre normais e cesáreos”, contabiliza a coordenadora.
A profissional de saúde destaca que a possibilidade de as mulheres parirem na própria cidade vai além da questão de pertencimento e identidade: perpassa o fortalecimento da saúde pública materno infantil.
“Levando em consideração que não é só ir para um local ter seu filho e voltar para casa, que a gente precisa fazer esse acompanhamento mais de perto, ter esse olhar para a comunidade, conhecendo quem é, criando um vínculo, para poder fazer orientações mais adequadas”, explica a enfermeira.
A gestora pontua, ainda, que com uma maternidade municipal, é possível atrair investimentos de programas como a “Rede Cegonha, que promove melhorias em relação à humanização do parto e nascimento”.
Em comemoração à chegada dos primeiros bebês, o Centro de Parto presenteou os bebês com um ensaio fotográfico natalino – “momento mágico” do qual Davi, filho de Graziele, e João Pedro, filho de Juliana, participaram.