Ceará teve 20 acidentes com aeronave na última década; relembre casos com ultraleve

Queda de ultraleve no Aquiraz alerta para o uso do equipamento que possui um regulamento próprio

Escrito por
Lucas Falconery lucas.falconery
(Atualizado às 08:27, em 09 de Janeiro de 2023)
Legenda: Acidentes com aeronaves despertam atenção e relembram para importância da manutenção e treinamento
Foto: Divulgação Corpo de Bombeiros / Maristela Gláucia

Explosão, peças na faixa de areia e olhos atentos para o mar de onde saiu o aeromotor após a queda em Aquiraz, cidade vizinha à Fortaleza, nesta quinta-feira (6). A cena se assemelha a outras ocorrências da última década no Estado, que acumula 20 acidentes com aeromotores – categoria dos aviões, ultraleves e helicópteros.

Os dados são do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Sipaer) da Força Aérea Brasileira (FAB) de 2012 a 2022. Os ultraleves, especificamente, registraram 4 acidentes e uma morte entre os casos no período analisado.

A queda mais recente de aeronave no Ceará também causou a morte do piloto. No caso, a vítima foi o médico Francisco Sérgio Menescal de Macedo, de 74 anos, que foi atendido por socorristas, mas não sobreviveu à parada cardiorrespiratória.

Legenda: Piloto foi socorrido após a queda, mas não sobreviveu
Foto: Divulgação Bombeiros

O caso foi registrado na Delegacia de Aquiraz, que notificou a ocorrência ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), como informou a Secretaria da Segurança Pública do Ceará (SSPDS). Não foram divulgados demais detalhes.

Foi também em Aquiraz onde aconteceu o último acidente com ultraleve registrado no Ceará pelo Sipaer, em 2018. Naquela ocasião, a aeronave perdeu o controle após 3 minutos da decolagem e colidiu contra uma árvore e um muro.

Mas, afinal, qual o uso de ultraleves no Ceará? Esse modelo deve ser usado apenas para desporto e lazer, como contextualiza Igor Pires, engenheiro aeronáutico pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e colunista do Diário do Nordeste. A prática exige uma capacitação de quem conduz a aeronave.

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"Uma coisa que me chama muito atenção é que um veículo ultraleve não exige habilitação do piloto e nem o certificado. O operador tem só que ter um cadastro de aerodesportista. Imagine que, para pilotar um avião, tem que ter no mínimo 40 horas de aula", completa.

Usar um ultraleve é considerado uma prática de alto risco pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Isso, inclusive, deve ser informado caso seja transportado algum passageiro. Não há certificado de aeronavegabilidade, que se refere à qualidade e segurança de voo, na modalidade.

“Uma pessoa somente pode embarcar outra pessoa em veículo ultraleve ou em balão livre tripulado sob este regulamento se essa pessoa estiver ciente de que se trata de atividade desportiva de alto risco, que ocorre por conta e risco dos envolvidos, onde operador e aeronaves não dispõem de qualquer qualificação técnica emitida pela Anac, não havendo, portanto, qualquer garantia de segurança”, aponta a norma.

Alguns fatores são comuns nos casos de acidentes com ultraleves, como falhas no motor e mau tempo.

“O que a gente aprende, nesses casos todos, que duas coisas são determinantes: quão treinado é o comandante e as manutenções preventivas”, reflete o especialista.

Relembre alguns casos

Perda de controle em voo em Aquiraz (2018)

A aeronave decolou do Aeródromo Catuleve, em Aquiraz, às 12h40, para um voo local apenas com o piloto. Após 3 minutos da decolagem, houve uma perda de controle e a aeronave colidiu contra a copa de uma árvore e se chocou contra um muro.

Na ocasião, o piloto sofreu lesões graves e a aeronave teve danos substanciais.

Perda de controle em voo em Camocim (2017)

A aeronave decolou do Aeródromo de Camocim para um voo local com dois ocupantes a bordo. Durante a decolagem, houve a perda de controle e o ultraleve acabou por se chocar contra uma parede no 1º andar de uma casa.

Colisão com obstáculo durante a decolagem e pouso em Itapipoca (2015)

O ultraleve estava no deslocamento entre Fortaleza e Massapê, na região norte do Estado, durante a manhã. Na Serra de Arapari, onde chovia, a população ouviu o ruído da colisão contra o solo. 

Os destroços da aeronave também foram encontrados pelos moradores do local, no Sítio Carrapato, que fica em Itapipoca. O piloto não resistiu ao acidente.

Falha do motor em voo em Fortaleza (2014)

A aeronave decolou do Aeródromo do Feijó, no Siqueira, para realizar um voo de experiência. Após a decolagem, a aeronave teve uma perda de potência do motor, realizando um pouso forçado em terreno sem obstáculos. 

O operador desmontou o avião, o retirou do local sem autorização do comando investigador e por isso não foi possível identificar os dados da aeronave.

Movimentação aérea

Mesmo com regulamentação própria, os acidentes com ultraleves são investigados por autoridades da aviação. "Não é porque estão abrigados nos regulamentos mais criteriosos da Anac, que deixam de ser abrangidos pelas investigações aéreas”, frisa Igor.

O especialista contextualiza que a movimentação no céu cearense – com paraquedismo, além do uso dos ultraleves – é intensa e demanda cuidados. 

"A gente tem cada vez mais aeroportos, como em Jeri, Camocim, São Benedito, Crateús. Então, isso deve atrair o pessoal e não é algo raro", conclui.

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