Base Aérea de Fortaleza: o que funciona no local 20 anos após ter unidade de combate transferida

Organização militar teve importante papel na formação de pilotos de combate e patrulhamento desde a década de 1940

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Atualmente, a Base conta com mais de 500 funcionários.
Foto: Fabiane de Paula

Instalação militar histórica para o treinamento de pilotos no Brasil, a Base Aérea de Fortaleza (BAFZ) não sedia operações com aeronaves desde 2014, e nem possui uma unidade de combate, que foi transferida para Natal há 20 anos.

Em breve, parte de seu antigo terreno também será modificado para receber um complexo comercial e hoteleiro. De acordo com a Fraport, empresa que administra o Aeroporto Internacional de Fortaleza, a área já fazia parte do contrato de concessão desde que ele foi assinado, em 2017.

A Aeronáutica confirmou ao Diário do Nordeste que o terreno não pertence mais à Força Aérea Brasileira (FAB), pois a área foi transferida, inicialmente, para a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), e depois para a Fraport, “não impactando nas instalações e na rotina da Base Aérea”.

Atualmente, a BAFZ executa atividades de preparo e emprego das Unidades Militares, além de gestão e de suporte, “necessárias ao funcionamento das Organizações Militares de sua área de atuação”. Compõem a Base:

  • Comando (CMDO)
  • Grupo Operacional (GOP)
  • Grupo de Serviços de Base (GSB)
  • Grupo Logístico (GLOG)
  • Grupo de Segurança e Defesa (GSD)
  • Grupo de Saúde (GSAU)
  • Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Fortaleza (DTCEA–FZ), responsável pela vigilância e controle da circulação aérea geral no Terminal de Fortaleza. 

A BAFZ, que hoje possui mais de 500 profissionais ativos, também presta apoio às aeronaves e tripulações em trânsito, estando estas em missões de preparo ou de emprego, no Aeroporto de Fortaleza.

Legenda: Edificações da Base tiveram processo de tombamento a nível federal iniciado em janeiro deste ano.
Foto: Fabiane de Paula

Questionada se há previsão de novas operações, a Aeronáutica respondeu que “não há planejamento específico”, mas que há um Grupo de Trabalho coordenado pelo Estado-Maior da Aeronáutica, para “analisar a situação vigente da Base”.

Por sua importância histórica, em dezembro de 2021, um pedido de tombamento da Base Aérea de Fortaleza foi enviado ao Departamento de Patrimônio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília. Segundo o superintendente estadual do Iphan no Ceará, Cândido Henrique, o processo foi aberto em janeiro deste ano.

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Relembre a história

A BAFZ está prestes a completar 86 anos de serviços prestados ao Ceará. Nesse tempo, se consolidou na história da aviação brasileira e auxiliou na formação de centenas de profissionais.

Ela foi criada em 1933, ainda com o nome de 6º Regimento de Aviação, mas só iniciou suas atividades em 21 de setembro de 1936 - data que ficou marcada como seu aniversário oficial. Seu primeiro comandante foi o então capitão aviador José Sampaio de Macedo, cearense do Crato.

A atual denominação da BAFZ é de 22 de maio de 1941, quando a Força Aérea Brasileira (FAB) foi oficialmente organizada.

Legenda: Fachada da BAFZ, em 1991.
Foto: Kiko Silva

O projeto arquitetônico da Base é do húngaro Emílio Hinko, responsável por importantes obras de Fortaleza, como o Náutico Atlético Cearense, a Igreja das Irmãs Missionárias e o Hospital de Messejana.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a BAFZ participou ativamente do patrulhamento do Atlântico Sul com o uso de caças e bombardeiros. Em 1944, foi criado o 4º Grupo de Bombardeio Médio.

Finalizada a Guerra, esse grupo deu origem ao Esquadrão Pacau, criado em 1947, considerado a “Sorbonne da Caça”, em alusão a uma famosa universidade francesa, pela dedicação na formação de pilotos de ataque. 

Legenda: Aviões de caça na Base Aérea de Fortaleza, em 1985.
Foto: Eduardo Queiroz

Em 1958, a Base entrou na era dos jatos. Em 1986, recebeu o 5° Esquadrão do 1° Grupo de Comunicação e Controle, a fim de operar e manter um sistema de controle por radar em Fortaleza, auxiliando aeronaves em situações adversas, operacionais ou meteorológicas.

Unidades transferidas

Em janeiro de 2002, o Esquadrão Pacau foi transferido de Fortaleza para a Base Aérea de Natal (BANT). Em “troca”, a BAFZ recebeu o Esquadrão Rumba, para formar pilotos de patrulha, transporte e reconhecimento.

Porém, em outubro de 2013, ele também teve transferência autorizada para o Estado vizinho, concretizada em 2014.

Legenda: Aeronaves realizam exercício no céu da Base Aérea, em 1985.
Foto: Eduardo Queiroz

Fim de uma era

Além disso, no fim de 2020, as residências militares construídas pelo Comando da Aeronáutica (Comaer) da FAB, na Avenida Borges de Melo, começaram a ser demolidas pelo Governo do Estado para a instalação de parte do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp). O espaço foi cedido pela União.

Outro fato marcante é que o Esquadrão Pacau, criado na BAFZ, foi desativado em dezembro de 2021, depois de 74 anos de atividade. Após ser transferido para Natal, ele foi mais uma vez realocado para Manaus, onde serviu por 11 anos na patrulha da região amazônica. A decisão foi justificada por um “processo de reestruturação da FAB”.

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