Após dois meses do fim da quadra chuvosa, 4 açudes seguem sangrando no Ceará; veja quais

Os açudes sangrando se localizam em Caucaia e no Maciço de Baturité

Escrito por Bernardo Maciel* , bernardo.maciel@svm.com.br
Foto do Açude Sítios Novos sangrando
Legenda: Açude Sítios Novos em Caucaia opera em sua capacidade total (127,95 hm³)
Foto: COGERH

Após mais de dois meses do fim da quadra chuvosa, quatro açudes continuam sangrando no Ceará. Eles compõem a bacia hidrográfica Metropolitana, são eles: Germinal, em Pacoti; o Pesqueiro, em Capistrano; Sítios Novos, em Caucaia; e Tijuquinha, em Baturité. Além deles, outros 54 reservatórios, do total de 157 monitorados pelo Governo, se encontram com volume acima de 90% da capacidade.

O período chuvoso do Ceará, que ocorre de fevereiro e maio, encerrou neste ano com 764,8 milímetros de acumulado, sendo 25,6% superior à média de 609,2 mm, conforme os dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) coletados até o dia 13 de agosto. O resultado foi o melhor desde 2009, quando o Estado teve 966,7 mm de chuva no período, inclusuive foi diferente do prognóstico inicial que indicava chance de seca em 2024 no Ceará.

Em julho deste ano, 24 reservatórios ainda sangravam no Ceará, número que foi considerado o segundo melhor para o período desde 2014, conforme dados do Portal Hidrológico, da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), analisados pelo Diário do Nordeste.

Ainda assim, para Tercio Tavares, diretor de operações da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), ter açudes sangrando após dois meses do fim da quadra chuvosa é surpreendente e positivo.

Foto do açude tijuquinha sangrando
Legenda: O açude Tijuquinha em Baturité possui capacidade de 0,48hm³ e também é um dos açudes que ainda estão sangrando em agosto
Foto: COGERH

“É um número positivo, é lógico que a quadra chuvosa deste ano também nos surpreendeu. Vamos lembrar que a quadra deste ano nos surpreendeu para melhor em 25% a mais de precipitação. 25% acima da nossa média. Para nós (Cogerh), é uma surpresa a quadra e o reflexo dela que ainda em agosto tem açudes sangrando.”, detalha

Ao analisar o cenário dos reservatórios para o segundo semestre deste ano, Tercio destaca a questão climática e faz comparativo com 2023, quando o mundo enfrentou recordes de altas temperaturas.

“Quando eu olho para a questão climática e em comparativo com 2023, ano que nós tivemos recordes de altas temperaturas durante o ano. Logo, se eu tenho temperaturas elevadas, eu tenho uma maior quantidade de evaporação, portanto uma saída de água em maior quantidade. Neste ano, também surpreendentemente, fora as chuvas, nós tivemos recordes de baixas temperaturas. Então se eu tenho uma menor temperatura, obviamente eu terei uma menor evaporação de água.”

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De maneira geral, o Ceará está com um volume percentual aceitável do nível de água. No entanto, o cenário é diferente ao analisar de maneira isolada cada bacia hidrográfica do Estado. Tercio detalha as particularidades de cada região e a importância do consumo consciente desta água até a próxima quadra chuvosa.

No cenário geral de acumulação hídrica, o Ceará está com mais da metade da capacidade hídrica, 53,9%. Agora, quando vamos colocar uma lupa e vamos analisar as bacias hidrográficas, nós temos bacias que chegam a 92% de acumulação, como a bacia do baixo Jaguaribe, o Coreaú, que está por volta de 94%. Mas temos as bacias próximas do sertão de Crateús que são bacias de difícil acumulação. Hoje, o sertão de Crateús está com apenas 20% da capacidade. Historicamente, ele já pega pouca água e as altas temperaturas da região ajudam na evaporação. Em outras palavras, nós temos que tomar cuidado sempre com o nível de água. Nós não temos rios perenes no Ceará.
Diretor de Operações da COGERH
Tercio Tavares

INDEPENDÊNCIA E QUITERIANÓPOLIS

Ainda que o volume de água esteja acima da metade no Ceará, dois municípios devem ver seus principais açudes secarem completamente ainda no segundo semestre deste ano. É o caso dos reservatórios localizados em Independência (Barra Velha e Cupim) e Quiterianópolis (Colina).

Imagem do mapa da bacia hidrográfica do sertão de Crateús
Legenda: Mapa da infraestrutura hídrica da Bacia do Sertão de Crateús
Foto: COGERH

“Mesmo o Estado estando com 53,9% da capacidade hídrica, dois municípios, Independência e Quiterianópolis, localizados dentro da bacia com menor índice de acumulação, que é o sertão de Cratéus, estão fadados aos seus principais reservatórios secarem no segundo semestre deste ano.” declara, Tercio Tavares

A reportagem questionou se a população desses municípios deve se preocupar com a falta de abastecimento nas casas, mas Tercio pontuou que a Cogerh juntamente com outros órgãos acompanham a gestão das águas e as crises pontuais.

“Considerando Independência e Quiterianópolis, nós temos um sistema de gestão de água que nos permite transferir água entre bacias e interbacias. Nesse caso do Sertão de Crateús, nós temos outros reservatórios fora do município com capacidade suficiente para fazermos uma transferência para a população. Então, a população não será afetada em nenhuma situação. Nós temos garantia a partir de outros reservatórios e municípios circunvizinhos,” explica o gestor

 

*Sob a supervisão da jornalista Dahiana Araújo

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