Apesar da criação de novas linhas, Ceará ainda tem 10 cidades sem ônibus intermunicipais; veja lista

Moradores apontam prejuízos para a realização de atividades cotidianas, como o estudo, e turísticas

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Legenda: Linhas de ônibus possibilitam o acesso dos moradores aos serviços cotidianos
Foto: Kid Júnior

Quatro cidades da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) vão receber 10 novas linhas de transporte público, como anunciado pela Agência Reguladora do Estado do Ceará (Arce) nesta semana. Mas, no interior do Estado, 10 municípios ainda são desatendidos pelo serviço. A alternativa nesses lugares é o uso de vans.

Contudo, moradores apontam que em algumas localidades os veículos são velhos e com baixa qualidade. De modo geral, a ausência dos ônibus impacta negativamente os trajetos para trabalho, estudos e até turismo. 

“É oportuno lembrar que o serviço de transporte interurbano é de competência do Estado. O que diz respeito à mobilidade urbana é competência dos municípios”, completou a Arce por meio de nota.

Ceará tem 10 cidades sem ônibus intermunicipais

  • Abaiara (Cariri)
  • Alcântaras (Sertão de Sobral)
  • Altaneira (Cariri)
  • Baturité (Maciço)
  • Caririaçu (Cariri)
  • Granjeiro (Cariri)
  • Meruoca (Sertão de Sobral)
  • Tarrafas (Cariri)
  • Umari (Centro Sul)
  • Uruburetama (Litoral Oeste)

A possibilidade de deslocamentos entre os municípios cearenses foi ampliada no último ano. Em fevereiro de 2023, o Diário do Nordeste mostrou que naquele período eram 25 as cidades sem o serviço.

Isso acontecia porque, conforme a Arce, foram realizadas licitações para a maioria das cidades, mas as empresas não manifestaram interesse. Em outros casos, a baixa demanda foi apontada como o motivo para a ausência do serviço.

A manicure Nazia Barroso, de 39 anos, acompanha os perrengues que a filha universitária passa para sair de Uruburetama até Itapipoca, ambas no Litoral Oeste, onde estuda.

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“A cada dia aumentam os estudantes e não tem transporte suficiente para todo mundo. Há poucos meses, o micro-ônibus que os alunos iam para a faculdade foi trocado, mas é pior que o outro. Parece que jogaram areia em cima dos bancos”, desabafa.

Além da “precariedade” dos veículos, Nazia fica preocupada com o perigo da lotação nas vias que também precisam de melhorias. “Os pais com certeza ficam preocupados pois não só os ônibus são ruins mas a pista também. Teve um dia que o transporte deu o prego no meio do nada no escuro”, lembra.

A falta de ônibus para interligar Baturité, na região do Maciço, à Fortaleza é uma preocupação para o turismólogo e agente de turismo Washington Viana, de 35 anos. "Nós temos as vans que fazem o percurso de Fortaleza até Aratuba, e até pouco tempo só tinha dois horários, no sábado e no domingo", explica.

Entenda a diferença entre ônibus metropolitanos e interurbanos:

  • Serviço Regular Metropolitano Convencional: transporte de passageiros realizado com ônibus, com características fixadas pelo poder concedente, entre os Municípios da Região Metropolitana de Fortaleza, ou entre Municípios vizinhos quaisquer quando a linha atravessar região com elevada densidade populacional, a critério do poder concedente;
  • Serviço Regular Interurbano Convencional: transporte de passageiros entre dois ou mais Municípios do Estado do Ceará, situando-se, pelo menos um deles, fora da Região Metropolitana de Fortaleza, e realizado com ônibus com características fixadas pelo poder concedente.

Washington acrescenta que, em feriados prolongados, é comum ter excesso de passageiros nas vans. "Nós tínhamos linhas de ônibus, mas as empresas deixaram de circular aqui e em seguida, de 2021, tivemos acenos com outras empresas, mas no momento não estamos vendo mais essa circulação", frisa.

Legenda: Número de cidades sem transporte entre municípios reduziu no último ano
Foto: Kid Júnior

Para Guaramiranga, também no Maciço de Baturité, uma nova linha de ônibus foi criada em março para levar passageiros da Capital. O acesso para a cidade havia sido interrompido nos últimos anos.

"Com o passar do tempo, pela questão da segurança, muitas pessoas começaram a optar pelo transporte de lotação, os táxis. As pessoas viam nas vans e tinham muitos assaltos no trecho para Redenção", acrescenta o turismólogo.

"Outra questão que a gente percebe é que praticamente não tem abrigos para os passageiros que estão aguardando. Antigamente, as vans saiam a cada hora para Fortaleza e agora o espaçamento é bem grande", conclui.

Como solucionar a questão

Para a arquiteta e doutora em Engenharia de Transportes Camila Bandeira, também coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifor, o desafio exige diagnóstico aprofundado com uma escuta da população.

“Os municípios-pólo, como Sobral, Crateús e Juazeiro, tem uma atratividade econômica para os menores e eles acabam gerando essa demanda por transporte intermunicipal. Isso se reflete nos alunos que vão fazer faculdade, ou pessoas que precisam de atendimento médico”, acrescenta.

Além disso, o acesso a cartórios, agências bancárias ou do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), também criam demanda por transporte. Camila aponta que existem diversas possibilidades em relação à operação do serviço, mas é preciso analisar o cenário de cada localidade.

No cariri, como exemplifica, existe uma maior demanda em festividades religiosas. “Podemos pensar em modelos integrados, com veículos complementares. Precisa de um esforço de compreender o que é mais viável”, conclui.

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