J. Borges, o homem que viveu um Brasil de sangue nordestino

Um dos maiores xilogravuristas do país seguirá vivo em obras que retratam o real e o fantástico do Nordeste e nos jovens artistas que ajudou a formar como mestre da cultura popular

Legenda: J.Borges nasceu em Pernambuco
Foto: Xirumba

J. Borges viveu um Brasil de sangue nordestino. Crescido distante do ensino formal em Bezerros, no interior de Pernambuco, aprendeu a ler com pressa para devorar cordéis. Engoliu letras e números durante o único ano em que frequentou de fato uma escola, lugar raro na zona rural dos anos 1940. Quando a sua fechou, seguiu de olhos atentos para desbravar o Brasil que vislumbrava, da Bahia para cima, rumo ao norte. Escreveu seu próprio cordel, mas foi na madeira que talhou a grandiosidade do Nordeste.

Um dos maiores xilogravuristas do país, homem de sangue nordestino, encantou-se. É como se a morte fosse incapaz de dar-lhe um fim. J. Borges seguirá nas capas de cordel, nas xilogravuras que rodam o mundo, nas capas de livros de autores nacionais e internacionais. Mas continuará, principalmente, nas casas de tantos brasileiros que o admiravam.

O xilogravurista nunca soube, mas há anos pende nas paredes da minha família. Suas obras estão na minha casa, na do meu pai e na da minha irmã, lembrando fases de nossas vidas com muita nordestinidade, em cor e preto e branco. A cegonha anunciou a vinda do meu sobrinho. O namoro na chuva honrou meu casamento e por aí vai. 

É sempre triste ver partir um artista que admiramos. Entrevistei J. Borges uma única vez, um mestre de sorriso largo e gênio dos saberes populares. Conhecia tanto do mundo real e fantástico do Nordeste que contava as histórias como se não tivessem fim.

J. Borges deixa este mundo em meio a uma efeméride simbólica: fechou os olhos para sempre 60 anos depois de ter iniciado xilogravura. Um dia simbólico para rependurar suas obras nas minhas paredes depois de uma mudança residencial. Que os novos artistas que tanto aprenderam com o mestre continuem florescendo e mantendo-o vivo no agreste pernambucano. J. Borges, o homem de sangue nordestino, permanecerá.

 

 

 

 

 

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