Ter acesso a saúde de qualidade é direito de todos, mas garantia não tão fácil de conseguir. A falta disso amplia a incidência de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs) entre os cearenses, causando a morte prematura de 11 mil deles, em média, todo ano.
Entre 2018 e 2021, mais de 44 mil pessoas de 30 a 69 anos morreram no Ceará por doenças cardiovasculares, câncer, diabetes mellitus e doenças respiratórias crônicas, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
Mas quais são as doenças crônicas que mais matam no Ceará? A principal delas, líder isolada, é o infarto agudo do miocárdio. De 2018 a fevereiro deste ano, 5.356 cearenses morreram pelo problema cardíaco – são mais de 3 mortes por dia, em média.
Ricardo Pereira, médico cardiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), aponta que o infarto não tem causa, mas “fatores precipitantes mutáveis e imutáveis”.
- Fatores imutáveis: idade, sexo masculino e hereditariedade;
- Fatores mutáveis: obesidade, colesterol alto, hipertensão, tabagismo, consumo de álcool, estresse e sedentarismo.
das mortes prematuras por doenças crônicas no Ceará são de homens, contra 45% de mulheres.
“Quanto mais desses alguém tiver, mais chances de infartar”, resume o médico. A morte, aliás, é a consequência mais extrema: o paciente pode sobreviver ao infarto, mas ficar com sequelas graves, como explica o cardiologista.
A longo prazo, dependendo do tamanho da área infartada, que não se regenera mais, o coração perde o poder de contração. Ele terá menos força de bombear, e caminhará para a insuficiência cardíaca.
As medidas de prevenção do infarto, aliás, são as mesmas da maioria das doenças crônicas não transmissíveis, e estão sempre ligadas à adoção e manutenção de um estilo de vida saudável.
- Praticar atividade física regularmente;
- Manter alimentação balanceada;
- Reduzir o consumo de bebida alcoólica;
- Não fumar;
- Controlar hipertensão e diabetes, se tiver;
- Cuidar da saúde mental para diminuir o estresse.
Atenção primária é vital, avalia médico
Quarta causa de morte prematura mais frequente entre os cearenses, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) também pode ser prevenido pela adoção de práticas mais saudáveis, como pontua Álvaro Madeira Neto, médico e gestor em saúde. Mas a atuação de uma rede preventiva na Atenção Primária, ele frisa, é determinante.
“A causa fundamental pra esses números é a falta de uma política de saúde que consiga intervir na vida do cidadão de forma global. Mais do que na atenção primária, é preciso acompanhá-lo antes que ele vire paciente, para uma prevenção eficaz”, sugere.
dos AVCs poderiam ser evitados por meio de prevenção adequada, com políticas de saúde efetivas e eficazes, segundo Dr. Álvaro Madeira.
Ainda conforme os dados do Integra SUS, Fortaleza, maior cidade do Estado, é naturalmente a que concentra mais mortes pelas DCNTs: 13.886 no período avaliado pela reportagem. É como se, pelo menos, 9 fortalezenses morressem por dia por alguma das doenças.
Seguindo a lógica de maiores populações, vêm Caucaia, 1.784 mortes prematuras por DCNTs entre 2018 e 2022; Juazeiro do Norte (1.444), Maracanaú (1.180) e Sobral (958).
10 principais causas de óbitos prematuros no Ceará
Mortes por doenças crônicas não transmissíveis, entre janeiro de 2018 e fevereiro de 2022
- Infarto agudo do miocárdio – 5.356
- Neoplasia dos brônquios ou pulmões – 1.942
- Neoplasia da mama – 1.607
- AVC (hemorrágico ou isquêmico) – 1.536
- Neoplasia do estômago – 1.238
- Hemorragia intracerebral – 1.145
- Hipertensão essencial (primária) – 944
- Neoplasia do colo do útero – 753
- Hemorragia subaracnóide – 647
- Diabetes mellitus (sem complicações) – 635