O novo ano começou com chuvas em diversos municípios do Ceará, mas o cenário para os próximos meses não é animador por causa da atuação do El Niño, fenômeno climático que impacta negativamente as precipitações em todo o Nordeste. As primeiras previsões de órgãos de meteorologia já indicam possibilidades remotas de um bom início de “inverno”.
O trimestre janeiro/fevereiro/março tem maior probabilidade de chuvas abaixo da faixa normal, conforme a previsão climática sazonal do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), vinculado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), elaborada no último dia 20 de dezembro.
Isso porque as condições atuais de temperatura no Oceano Pacífico equatorial mantêm o padrão característico de condições de El Niño, repercutindo em chuvas abaixo da climatologia já notadas “na maior parte do Sudeste, Centro-Oeste, Norte e parte do Nordeste do país”.
Conforme o modelo do CPTEC, no Ceará, a região Centro-Sul deve ser a mais impactada, tendo entre 50% e 70% de chances de chuvas abaixo da média. Somente alguns trechos do litoral têm igual probabilidade para as três categorias (abaixo, dentro e acima da média).
Quando a análise passa para a previsão de temperatura, existe maior probabilidade de valores acima da faixa normal em praticamente todo o país, “com a possibilidade de ocorrência de períodos com excesso de calor”, descreve o documento.
“Entretanto, as temperaturas podem ficar mais amenas na costa em razão de alguns dias com chuva”, complementa o prognóstico climático de verão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), também publicado em 20 de dezembro.
Os dois Institutos explicam que as previsões foram baseadas a partir de um método objetivo em parceria com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). No entanto, até o momento, a entidade estadual ainda não divulgou o levantamento próprio. Tradicionalmente, são feitos dois anúncios: um de fevereiro a abril, outro de março a maio.
Permanência do El Niño
Conforme o Inmet, a área oceânica de referência para o monitoramento do El Niño vem apresentando valores superiores a 0,5°C desde junho de 2023, persistindo com valores de anomalias de temperatura de até 2,0ºC. Até o momento, o fenômeno permanece na categoria de “intensidade forte”.
O Instituto mostra ainda que o modelo de previsão do APEC Climate Center (APCC), centro de pesquisa sediado na Coreia do Sul, aponta probabilidade entre 80% e 90% de que as condições de El Niño permaneçam até o trimestre março/abril/maio de 2024 - ou seja, durante toda a quadra chuvosa no Ceará.
Já no trimestre abril/maio/junho de 2024, a probabilidade diminui para 60%, “indicando um ligeiro enfraquecimento do fenômeno”.
Considerando a previsão, o impacto na safra de verão 2023/24 “merece atenção”, destaca o Inmet. “No entanto, vale destacar que o clima no Brasil não é apenas influenciado pela atuação do El Niño, já que outros fatores também interferem nas condições do tempo e clima, fazendo com que a previsão climática nas regiões produtoras precise ser avaliada”, finaliza.
Dezembro positivo
As chuvas do mês de dezembro no Ceará ficaram dentro da normalidade, conforme balanço da Funceme. O observado, considerando todo o Estado, foi de 37,3 milímetros, o que representa um desvio positivo de cerca de 18% em relação à média histórica de 31,6 mm.
Janeiro também começou com chuvas, algumas superiores a 100 milímetros. Nesta quarta-feira (3), aponta a Fundação, são esperados eventos de chuvas em todas as macrorregiões do Estado, embora as mais expressivas devam ocorrer na porção oeste. A partir de quinta-feira (4), é esperada predominância de tempo estável.