Cesariana MAC: como funciona e quais os riscos do parto em que a mãe retira o filho do útero

Prática incentiva a participação da mulher no procedimento cirúrgico, mas é contraindicada por obstetras

Momento singular para quem dá à luz, o parto ganha novas configurações ao longo das gerações. Uma delas, porém, tem causado divergência entre profissionais de saúde: a cesariana MAC, procedimento em que a própria mãe retira o filho do útero.

A sigla vem de “Maternal Assisted Caesarean Section” – cesariana assistida pela mãe, em tradução livre. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomendou, em posicionamento oficial, “que a prática não seja realizada fora de estudos clínicos aprovados”.

A recomendação veio após serem noticiados casos de realização do procedimento em Goiás, na região Centro-Oeste do Brasil.

A reportagem questionou às Secretarias da Saúde do Ceará (Sesa) e de Fortaleza (SMS) se o procedimento é permitido entre profissionais das redes e se já houve registro de parto com essa configuração em alguma unidade hospitalar.

Em nota, a Sesa informou apenas que “segue a decisão da Febrasgo”. A SMS também garantiu que “esta metodologia não é aplicada nas maternidades geridas pelo município de Fortaleza”.

Quais os riscos da cesariana MAC

A Febrasgo cita que “o objetivo seria proporcionar uma experiência mais inclusiva. Contudo, cabe alertar que esse é um procedimento sem evidências significativas de sua segurança. Não encontra amparo em protocolos, recomendações ou estudos bem desenhados”.

A federação alerta que “as complicações da cesariana podem aumentar em número e gravidade”, e lista os possíveis riscos:

  • Infecções;
  • Tempo cirúrgico aumentado;
  • Perda de sangue;
  • Aumento das incisões;
  • Lesões em outros órgãos;
  • Atraso na avaliação e assistência neonatal;
  • Maior consumo de material e aumento do custo do procedimento.

A médica Caroline Heimbecker, ginecologista e obstetra na rede privada e na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC/UFC), alerta que “como não temos estudos científicos que garantam benefícios, (a prática) não tem amparo em protocolos”. 

Ela pontua que “aumenta os riscos para a mãe, o tempo cirúrgico e a perda sanguínea”, além de “atrasar os primeiros cuidados do neonatologista” junto ao bebê. A obstetra destaca que “desconhece profissionais que concordem com essa conduta aqui no Ceará”.

Elson Almeida, ginecologista e obstetra e supervisor da Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), reforça que “o debate sobre o assunto é recente, porém pertinente, uma vez que é pouco conhecido e pode trazer desfechos negativos”.

O profissional relaciona artigos do Código de Ética Médica que vedam “indicar ou praticar ou atos médicos desnecessários ou proibidos pela legislação vigente no País” e “divulgar, fora do meio científico, processo de tratamento ou descoberta cujo valor ainda não esteja expressamente reconhecido cientificamente por órgão competente”.

Como “humanizar” o parto cesáreo

A Febrasgo, ainda em nota, frisa que “existem práticas mais seguras que podem ser adotadas durante a cesariana, visando o nascimento respeitoso e a melhora do vínculo com o recém-nascido”.

Caroline Heimbecker recomenda que “uma forma de humanizar é explicar tudo o que vai acontecer com a gestante, desde a anestesia até o final da cirurgia”. 

Mostramos o bebê na hora do nascimento sem a mãe tocar no campo cirúrgico, e o contato pele a pele é realizado logo após os cuidados do neonatologista. Se o bebê e a mãe estiverem bem, o bebê é colocado ainda na primeira hora após o nascimento para iniciar o aleitamento materno.
Caroline Heimbecker
Ginecologista e obstetra

A médica reforça que “esse momento de pele a pele é um estímulo para o aleitamento materno, e a presença de acompanhante à escolha da gestante também é uma forma de humanizar o parto cesáreo”.

No Ceará, de janeiro a junho deste ano, foram realizados 18.321 partos cesáreos e 10.620 partos normais na rede pública.

39.922
cesarianas foram feitas no Ceará em 2022, contra 25.513 nascimentos naturais, de acordo com dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS.

Elson Almeida reitera que a presença de acompanhantes à escolha da mãe, o contato pele a pele e os cuidados que respeitem o bem-estar do binômio mãe-bebê são as chaves da “humanização”.

“Não podemos concluir que qualquer tipo de procedimento traz benefícios. Pelo contrário, poderá trazer complicações e riscos não aceitáveis, como anteriormente citado. Devemos tomar muito cuidado com procedimentos motivados por modismos”, finaliza.