Teatro, música, ateliê: atividades artísticas para bebês encantam e atuam na formação da identidade
Para além do lazer, programação cultural traz aspectos importantes para o desenvolvimento sensorial e humano dos pequenos
Com a proximidade do Dia das Crianças, celebrado em 12 de outubro, diversas cidades do Ceará começam a receber uma série de programações artísticas voltadas para os pequenos – incluindo atividades voltadas para bebês, que demandam produções adequadas para sua faixa etária, tanto para fins de lazer quanto para fins educativos.
Em Fortaleza, em alusão à data, o Festival Internacional de Teatro Infantil do Ceará (TIC) – que começa nesta sexta-feira (11) e tem atividades em cinco cidades cearenses até 29 de outubro – terá duas apresentações do espetáculo “Kwat e Jaí”, da companhia Bebelume (DF), neste sábado (12) e domingo (13). As duas apresentações acontecem no mesmo horário nos dois dias, às 16h30, e têm acesso gratuito.
Já veterano no TIC, o grupo Bebelume é liderado pela diretora artística Clarice Cardell, que há mais de 20 anos se dedica a criação de obras teatrais para o público de zero a cinco anos de idade.
Junto ao sócio, Leo Hernandez, Clarice também produz séries e filmes para a primeira infância – foi uma das produções audiovisuais da dupla, o premiado filme “Kwat e Jaí - Os bebês heróis do Xingu”, que deu origem ao espetáculo que chega à Capital neste sábado.
Ambos as produções nasceram de uma pesquisa que o Bebelume realizou junto à comunidade Hiulaya, no Xingu, onde a pajé Mapulu contou aos realizadores o mito dos dois bebês gêmeos considerados os heróis do Xingu e os filhos do sol e da lua.
A peça, estrelada pelas atrizes Jawi Kamayurá e Fernanda Cabral, traz – através da encenação e de projeções – elementos da mitologia e dos saberes dos povos originários.
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Em entrevista ao Verso, Clarice destacou as especificidades de se pensar uma dramaturgia para bebês. O primeiro passo é levar em conta “o mundo de acontecimentos” que ocorre na primeira infância – quando os pequenos vão se apropriando da linguagem, da fala e começando a compreender o mundo ao seu redor.
Outro aspecto importante é considerar que bebês e crianças são sujeitos “competentes e sensíveis”, que conseguem se conectar com a arte para além do lazer.
“O que tem em comum nesse mundo da primeira infância, dos zero aos cinco anos, é uma capacidade poética brutal de se confrontar com uma obra de arte, deixando nós, artistas, livres da necessidade de contar uma historinha com início, meio e fim”, destaca Clarice.
“Elas são capazes de se conectar com poéticas mais abstratas, com dramaturgias mais complexas e poéticas”, completa.
A artista destaca que, ainda que não exista uma fórmula, para que a conexão entre artistas e bebês seja efetiva, é preciso adaptar alguns pontos em relação ao teatro para crianças e adultos. O principal deles é a plateia.
“[É preciso] que tenha um público mais reduzido, não é possível você atender muitas crianças. É importante esse encontro de verdade, dessa intimidade e uma proximidade física”, pontua.
A cultura é fundamental porque tem esse primeiro encontro marcante, fundador, transformador, construtor de identidades, que é na primeira infância que se faz. Pra gente, é uma missão trabalhar para o público da primeira infância."
Apresentações exigem 'atenção a cada bebê'
Quem também se apresenta no TIC é o grupo cearense Zepelim Arte para a Infância, que apresentará o espetáculo “Borboletário” – que nasceu no próprio TIC, em 2017 – em creches públicas de Sobral, São Gonçalo do Amarante, Maracanaú e Quixeramobim entre os dias 17 e 29 de outubro. Voltada para crianças de seis meses a quatro anos, a peça traz uma narrativa poética sobre as primeiras descobertas dos pequenos.
O grupo, que tem 14 anos de história, também se apresenta na Capital neste domingo (13) e no sábado (26), na Biblioteca Estadual do Ceará (Bece), com outro projeto para os pequenos: a vivência Jam Session para Bebês, uma performance interativa que une música e dança.
Diretor do coletivo teatral, Well Fonseca conta que tem visto, cada vez mais, os pais procurarem atividades artísticas e sensoriais que, para além do encanto, desafiam os pequenos a descobrirem o mundo. Por isso, nos espetáculos feitos para bebês, importa menos construir uma narrativa linear, com começo, meio e fim, e mais a promoção de experiências estéticas e sensoriais.
“Não tem uma ‘lição’ a dar, e sim uma experiência a se viver. Essa experiência leva, acredito eu, a mais experiências, e faz com que mais pessoas possam ir ao teatro e tenham mais acúmulo de cultura”, destaca o artista.
Para Well, pais e familiares estão mais atentos à primeira infância de forma geral, o que contribui para o aumento da promoção da cultura para esse público. Para os artistas, esse movimento faz com que uma dedicação ainda maior seja necessária. É preciso, por exemplo, entender como os bebês reagem a mudanças repentinas, cores muito vivas e luzes fortes, além de evitar sons muito altos.
“É um lugar muito delicado, de grande responsabilidade, que não é tão simples quanto algumas vezes eu acho que pode ser entendido. ‘Ah, é para bebês, então é menor, é colorido. Ou ‘é muito fácil’. Não, pelo contrário”, destaca. “Exige uma presença subjetiva e atenção a cada bebê que está ali naquela hora”, completa.
Arte como ferramenta para o desenvolvimento sensorial
Na primeira infância, um dos principais aspectos trabalhados nas programações culturais são a estimulação da sensibilidade e das possibilidades sensoriais. Pensando nisso, a Pinacoteca do Ceará desenvolve o projeto "Ateliê para Bebês", voltado para a "primeiríssima infância" - bebês de 6 a 24 meses.
A cada dois meses, 15 bebês e seus familiares ocupam o Ateliê da Pinacoteca para "percorrer livremente um espaço pensado para que elas tenham autonomia para descobrir a arte através das sensorialidades", explica a arte-educadora Simone Barreto.
"Pensamos a arte como ferramenta de construção do indivíduo, um instrumento para ampliar pensamentos e sentimentos", destaca Simone. A ideia, segue a educadora, é "promover a experimentação sensorial em bebês, com estímulos táteis, visuais, auditivos, visto que atividades criativas expandem as possibilidades de desenvolvimento tanto da criança quanto do adulto".
A cada edição, a Pinacoteca disponibiliza um formulário online nas redes sociais do equipamento para que as famílias inscrevam seus bebês. A próxima edição do projeto será neste domingo (13), mas as inscrições para participar já foram encerradas.
Serviço
Espetáculo “Kwat e Jaí” – Grupo Bebelume (DF)
Quando: Sábado (12) e domingo (13), às 16h30
Onde: Teatro Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
Limite de público: 30 bebês (acompanhados por no máximo dois adultos cada)
Acesso gratuito
Vivência “Jam Session para bebês” – Grupo Zepelim Arte Para Infância (CE)
Quando: Domingo (13), às 11h, e sábado (26), às 10h
Onde: Biblioteca Estadual do Ceará (av. Pres. Castelo Branco, 255 - Moura Brasil)
Acesso gratuito
Mais informações: @bece_bibliotecaestadualdoceara / (85) 3101-2545
Espetáculo “Borboletário” – Grupo Zepelim Arte Para Infância (CE)
Quando: 17 (Sobral), 22 (São Gonçalo do Amarante), 24 (Maracanaú) e 29 de outubro (Quixeramobim)
*Sessões exclusivas para os alunos das creches e escolas públicas contempladas pelo TIC | Confira a programação completa no site do Festival Internacional de Teatro Infantil do Ceará (TIC)