Rapper Nego Gallo lança 1º música em cinco anos e adianta detalhes de novo álbum previsto para 2024

“Sintera” é o primeiro single de “Yopo”, novo álbum do rapper radicado no Ceará, que contará com participações como Don L, Emiciomar, Rico Dalasam e Baco Exu do Blues

Escrito por João Gabriel Tréz , joao.gabriel@svm.com.br
Novo single de Nego Gallo,
Legenda: Novo single de Nego Gallo, "Sintera" é uma das faixas que compõe o álbum "Yopo", previsto para lançamento no primeiro semestre de 2024
Foto: Clara Capelo / divulgação

Mesmo nascido no Rio de Janeiro, o rapper Nego Gallo se refere a Fortaleza como “minha cidade” — não por acaso, uma vez que o artista, que chegou à capital cearense aos 12 anos, não só se radicou como encontra inspiração a partir dela. Cinco anos depois do mais recente álbum, Gallo inicia a trajetória de “Yopo”, próximo disco da carreira, previsto ainda para o primeiro semestre. A apresentação do novo caminho se dá com o single “Sinteira”, já disponível nas plataformas.

A faixa marca o retorno do artista aos lançamentos musicais. O último foi a mixtape “Veterano”, lançada em janeiro de 2019. A circulação e repercussão da obra foi positiva, mas a chegada da pandemia no início do ano seguinte encurtou as possibilidades. “Já tinha todo um desenho que a gente sonhava, mas não conseguiu fazer tanto”, compartilha Gallo ao Verso.

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“Eu tava com um disco que falava muito da cidade e da minha relação com ela, os lugares e espaços que acabo frequentando e percebendo. Num contexto político, econômico, era de alguma forma uma afirmação do lugar de Fortaleza que também é de criatividade, por mais que parece estar fora do eixo cultural”, contextualiza.

O cenário político nacional e a pandemia, porém, impuseram o que o artista define como um novo “hiato”. “De alguma forma, um que eu já tinha acessado em outro momento, quando o Costa a Costa (grupo cearense de rap formado em 2005 por Gallo e Don L) acabou. Me vi nessa luta, do zero, sem perspectiva e tendo que me reinventar”, compartilha. 

Mergulho interior

No contexto do “choque” da pandemia, Gallo já estava próximo de medicinas tradicionais e originárias e o momento, ele define, foi de mergulho interior e de se concentrar em “perceber”. “Isso estava me ajudando a compreender mais sobre mim, sentimentos e percepções sobre a fragilidade do existir”, lembra.

“Foi um lugar de afirmação de valores, de acreditar que a vida pode, sim, ser simples, rica, bonita”, segue Gallo. Enquanto experimentava esse mergulho, começava a expressar artisticamente o que viria a se tornar o novo projeto. No entanto, tal movimento, como ele mesmo ressalta, não foi de "romantização": o olhar preciso ao exterior se manteve. 

Nego Gallo é um dos principais nomes do rap cearense, tendo participado do grupo Costa a Costa e lançado, na carreira solo, o álbum
Legenda: Nego Gallo é um dos principais nomes do rap cearense, tendo participado do grupo Costa a Costa e lançado, na carreira solo, o álbum "Veterano" em 2019
Foto: Clara Capelo / Divulgação

“‘Sintera’ surge também a partir do acesso a uma cidade em suspensão”, diz sobre a Fortaleza da pandemia. As aberturas dos espaços e encontros, ao longo dos anos, foram possibilitando a concretização do disco.

Um dos marcos dessa caminhada foi a participação de Gallo na Semana Internacional de Música de São Paulo (SIM) em janeiro de 2023, evento no qual ele saiu vencedor do Pitch de Novos Artistas: UnitedMasters. A parceria firmada com a distribuidora norte-americana, ressalta o rapper, é um dos elementos importantes para concretizar “Yopo”. 

"Aquilombando"

Antes dessa conquista, no entanto, houve as parcerias pessoais que incluem Don L, também do Costa a Costa, os rappers Rico Dalasam — com quem Gallo dividiu o palco em apresentação no Dragão do Mar no fim de janeiro — e Baco Exu do Blues, o produtor musical e beatmaker Emiciomar, o artista e produtor Wellington Gadelha, os músicos Léo Grijó e Bruno Dupré e o artista visual Kambô

Cada uma delas foi buscada pelas possibilidades de alargar olhares. “Emiciomar é um talento de Pacajus e eu queria gerações e lugares diferentes de Fortaleza. Kambô é do norte, paraense, e quis trazê-lo para traduzir, a partir desse olhar, o nosso Nordeste, a partir de não querer replicar o olhar do Sudeste sobre o meu espaço”, exemplifica. “A gente foi se aquilombando ao longo desses três, quatro anos”, define Gallo.

O próximo passo da caminhada de “Yopo” será a divulgação, no final de fevereiro, de um videoclipe de “Sintera” produzido a partir de parceria entre Clara Capelo, responsável pelas fotos do projeto, e Kambô. Já sobre a data de lançamento, Gallo adianta: “Nosso sonho é colocar o álbum na rua em abril”.

Aspectos visuais do álbum novo de Nego Gallo são assinados pelo artista paraense Kambô, apostando na criação de perspectiva de
Legenda: Aspectos visuais do álbum novo de Nego Gallo são assinados pelo artista paraense Kambô, apostando na criação de perspectiva de "imersão, mergulho" a partir da estética
Foto: Kambô / Divulgação

Já perto do fim da conversa, Nego Gallo pede a palavra para poder agradecer. “Queria muito agradecer à minha cidade, a todos os artistas, amigos, que apoiam, acompanham, que me veem passar por esses hiatos e torcem por mim. Sou muito grato a vocês, a Fortaleza”, ressalta.

Cidadania cultural 

Nos últimos nove meses, Nego Gallo tem atuado junto ao Núcleo de Articulação Territorial (NAT), do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC). A iniciativa foi oficializada em abril de 2023 e busca estruturar e conduzir o plano de cuidados com o entorno do equipamento e suas populações. 

“Fui chamado por e sou grato a Helena Barbosa (superintendente do CDMAC). Hoje a gente está atuando com a Andreza Magalhães e a Isabel Cristina. Atuo como mediador social. Já tinha experiência de trabalho com populações de rua”, contextualiza.

“A gente entende que a repercussão do que foi a pandemia durante muito tempo vai estar ecoando naquele espaço. Fortaleza não passou despercebido desse lugar de precarização e isso acaba incidindo no número de pessoas na rua”, segue Gallo.

“Ficamos felizes de poder ter uma relação com a assistência social e com a saúde pautando também a cidadania cultural. A gente quer muito desenvolver trabalhos com artistas aqui da cidade junto dessas populações. Eu e o núcleo acreditamos que a arte é uma forma de acessar esse ‘outro’ numa outra possibilidade de sensibilidade”, reflete.

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