Quem é a artista cearense que instalou a "vaca magra" na Bolsa de Valores em SP

Natural de Milhã, Márcia Pinheiro trabalha com esse projeto há dez anos

Escrito por Roberta Souza , roberta.souza@svm.com.br
Cachorro contempla obra
Legenda: Obra é um protesto contra a fome no País
Foto: André Luiz Peregrino

Do quarto de casa, no bairro Cidade dos Funcionários, em Fortaleza, Márcia Pinheiro, 55, articulou, na manhã desta quinta-feira (9), a instalação de uma vaca magra e amarela na frente da Bolsa de Valores, em São Paulo. A escultura integra um projeto iniciado pela artista há dez anos, com o intuito de denunciar o problema da fome e da seca, no sertão e além dele.

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Natural de Milhã (a 292 km da capital cearense), ela viu de perto os efeitos que a falta de políticas públicas pode acarretar para o povo, e resolveu traduzir, por meio da arte, um pouco dessa inquietação.

“A vaca é um símbolo da economia sertaneja. Quando decidi retratá-la subnutrida foi exatamente para chamar atenção, fazer as pessoas interagirem mais com esse problema que é de todos”.
Márcia Pinheiro
Artista Plástica

Debate artístico

A instalação da escultura foi também uma resposta de Márcia ao “Touro de Ouro", inaugurado no mesmo local, no dia 16 de novembro. Inspirada no Touro de Wall Street, que fica no centro financeiro de Nova York, esta outra obra foi “um presente” do economista Pablo Spyer e do artista plástico Rafael Brancatelli "para a cidade de São Paulo e o mercado financeiro brasileiro". 

“Eu já tinha a ideia de levar minha obra para a capital paulista, e o que me fez criar coragem foi exatamente essa questão do touro. Se ele foi colocado lá, por que não a minha vaca magra, que tem mais a ver com a realidade do povo?”, questiona a artista.

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Ainda no dia 23 de novembro, porém, a escultura de Rafael Brancatelli foi retirada do local por violar a Lei Cidade Limpa e não ter autorização da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana para ser instalada.

Para aproveitar o calor do debate, a cearense custeou do próprio bolso, via transportadora, a ida de uma das dez vacas magras de sua coleção, toda feita com fibra e resina, em tamanho similar ao real e peso de 5kg.

A escultura chegou na terça-feira (7) na Capital paulista, mas somente nesta quinta (9), por volta das 7h30, foi instalada em frente à Bolsa de Valores. Perto das 11h, a pessoa responsável por levar a escultura até lá retirou-a antes que fosse apreendida pela polícia. 

Produtor retira vaga magra da frente da Bovespa
Legenda: Escultura foi retirada do local por volta das 11 horas da manhã
Foto: André Luiz Peregrino

“Queria que as pessoas fizessem a ligação com o touro. No meu ponto de vista, a mensagem dele era fantasiosa, irreal. Já vimos o que tínhamos de ver, agora vamos mostrar a realidade de quem passa fome”, denuncia a cearense.

Por lá, a vaca magra ainda deve passear por outras locações, sendo o Minhocão uma das já confirmadas.

Percursos artísticos

Com formação em artes visuais e design gráfico, Márcia Pinheiro já participou de concursos como o Prêmio Design Ceará, o 55º Salão de Abril, e a Mostra Cariri. Além disso, também integrou exposições coletivas, como Arte Contemporânea e Artes Plásticas em Fortaleza – Ceará, 3º Salão Internacional de Artes Visuais e 5ª Bienal Nacional de Gravura-Olho Latino em São Paulo.

Legenda: A artista plástica Marcia Pinheiro iniciou projeto Vacas Magras há dez anos, com o intuito de denunciar o problema da fome e da seca no Brasil
Foto: Yago Albuquerque

Na capital cearense, lugares como o Aeroporto Internacional Pinto Martins, a Praça José de Alencar, o Mercado Central, a área externa do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, o Centro das Tapioqueiras, o Terminal Rodoviário Eng. João Thomé e Casa Cor 2014 receberam as vacas magras ao longo da última década.

O campus da Universidade de Fortaleza também abrigou esta exposição em 2017 e, ainda hoje, uma das obras se encontra no Espaço Cultural da instituição. A intenção da artista é aproveitar os dez anos do início deste projeto para fazê-lo circular ainda mais.