Papai Noel na sala, no quarto e até no banheiro: os cearenses apaixonados pelo Natal

Para eles não é sacrifício deixar a casa toda pronta para a época mais mágica do ano, inspirando gerações de familiares e amigos

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
A enorme árvore de Natal, no meio da sala de Rita Soares, é montada já na primeira quinzena de novembro
Legenda: A enorme árvore de Natal, no meio da sala de Rita Soares, é montada já na primeira quinzena de novembro
Foto: Kid Júnior

Não é apenas vestir a casa de Natal. Quando dona Rita Soares, 84, desencaixa os enfeites para decorar o lar, compensa os anos em que, sem energia elétrica, vivia a data preferida no escuro. “Morava em São Benedito, no interior do Ceará, e nem luzinhas nas praças tinha. Mas eu montava minha árvore, e até colocava algodão nos galhos pra parecer neve”, diz.

Nasceu com o encanto. Por isso mesmo, há mais de 50 anos morando em Fortaleza, no bairro Amadeu Furtado, ela trata de estender a tradição de tornar cada Natal um instante supremo de magia, a começar pelos detalhes. Para onde se olha tem Papai Noel: nas portas e janelas, fixos e pendurados. Junto às louças, roupas e cremes. Até no banheiro. “Eu amo”.

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A preparação começa já na primeira quinzena de novembro, quando recalcula a quantidade de Noéis e estuda onde posicioná-los da melhor forma. A árvore de Natal, claro, também não falta, e é item que parece ter se incorporado à paisagem habitual da residência. Está lá, em tons de verde e dourado, recepcionando quem chega. E chega muita gente.

“Minha família sempre passa o Natal aqui. Dividimos a ceia, fazemos Amigo Secreto. Todos gostam muito, se sentem bem, e já estão acostumados com essa minha paixão pela data”. Já foi até maior, acredite. Dona Rita conta que, se hoje possui em torno de 50 bons velhinhos, já houve tempo em que esse número era ainda mais farto. Quase inacreditável.

Com o crescimento dos netos e a vontade dela de doar os Papais Noéis, a quantidade foi diminuindo. Ainda assim, o vermelho impera na casa, tudo em aconchegante e bela ordem. Sentada ao lado do marido, o aposentado Airton Soares, dona Rita – Ritinha, para os chegados –  recorda de quando ganhou o primeiro Noel. Pareceu ser um sinal.

Legenda: Dona Ritinha guarda até hoje o primeiro Papai Noel que ganhou, da filha
Foto: Kid Júnior

“Foi a minha filha quem me deu, ela ainda era solteira. Faz muito tempo. Antes eu preparava a árvore de Natal de forma muito simples, rústica. Depois dali, resolvi realmente investir nisso, em deixar tudo pronto para o meu momento predileto do ano”, confidencia, enquanto ajeita a botinha já quebrada do velho Noel de brinquedo. Emociona-se.

Tanto quanto se põe a pensar no real significado da festividade. “A importância é porque é o nascimento de Jesus. Ele veio para nos salvar, nos proteger e libertar. O nascimento dele é tudo. Por isso que, apesar de ter muito Papai Noel aqui em casa, o centro é mesmo essa imagem de Cristo na manjedoura. Mais tarde, vou até ajeitar o presépio no jardim”.

Construir memórias

Não cabe tristeza, então, ainda que a memória teime em lembrar. Ao ver todos reunidos durante a Ceia, dona Ritinha revive o Natal com os pais, quando ainda era criança e adolescente. Pensa neles e sente saudade. Talvez seja mais um motivo para que se dedique tanto a deixar cada coisa nos conformes. Além de prazer, é honra.

Legenda: Toda a sorte de Papais Noéis pode ser encontrada na casa de dona Ritinha
Foto: Kid Júnior

“Antes não tinha nada disso, dessas luzes e brilhos. Hoje tudo é lindo e maravilhoso, todos preparados para o nascimento de Jesus. A decoração a gente tira depois do Dia de Reis, em um espacinho que eu deixo reservado. E já se prepara para o que virá depois”.

Legenda: Casa de dona Ritinha e seu Airton é receptáculo do amor, sobretudo no Natal
Foto: Kid Júnior

O movimento entra em sintonia com o advogado e professor universitário Luis Paulo Pontes, 33. A simbologia religiosa também perpassa a realidade natalina dele. “Em razão dos festejos pelo nascimento de Cristo e referência à Sagrada Família, este é um tempo de afeto em família. O Papai Noel representa o lúdico, o encanto das crianças”, situa.

É importante para a construção de memórias afetivas. Desde a infância, o bom velhinho ocupa esse papel na vida de Luis. Por sua vez, a tradição de decorar o lar passou da mãe e da sogra para ele e a esposa. A mãe do cearense, inclusive, os presenteou com um presépio tradicional, e a sogra com bolas natalinas.

Legenda: O lar de Luis Paulo e família também respira o espírito natalino nos mínimos detalhes
Foto: Arquivo pessoal

“E, assim, nós mesmos passamos a decorar em 2021. Todo ano temos um tema: Disney, duendes etc. Daí compramos os enfeites referentes a eles ao longo do ano”. Uma produção que começa em junho. Nesse período, segundo ele, ocorrem feiras de lançamento de enfeites de Natal para os lojistas. Modo de antecipar a pré-venda.

Grupos virtuais natalinos: check

Além disso, pasmem, Luis participa até de grupos de vendas no WhatsApp e assiste a lives de produtos natalinos. Pode imaginar como fica a casa dele: enfeites e enfeites nos mais diversos lugares e cômodos. É feito ingressar em um portal. Se lá fora pode estar escuro e sem brilho, ali dentro se encontra o aconchego.

A família de Luis Paulo Pontes vive intensamente o clima natalino
Legenda: A família de Luis Paulo Pontes vive intensamente o clima natalino
Foto: Acervo Pessoal

“Há um mercado enorme e muita gente interessada no tema. Minha esposa e filho gostam bastante. Vai criando uma antecipação e um senso de Natal”. O roteiro de todo ano é seguido com afinco: vão à missa, fazem a ceia em família, cantam parabéns para Jesus e trocam presentes. Os sorrisos, claro, se multiplicam.

Próximo ano, o plano é cruzar o Atlântico para passar celebrar a data na Europa. Luis, assim, feito dona Ritinha e tantos, selam a força dos laços partilhados – tanto entre os pares quanto entre a comunidade humana. Preparam a casa como quem prepara a vida. Cuidar do visível para que o invisível cresça.

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