Veja o que se sabe sobre as chuvas no Rio Grande do Sul

Cerca de 235 dos 497 municípios são afetados pelos eventos climáticos intensos, que incluem enchentes, rompimento de barragem, entre outros

Escrito por Carol Melo e Agência Brasil ,
Área inundada em Capela de Santana, Rio Grande do Sul. Veja o que se sabe sobre as inundações no Rio Grande do Sul
Legenda: Quase metade dos municípios do estado são atingidos pela tragédia
Foto: CARLOS FABAL / AFP

Fortes chuvas atingem o Rio Grande do Sul desde o início desta semana. Os eventos climáticos intensos fizeram o governo local decretar estado de calamidade pública. Até o início desta manhã de sexta-feira (3), 31 óbitos e 74 desaparecidos foram registrados no território gaúcho.

Segundo a Defesa Civil estadual, 235 dos 497 municípios são afetados pelos fenômenos, que incluem temporais, alagamentos, ventos fortes, descargas elétricas, risco de granizo, rompimento de barragem, elevação do nível de rios e inundações severas

Segundo o boletim desta sexta-feira, mais de 351,6 mil pessoas são impactadas pela tragédia climática. Cerca de 17 mil habitantes estão desalojados, 7,1 mil em abrigos e, até o momento, há 56 feridos
 

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Óbitos e desaparecidos

A Defesa Civil confirmou que as chuvas intensas provocaram a morte de 31 pessoas. Os óbitos foram registrados nos seguintes municípios:

  • Canela (2)
  • Candelária (1)
  • Caxias do Sul (1)
  • Bento Gonçalves (1)
  • Boa Vista do Sul (2)
  • Paverama (2)
  • Pantano Grande (1)
  • Putinga (1)
  • Gramado (4)
  • Itaara (1)
  • Encantado (1)
  • Salvador do Sul (2)
  • Serafina Corrêa (2)
  • Segredo (1)
  • Santa Maria (2)
  • Santa Cruz do Sul (2)
  • São João do Polêsine (1)
  • Silveira Martins (1)
  • Vera Cruz (1)
  • Taquara (2)

Já o número de desaparecidos atingiu a marca de 74 pessoas.

Rompimento parcial de barragem

No início da tarde dessa quinta, a barragem 14 de Julho rompeu parcialmente, em Catiporã. O reservatório pertence a uma usina hidroelétrica, localizada entre o município e Bento Gonçalves.

O governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), confirmou a informação e detalhou que a Defesa Civil atua para retirar os moradores das regiões próximas às margens do Rio das Antas.    

"A gente buscou fazer todo o trabalho possível para evitar o rompimento, mas com o volume d'água não conseguimos ter o acesso nem com os helicópteros para levar os técnicos. Esse rompimento vai ter um efeito de resposta hidrológico, ou seja, de elevação do nível do rio de Taquari e da bacia de Antas-Taquari", detalhou o gestor. 

A orientação da Defesa Civil é de que os moradores de regiões próximas ao rio Taquari, nos municípios de Santa Tereza, de Muçum, de Roca Sales, de Arroio do Meio, de Encantado, de Colinas e de Lajeado, deixem as áreas de risco e procurem abrigos públicos ou outro local de segurança para permanecer durante a elevação do nível do curso d'água.

Inundações severas e enchentes

Conforme os avisos publicados pelo órgão estadual ao longo desta semana, pelo menos nove rios chegaram a registrar algum nível de inundação no território gaúcho. 

Os alertas publicados nesta sexta-feira, com validade de 24 horas, informam que os rios Ibirapuitã, Caí e Jacuí registram "inundação severa". O rio Taquari já estava classificado nesse nível desde quinta-feira. Os rios Gravataí, dos Sinos e Guaíba receberam a classificação de alerta de inundação. 

A orientação da Defesa Civil aos moradores das áreas atingidas pelas enchentes, que incluem o município turístico de Gramado, é de que, "caso seja surpreendido pelo tempo severo, busque abrigo, e não atravesse alagamentos a pé ou, mesmo, de carro". 

"Durante as chuvas, fique em segurança. Retire eletroeletrônicos da tomada durante os temporais, e feche bem portas e janelas", completa a instituição. 

Capital decreta estado de calamidade 

A Prefeitura de Porto Alegre decretou, nessa noite de quinta-feira, estado de calamidade pública. Segundo a Administração, a Capital gaúcha atingiu o nível III do grande de intensidade de classificação de desastres.

"Estamos atuantes de forma ininterrupta em toda a cidade, mas pedimos atenção especial da população do Centro Histórico e 4º Distrito. Evitem deslocamentos. O Guaíba está avançando e, apesar do fechamento das comportas do Cais Mauá, há a possibilidade de alagamentos nesta área", disse o prefeito Sebastião Melo (MDB).

Falta de luz, água e internet

Em relação à infraestrutura, o Rio Grande do Sul tem 280 mil pontos sem energia elétrica, 304 mil clientes sem abastecimento de água, além de dezenas de municípios parcialmente ou sem serviços de telefonia e de internet, conforme o boletim da Defesa Civil desta sexta. 

As chuvas que atingem o estado provocam danos e alterações no tráfego nas rodovias estaduais gaúchas. Cerca de 154 trechos em 68 rodovias registram com bloqueios totais e parciais, entre estradas e pontes.

O que causa as chuvas no RS?

Em entrevista à TV Brasil, o meteorologista e coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi, explica que os temporais que atingem o Estado são resultados da junção de diversos fatores. Segundo ele, a onda de calor localizada na região central do Brasil com alta pressão atmosférica leva à formação de ar seco e quente, que acaba por bloquear a passagem das frentes frias para o norte do país.

"Essas frentes frias vêm da Argentina, chegam rapidamente na Região Sul e não conseguem avançar. Temos uma sucessão de frentes [frias] que se tornaram estacionárias e estão mantendo as chuvas durante vários dias."
Marcelo Seluchi,
Coordenador-geral de Operação e Modelagem do Cemaden

O especialista não descarta ainda que as chuvas sejam reflexo do El Niño, que está em etapa final, e indiretamente das mudanças climáticas, já que a atmosfera e os oceanos estão mais quentes, produzindo vapor adicional para formação das chuvas. 

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