Nova geração: crianças e adolescentes estão engajados no ativismo social, político e ambiental

Agindo como pessoas mimadas e egoístas, seus pais e avós estragaram e continuam estragando o planeta em que elas vão viver

Escrito por Ana Miranda , verso@svm.com.br

Outro dia, vi entrarem numa loja uma senhora e sua neta. A senhora foi diretamente ao balcão. A menina parou à entrada, limpou os sapatos no capacho e entrou. Um detalhe significativo. A todo instante tenho visto crianças com um comportamento mais sociável, ou mais sustentável. Mais atento e respeitoso. São as Novas Crianças.

Papai, não beba ao dirigir! Mamãe, separe o lixo! Vovô, feche a torneira quando escovar os dentes. Vovó, não é certo comer os bichos! Adultos, vocês não têm o direito de destruir nosso planeta. Escutamos frases como essas, ditas por crianças ou adolescentes.

Estão surgindo a cada dia mais crianças conscientes, e isso não sei se vem da escola, da internet, da intuição, do instinto de sobrevivência, ou do mundo, mesmo, como um todo. Uma consciência latente dos males causados por nós. "Vocês traíram nossa geração", reclamou a ativista sueca adolescente, Greta Thunberg.

Muitas pessoas se sentem perturbadas pelas ameaças e crimes que a humanidade tem perpetrado contra o planeta. Isso afeta mesmo as crianças. Essas crianças sabem que vão herdar um mundo exaurido. Elas têm noção das ameaças, imaginam o que vão sofrer, e apontam os verdadeiros culpados: os adultos.

Agindo como pessoas mimadas e egoístas, seus pais e avós estragaram e continuam estragando o planeta em que elas vão viver; fazem só o que querem, sem se preocupar com as consequências nem mesmo para seus próprios descendentes. E mentem.

"É isto que os meninos e meninas estão fazendo, estão dizendo ao mundo que os adultos falsificam uma narrativa sobre o mundo, e eles não querem. Eles dizem: os adultos traíram nossa geração, as autoridades mentiram." São palavras do líder Ailton Krenak.

Essas crianças não atuam apenas no cotidiano de nossas casas, escolas, cidades. Nasce uma nova geração de crianças e adolescentes líderes ativistas preocupados com problemas sociais, políticos e ambientais - e parecem estar perfeitamente preparados para fazer algo a respeito. Emitem mensagens poderosas, amplificadas por sua energia juvenil e por uma crença inabalável de que elas podem melhorar o próprio futuro, e o futuro da Terra.

Há crianças que lutam contra a pobreza e a fome no mundo, contra a destruição do clima, contra o trabalho infantil, contra casamentos forçados de meninas. Formam e coordenam hortas para alimentar pessoas carentes, lutam pela educação para meninas nos países onde meninas não podem estudar, lutam pelos Objetivos do Milênio.

Fazem campanhas fortíssimas contra armas de fogo, pelo direito universal à água potável, contra o junk food e os venenos no alimento. Lutam a fim de cavar poços d'água para crianças em aldeias pobres, para doação de cadeiras de rodas, ou de óculos, contra os maus tratos aos animais. Lutam pela paz. Lutam contra tudo aquilo que fizemos de errado.

Concentram sua pressão sobre entidades públicas de cada país, sobre as grandes corporações, sobre os poluidores, tentam interromper a destruição e o sofrimento humano. Seus movimentos mobilizam milhões de crianças e adolescentes, e adultos, em mais de cem países. Paralisam escolas, mudam leis. Gritam. Conclamam. E fazem com que suas vozes sejam ouvidas. Não têm mais tempo para cantigas de roda.

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