Mesmo com reabertura de teatros no Ceará, volta plena de espetáculos cênicos pode demorar

Segurança de trabalhadores e trabalhadoras do setor, bem como a readequação dos espaços aos protocolos sanitários devem exigir custos e atenção redobrada nos próximos meses

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
fachada do theatro josé de alencar
Legenda: Theatro José de Alencar já está com atividades presenciais administrativas, gravações de espetáculos para transmissão online, visitas guiadas e algumas atividades de formação
Foto: Saulo Roberto

A partir desta segunda-feira (26), os teatros do Ceará podem reabrir para o público presencial. Segundo anúncio do governador Camilo Santana (PT), nesta sexta-feira (23) a abertura destes espaços precisará respeitar os mesmos protocolos das salas de cinema. Detalhes devem ser indicados em decreto estadual a ser publicado até este sábado (24).

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Representantes da área receberam a notícia com um misto de cautela e ansiedade. Mesmo com plateias liberadas, a tendência é de que espetáculos e montagens levem algum tempo para voltar plenamente. Diferentemente de uma sessão de cinema, a realização de uma peça teatral exige demandas bem mais complexas.

“Não é só na hora da exibição da peça que o teatro acontece”, observa o ator e produtor Nelson Albuquerque, integrante do Grupo Pavilhão da Magnólia. "Você passa pelo menos um dia antes montando o trabalho. Tem o elenco, os técnicos do teatro… Os protocolos têm um custo, não é só voltar", reflete.

Quase 18 meses depois do início da pandemia da Covid-19, o meio cultural continua como um dos mais afetados pela recessão econômica. Com garra e resistência, companhias, grupos, trupes, atrizes e atores adaptaram seus trabalhos para os meios virtuais. Além do tema segurança, atuar com público requer novo planejamento. 

Segurança do elenco

O ator, dramaturgo e doutorando em Artes da Cena, Altemar di Monteiro, comenta que ainda é muito cedo para prever os próximos passos do setor. “O teatro se faz com uma equipe imensa”, compartilha. 

Diretor do Nóis de Teatro, grupo com 19 anos de atuação no Grande Bom Jardim, e referência nacional na arte desenvolvida na periferia, Monteiro detalha que ensaios e preparação de uma peça carecem de um longo tempo.  

“Como trabalhamos com o teatro de rua, nossas dificuldades de produção são muito maiores. Estamos preparando trabalho para agosto, temporada toda online”, situa.

Outro ponto de reflexão é a própria saúde do elenco: “Não sabemos se é uma boa hora. Nosso grupo só tomou a primeira dose (da vacina contra a Covid-19), e só pensamos em voltar depois que toda a equipe tiver a segunda”, avalia. 

Teatros preparados? 

Os grupos teatrais Pavilhão da Magnólia e Companhia Prisma de Artes dividem a manutenção da Casa Absurda. Além de território do teatro, o local se destaca por ser um multiespaço dedicado às artes em Fortaleza.

Nelson Albuquerque reflete que atender os protocolos sanitários acarreta alta dos custos de manutenção do lugar. A previsão é organizar atividades mais intimistas e voltadas apenas a convidados e parceiros da Casa. É uma estratégia para entender como propiciar a volta com segurança. 

O cenário é nebuloso até mesmo por conta de qualquer previsão acerca das condições financeiras do público.

“Estamos lutando no virtual, mas temos o imenso desejo de voltar a trabalhar no ofício de fato, com a presença da plateia. Música, dança e o teatro são artes da presença”.
Nelson Albuquerque
Ator e produtor, integrante do Grupo Pavilhão da Magnólia

Governo avalia

Em nota, a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará) explica que organiza, junto ao Instituto Dragão do Mar, o plano de retomada gradual de reabertura dos teatros administrados pelo Estado.

"Cada equipamento terá seu próprio plano de retomada, por apresentarem características distintas, tanto relacionadas às atividades previstas a serem realizadas em seus espaços, quanto pela capacidade de público", descreve a gestão. 

Segundo dados da Secult, o Cineteatro São Luiz retomou atividades presenciais de cinema. São 44 lugares (1 pessoa para cada 7 metros quadrados), segundo o autorizado no decreto em vigor. A partir do novo decreto, que deve ser publicado no Diário Oficial do Estado, o equipamento poderá receber programações presenciais nas outras linguagens.

"O Theatro José de Alencar, por sua vez, já estava com atividades presenciais administrativas, gravações de espetáculos para transmissão online, visitas guiadas e algumas atividades de formação. O TJA, vale lembrar, tem espaços abertos, como o jardim ou o próprio anexo, em que são realizadas atividades. Por isso a importância de detalhar os protocolos setoriais para cada equipamento cultural", finaliza o comunicado da pasta.

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