Livros infantis cearenses para você conhecer e se encantar no Dia das Crianças e além
Escritas tanto por veteranos quanto pelas próprias crianças, histórias estimulam novas percepções sobre a realidade e são boa pedida para as horas de lazer e diversão
Quem são as pessoas que escrevem literatura infantil no Ceará? No mês dedicado aos pequenos, o Verso preparou uma lista para você conhecer alguns nomes e ir além da data. O foco é a produção de histórias feita por quem tem maior ou menor idade.
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A partir de temas diversos e alinhados com a originalidade de nossa terra, os títulos vão da ficção à não-ficção, com personagens reais ou imaginários, em prosa e em verso. Ilustrações e outros recursos dão conta de ampliar a beleza e prometem encantar a todos. Confira:
Davi Moura
Comecemos por um talentosíssimo representante da nova safra de poetas. Davi Moura tem 10 anos de idade e passou a escrever aos sete. “Meu Mundo de Poesias” é o livro publicado por ele no ano passado, com poemas sobre sustentabilidade – tema caro ao autor. Belezas do Ceará e reflexão sobre povos originários são algumas das abordagens.
No total, já são mais de 60 textos escritos por Davi. A obra lançada por ele foi produzida artesanalmente, com materiais recicláveis e costurada à mão. Tudo a partir da ajuda da mãe, Meire Moura, e com ilustrações de Clara Martins. “Brinco que mirei no cordel e acertei na poesia”, conta o pimpolho. “Cordel tem métrica, e eu não tinha descoberto isso ainda”.
De todo modo, agora ele já está escrevendo neste último gênero textual, motivo de alegria. O próximo trabalho é “Conexões Norte e Nordeste”, com referências e homenagem a Rachel de Queiroz e Chico Mendes. Estudante da escolinha Yolanda Queiroz, Davi destaca: “Minha Filosofia é: como vou conseguir fazer com que a leitura esteja na vivência das crianças?”
Janayde Gonçalves
Educadora desde 2008, Janayde Gonçalves é jornalista e mãe de Amir. Filha de pais comerciantes de livros, consumiu muita literatura infantil desde a infância. Hoje, aos 40, propôs à editora fortalezense VDV a produção de obras que falem sobre a questão da introdução alimentar para pais e crianças de até cinco anos. São seis livros no total.
“Purê, purê” é um deles. A publicação brinca com as palavras ao versar sobre introdução alimentar, embora não apenas. “É também uma introdução textual, ao mundo da leitura. Por isso brincamos muito com a sonoridade; com a origem da palavra purê – que vem do francês; e vamos até à brincadeira da ‘batatinha quando nasce’”, explica a escritora.
“O avião da vovó Juju”, por sua vez, conta a história de uma avó que introduz a alimentação ao neto por meio de um avião. Segundo Janayde, a vovó amorosa consegue fazer milagres com esse instrumento. Além dessas duas obras, ilustradas por Alessandra Cavalcanti, ainda tem “Amei Ameixa”, “Coça, coça”, “A puxada de rede” e “A sardinha prateada”.
Lis e Bê
Uma duplinha de pouca idade está movimentando o mercado editorial. Lis Maria e Bê Alencar, de sete e seis anos, respectivamente, lançaram neste ano “Lis e suas sapatilhas mágicas” pela editora cearense Casa de Memória. A obra conta a história de uma bailarina que sonhava com sapatilhas rosa neon.
Na ficção, Lis, a autora, aflora a criatividade a partir da parceria com o amigo, Bê. O trabalho é o primeiro da literatura cearense totalmente realizado por duas crianças. “Escrevi o livro porque tinha muitas ideias e eu queria que as crianças soubessem da minha imaginação”, partilha a pequena, que antecede o próximo projeto: o livro “Receitas em família”.
Já Bernardo expressa toda a satisfação por integrar a empreitada. "Eu amei muito ilustrar esse livro, fiquei muito alegre. Me encontrei com a Lis e a gente ficou muito amigos. Esse foi meu primeiro trabalho e, se surgirem mais, eu vou amar sempre, até porque eu amo desenhar".
Luci Sacoleira
Cearense com atuação em Artes Visuais desde 2011, Luci Sacoleira é outra ótima opção para a criançada. Quando pequena, a artista passava férias no sertão. Por isso mesmo, traz na memória os sons, cheiros e calor desse tempo. Um dos livros dela é “lengalenga”, o qual investe em humor e poética visual inovadora.
No universo da obra, a palavra “Não!” é encarada como conquista da liberdade por parte das crianças – em contraste com o uso feito pelos adultos. Então, a cada lengalenga repleto de “não, não, não quero não”, os pequenos resistem ao fim da brincadeira e ganham tempo no possível e impossível da imaginação.
Enquanto a água do chuveiro cai sobre cabeças cheias de teimosia, existe um momento no qual as bolhas de sabão flutuam e reluzem a poesia e genialidade do universo particular da infância. É lindo, delicado e altamente recomendado.
Luizete Vicente
Com “Ayo: a menina que criou o mundo”, a jornalista Luizete Vicente debate questões de raça e gênero. O livro narra as aventuras da personagem-título, garota esperta e questionadora que deseja mudar as regras impostas pela sociedade.
Nas páginas, ela aprenderá sobre mecânica; o conto de Ifá, o adivinho; e sobre diversos outros saberes que mudarão o rumo da vida. Não à toa, ela cria um mundo no qual cabem os anseios da infância. A jornada de Ayo é contada por um narrador misterioso que utiliza dos elementos da cultura africana para falar sobre a trajetória da menina.
Além de jornalista e escritora, Luizete é diretora do filme “Os Cabelos de Yami” e idealizadora do jogo de cartas "Siará: histórias de luta”, demonstrando o pendor para desenvolver projetos que dialoguem com diversidade e nossas raízes mais profundas.
Marília Lovatel
Com mais de uma década de dedicação à formação de leitores, Marília Lovatel é outro bom nome quando o assunto é literatura infantil. “Pequenas crônicas voadoras”, com ilustrações de Meg Banhos, é o título mais recente dela. A obra traz textos curtos e em livre voo da imaginação, porém ligados à realidade por um fio resistente aos rodopios em céu aberto.
Ora de acordo com a natureza da crônica, ora com a estrutura subvertida em desdobramentos da criação literária, incluindo a “não-crônica”, a escrita busca se equilibrar no vento. Ler sobre os temas do cotidiano emociona e encanta tanto quanto ver uma pipa riscando o ar. As palavras no livro são brinquedos celestes, com desejo de ganhar as alturas.
“Venho publicando livros desde 2012. E, nesses 12 anos, constatei que o meu desejo não é escrever para crianças, é ser lida também pelas crianças. Porque a experiência de ler é tão subjetiva, particular, única, que eu defendo firmemente a escrita sem endereço prévio, sem direcionamento de faixa etária, cabendo ao leitor essa decisão se o livro é para ele ou não”, diz a escritora, com outras várias publicações no mesmo segmento.
Nina Rizzi
Apresentar às crianças a história da icônica Elza Soares pode ficar bem mais atraente por meio de “Elza - A voz do milênio”. Escrita por Nina Rizzi, a biografia – lançada em setembro do ano passado na Bienal do Livro do Rio de Janeiro e, desde a data, em vários outros eventos – é para pequenos e grandes, de hoje e de amanhã.
“Na obra está exposta a vida da maioria das pessoas do nosso país – pessoas negras, pobres, que passam por diversas dificuldades e que, no entanto, assim como Elza, fazem a vida acontecer, inspiram os seus, inspiram até quem não conhece. Fazem beleza, são uma ponta de lança pro futuro. É um livro bem afrofuturista mesmo”, descreve a autora.
Segundo ela, diante dos imensos desafios que Elza passou durante a vida, foi desafiador construir uma narrativa acessível para crianças. No entanto, Nina acredita que, por meio de um cuidadoso trabalho literário, é possível que os pequenos estejam preparados para ouvir e saber de tudo. “O livro nos dá uma pessoa de verdade, que existiu. Uma pessoa viva”.
Paola Tôrres
“Tuiupé e o Maracá Mágico” é o mais recente livro da médica, escritora e cordelista Paola Tôrres. Publicada pela pela Companhia das Letrinhas, a obra conquistou o terceiro lugar em vendas na Bienal de São Paulo 2024, e não à toa. A obra é fruto da parceria com Auritha Tabajara e transporta leitores para a mágica floresta brasileira.
Lá, Tuiupé, uma jovem indígena, aprende sobre os segredos da cura e a se conectar com a natureza. Repleta de versos em cordel, a narrativa evidencia o estilo das autoras e celebra as tradições dos povos originários por meio de cativantes personagens, a exemplo do pajé Saracura, pai de Tuiupé, e a sábia avó, Yacunã.
Além disso, o trabalho revela a importância do maracá sagrado e o poder de cura dele, promovendo uma reflexão sobre a preservação cultural e a proteção da natureza, tão necessária nos dias de hoje. As páginas são ilustradas por Tai, encantando crianças e ressoando profundamente com adultos que buscam uma leitura rica em significado e beleza.
Stênio Gardel
Mais conhecido pelo belo e delicado “A palavra que resta”, Stênio Gardel lança-se na literatura infantil por meio de “Bento Vento Tempo”, publicado pela Companhia das Letrinhas. É a história de um neto que quer ajudar o avô a recuperar a memória.
Numa bicicleta amarela, eles vão à feira da cidade para fotopintar um retrato na esperança de que a nova imagem faça renascer as lembranças do Vô Cacá. De acordo com o autor, o livro – ilustrado por Nelson Cruz – surgiu das três palavras do título junto a uma antiga ideia sobre a relação de um neto com um avô que perde as memórias aos poucos.
Foi algo que Stênio viveu com o próprio avô, também apelidado de Cacá. “Escolhi o cordel como um desafio de escrever numa forma diferente. Acho que o livro pode alcançar os sentimentos e as lembranças de muitas pessoas que já passaram por uma experiência parecida à contada na aventura do Bento e Vô Cacá. Além disso, espero que as rimas e os versos possam ser um atrativo para a leitura”.
Tino Freitas
Por fim, um dos maiores nomes do segmento no Ceará e no Brasil. Tino Freitas é escritor, músico, jornalista, especialista em literatura infantil, contador de histórias e mediador de leitura. Com mais de 40 livros publicados e coleção de prêmios, prioriza nas obras o humor, a crítica social e o experimento com o suporte (papel/folha/livro-objeto).
Entre os títulos publicados, estão “Se os monstros falassem português”, “Gabi de bigode”, “Portas”, “Mamãe, coragem”, “Vovolindô e o sumiço das rosquinhas”, “Não sei desenhar camelos”, entre outros. Em texto de José Rezende Júnior, está um pouco de como a vida do escritor reflete a obra.
“A literatura de Tino Freitas vai muito além da simples brincadeira, embora brincar também seja preciso. (...) Em muitos de seus livros, porém, as questões sociais saltam das páginas. Ou às vezes nem saltam, ficam lá escondidinhas para quem souber ler. Para Tino, uma das funções de quem produz literatura é, antes de tudo, contar uma boa história, que lide com o que é humano dentro de cada leitor”.